TRINTA E TRÊS

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─ Como eu pude nunca perceber?! ─ A menina loira guinchou por entre os lábios que tremiam copiosamente a cada segundo que ela tentava segurar o choro. ─ Como eu fui cega! Estava aqui, não estava? Estava óbvio o tempo todo!

Deixar o choro rolar pelo rosto não parecia adequado para Mabel. Ela queria ter coragem de ir até os dois e batê-los descontando toda a raiva que sentia, mas não se achava tão corajosa e destemida. Seu perfil era o de se esconder, de fugir. No entanto, isso também não fez.

Apenas olhou de um para o outro e tentou encontrar dentro da própria cabeça o que havia feito de tão mal para eles para que pudessem partir seu coração daquela maneira tão vil e injusta.

Entanto, nada parecia justificar a traição dupla que sofrera.

─ Mabel, você precisa se acalmar...

─ Eu preciso me acalmar, Ruggero? – Chiou. ─ Mas para quê? Para ouvir uma explicação chula dos dois? E-eu... Eu não entendo... Karol, logo você? Você?!

Karol sentiu as pernas fraquejarem e todo o corpo ficar sem forças também. Queria ter uma coisa para dizer, algo que amenizasse a culpa que sentia, mas não encontrou nada, sequer achou que seria justo inventar algo.

Mabel merecia sua sinceridade, mas como poderia explicar tudo do começo?

Aliás, duvidava que a amiga chegasse a acreditar.

─ A Karol não tem nada a ver com isso. ─ Ruggero se colocou no caminho entre as duas, deixando Karol logo atrás de si. ─ Eu fui quem estive com você esse tempo inteiro. Mas de todo modo já terminou, Mabel. Tudo terminou.

Chorosa, Mabel esfregou o rosto até doer.

Ela havia se arrumado para vê-lo. Os cabelos estavam perfeitamente ondulados, um vestido rosado cobria seu corpo e por cima dele havia um casaco delicado que provavelmente não aplacava o frio, mas a deixava com uma aparência serena e quase angelical.

Porém, em seus belos olhos azuis só havia um vazio aberto pela tristeza.

Nada mais parecia importar.

De algum ponto de sua mente angustiada se alegrou por ter tomado os calmantes antes de sair de casa. Queria parecer tranquila para ele, queria conseguir conter as lágrimas caso viessem a brigar; mas no fundo o remédio serviu mesmo para impedi-la de começar a gritar como uma desvairada e cometer um ato que sem dúvida iria se arrepender depois.

Só que estar anestesiada naquela situação não impediu que seu coração doesse.

E doía muito.

─ Você terminou ontem comigo e já está com ela hoje? Que tipo de sentimento você tinha por mim, Ruggero? O que sentia quando me beijava? Por algum momento foi sincero? ─ Indagou dando alguns passos até ele. ─ Teve alguma vez em que o que você me disse foi verdade?

─ Eu nunca menti, Mabel.

─ Você fez pior. Você me traiu com a minha melhor amiga! Com a minha única amiga! COMO PÔDE?! COMO?!

Levantou a mão para batê-lo, e Ruggero até achou que merecia, mas ela acabou desistindo antes de atingi-lo.
Não conseguia machucá-lo, apesar de como ele a tinha ferido.

Aos poucos a menina recolheu os dedos e abaixou o braço, soltando um grunhido de dor, quase desabando de tanta frustração. Sua cabeça girava, a voz de seu pai repetia várias vezes as frases que já lhe dissera antes sobre ser burra e idiota, sobre como Ruggero só a queria enganar.

Ele tinha razão, Mabel pensou.

─ Mabel... ─ Karol murmurou saindo de trás de Ruggero. Precisava ser sincera também. Tinha a obrigação de olhá-la nos olhos. ─ Mabel, por favor, vamos conversar nós duas. Há uma explicação...

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora