QUARENTA E TRÊS

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O fim da tarde ia se formando no horizonte quando Karol e Ruggero foram até o jardim da casa de Pietro. Ela havia ido da escola direto para a casa do amigo, a fim de ficar mais tempo com o namorado e debater o ocorrido com Mabel, muito embora eles soubessem que não tinha muito a ser feito a não ser esperar alguma noticia.

─ Eu nunca vou me esquecer daquela cena. ─ Karol comentou baixinho, aninhada entre as pernas de Ruggero, com as costas apoiadas no peito do namorado que a abraçava, descansando o queixo sobre o ombro dela. ─ O modo como ela estava descontrolada, nervosa, gritando... Não sei, Ruggero, mas algo me diz que há alguma coisa muito maior por trás disso.

O rapaz respirou fundo, apertando-a mais contra si.

─ E se a Mabel estiver mesmo fazendo uso desses remédios?

─ De toda forma, você acha que ela roubaria? Isso parece absurdo, ainda mais porque ela tem dinheiro. E se ela for mesmo viciada, com certeza acharia uma maneira de adquirir os remédios que precisa.

─ É, você tem razão. Nem sei por que levantei essa hipótese, porque nem eu acredito nisso. ─ Ele disse com um suspiro resignado. ─ Você acha que isso pode ser algo relacionado a...

─ A Voz? Não duvido. Você duvida? Sinceramente, eu acredito que cada vez mais esse cerco vai se fechar. E, numa boa, começo a pensar que talvez se a Mabel for afastada da escola e da cidade, vai ser melhor. Quanto mais longe ela estiver de nós, mais estará protegida.

─ E se a mantiverem detida? Achei o diretor muito convencido.

─ Do jeito que o pai dela é rico e poderoso por aqui, eu duvido que ele permita que a filha fique presa ou que seja mandada para alguma casa de jovens infratores. Sem dúvida ele pagará o suficiente para que a Mabel saia dessa situação com a ficha limpa, por mais que ela já seja inocente. ─ Karol contrapôs. ─ E é só por isso que estou relativamente tranquila, porque sei que por esse lado, o dinheiro pode salvá-la de algo muito pior.

─ E com certeza depois desse escândalo o doutor Oswaldo não permitirá que ela fique na cidade.

─ Ah isso sem dúvida! Ele vai mandá-la para bem longe.

─ Não é ruim, ? ─ Ele ponderou. ─ Do jeito que as coisas estão, Porto de Pedras não é seguro para ninguém que esteja envolvido nessa história de vidas passadas.

Karol assentiu, depois virou o rosto, fitando o namorado.

─ Talvez isso sirva para você também.

─ Pra mim? Como assim?

─ Ir embora. ─ Disse simplesmente. ─ Fugir. Ainda há tempo. Se a voz se convencer de que não estamos juntos, não terá nada para me chantagear. Ela ou ele, sei lá, se segura no fato de que tenho sentimentos por você e pela Mabel. E, tudo bem, ficar longe não vai querer dizer que eu deixarei de gostar de vocês, mas quebrará e muito as forças e as razões desse demônio que fica me perseguindo e a voz será obrigada a se voltar apenas contra mim.

Ruggero impulsionou o corpo ligeiramente para trás, franzindo o cenho.

─ Está sugerindo que nos separemos?

─ Ruggero, é para a sua segurança.

─ E em que mundo me separar de você é uma opção? Não! Eu não vou a lugar nenhum! Estarei onde você estiver. E se isso quiser dizer que uma voz maldita irá me perseguir, ótimo! Que ela venha. Eu estou pronto. Mas jamais estarei pronto para deixar você.

Karol aquiesceu, virando-se pra ele.

─ Porque você tem que ser tão teimoso? Poxa! Eu estou tentando te salvar!

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora