QUARENTA

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Três dias se passaram lentamente desde que Ruggero passou por toda aquela turbulência e tudo o que ele mais queria era ir para casa. Odiava estar em um hospital, pois lhe lembrava todos os piores momentos de sua vida. Primeiro, a morte da mãe, depois seu acidente com o pai no qual ambos quase morreram... A única parte boa em se lembrar desse dia, para ele, era saber que foi por causa disso que Karol cruzou o seu caminho.

No entanto, já estava mais do que pronto para voltar à rotina, e por causa de seus apelos insistentes, a doutora lhe prometeu que lhe daria alta ainda aquele dia, no entanto, ele teria que se cuidar muito, pois ainda estava com muitos arranhões e hematomas pelo corpo, além de estar cheio de pontos na lateral da barriga, ou seja, precisaria voltar dali poucos dias para avaliar a situação e ver se já podia retirar as suturas e, para isso, necessitaria de muito repouso e cuidados.

Ele concordou com tudo. O importante era ir embora.

E enquanto aguardava para ser liberado, bateram-lhe à porta. Por um momento ele só pensou em Karol, afinal a menina ia vê-lo a todo o momento em que podia. Ele até tinha recebido visitas do Pietro, Agustín e, pelo o que soube, Mabel também chegou a ir, mas o pai lhe proibiu. Ruggero não entendeu muito bem quando a enfermeira lhe explicou a situação, mas aparentemente o diretor não queria a filha no hospital de modo algum.

As únicas pessoas que disseram que iam vê-lo, mas não foram até então, haviam sido Juan e Alfonso. Eles sim, seus amigos, não compareceram.

Até aquele momento...

Ruggero estava sentado com metade do corpo coberto pelo lençol azul hospitalar quando mandou que entrassem. Primeiro Juan apareceu em seu campo de visão. O garoto não sorria como sempre. Na verdade, parecia um pouco hesitante. Depois foi a vez de Alfonso e, por fim, Breno. Pelo último Ruggero ficou surpreso, pois pensou que ele ainda estava na competição de natação fora da cidade.

Os três entraram e fecharam a porta.

Não disseram nada no primeiro momento. Breno se encostou perto da janela e cruzou os braços, Juan ficou ao pé da cama, acenando para Ruggero com uns movimentos discretos de cabeça. Apenas Alfonso puxou uma cadeira e se sentou perto da maca, perguntando como Ruggero se sentia.

─ Se não morri dessa vez, não morro mais. ─ O rapaz operado brincou.

Apenas Juan e Alfonso riram, mesmo que não fosse um riso espalhafatoso como sempre.

─ A gente pensou que esse bagulho todo que tinha acontecido ia te matar. Na boa, Ruggero, foi uma loucura. ─ Alfonso pontuou.

Ruggero assentiu.

─ O importante é que já passou.

─ Não dá para saber se passou mesmo. Parece que a cidade está dentro de um inferno agora. ─ Breno comentou do outro lado do quarto, observando a garoa que caia do lado de fora através da janela. ─ As coisas estão esquisitas.

─ Esquisitas? Como assim?

Juan pigarreou e foi se sentar na beirada do colchão, perto dos pés do amigo.

─ A gente está vindo de um velório. ─ Explicou o ruivo e só então Ruggero se deu conta de que os três estavam vestidos de preto. ─ E eu não gosto de ir nessas coisas, você sabe, mas os nossos pais obrigaram. Detesto essas merdas de etiquetas sociais.

─ Velório? Velório de quem?!

Alfonso se endireitou na cadeira e cruzou os braços.

─ Da diretora. ─ Disse para o total choque de Ruggero. ─ Eu acho que a Karol não te contou por causa do seu estado, mas já tem uns dois dias que a encontraram morta na sala dela. Hoje foi o velório. A cidade inteira compareceu e é por isso que o Breno voltou. Não tinha como permanecer na competição representando a nossa escola se a diretora estava morta.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora