VINTE E QUATRO

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Agustín estava com um sorriso de orelha a orelha quando Karol chegou em casa.

A menina descartou a mochila no canto da parede e se sentou no sofá, arrancando as botas pesadas, mas sem tirar os olhos do rapaz alegre que digitava avidamente no notebook, quase sem notá-la ali.

─ O Pietro acabou de sair do colégio, não acredito que já estão conversando pela internet. ─ Ela alfinetou em tom de gracejo.

Erguendo a cabeça ligeiramente, Agustín torceu o canto da boca numa careta, contudo, não parecia nem um pouco irritado.

─ Apesar da sua indireta muito direta sobre a minha suposta vida amorosa, você está errada, bonitinha, porque estou falando aqui com o dono daquela lanchonete azul que fica perto da sua escola, sabe qual é?

Karol se recostou no sofá enquanto arrancava as meias.

─ A lanchonete do Seu Valdo?

─ Essa mesma! ─ Agustín retrucou. ─ Hoje cedo o Pietro me mandou um banner que o dono da lanchonete postou no instagram e lá ele estava oferecendo um pagamento bem razoável para que alguém consertasse os dois computadores da administração e fizesse uma organização de leve em algumas planilhas. Então eu falei com ele imediatamente e adivinha?! Isso mesmo, fui contratado!

O sorriso no rosto do pequeno anjo foi enorme e ela nem pôde se conter; Karol se levantou rapidamente e foi abraçá-lo, dando-lhe dois beijos nas bochechas, apesar de Agustín reclamar.

Quando se desvencilhou dele, voltou a se sentar.

─ Sabe de uma coisa? Estou muito orgulhosa de você. De verdade. Talvez pareça pouco agora, já que é um trabalho temporário, mas pensa só, é um inicio. Se o Seu Valdo gostar do seu trabalho, vai que ele te contrata por mais tempo? Isso é muito legal, Agus.

O garoto não podia discordar.

Apesar de sempre ter levado a vida de uma maneira bem caótica, Agustín se via extremamente animado com a possibilidade de fazer algo correto, sem precisar ter medo de ser descoberto ou denunciado por alguém.

Era um serviço honesto e que lhe fazia sentir digno.

E por mais estranho e careta que pudesse parecer para o Agustín de meses atrás, o Agustín de hoje em dia se alegra bastante com isso.

─ Bom, de todo modo, para comemorar, você e o Raziel vão comigo. Vocês ficam lá na lanchonete comendo algo até eu acabar. ─ Comentou desligando o notebook. ─ E, claro, aproveito e fico de olho nos dois.

Karol enrugou o canto do nariz.

─ Somos adultos, Agustín. Talvez o Ziel não pareça, mas ele é.

─ Mas para o resto da população de Porto de Pedras vocês são menores de idade. E se me denunciarem, aí sim, eu não vou ter saída. Não vou dar esse mole, Karol, portanto, você e o pirralho vão comigo para onde eu for.

─ Isso não é justo! Estou cheia de atividades da escola para fazer... Sabe de uma coisa? Eu nem preciso estudar! Mas cá estou eu com a mente fervendo por causa das provas que estão chegando! ─ Karol guinchou.

Raziel, saindo de dentro do quarto com um prato na mão e um pedaço de pão na boca, adentrou a sala após ouvir a conversa.

Agustín já havia lhe contado a novidade, e apesar do garotinho dizer que preferia ficar em casa, não foi ouvido.
Infelizmente se via obrigado a obedecer, pois sem suas forças de sempre, não era páreo para Agustín que poderia carregá-lo com um braço só.

E ele não queria ser carregado por aí.

─ Já desisti de lutar. ─ Raziel comentou passando para deixar o prato na pia, engolindo o resto do pão de uma vez. ─ Ele cismou que é nosso irmão mais velho mesmo, Karol.

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