TRINTA E UM

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Karol parou perto da parede no fim do corredor que desembocava na sala. Vestida com a roupa que veio da casa de Pietro, ela sentiu a necessidade de abraçar o próprio corpo para não sentir tanto frio, afinal uma chuva forte caia do lado de fora, levando para dentro da casa de Ruggero um ar gélido que percorria cada cômodo.

Ela abriu um sorriso encantado ao ouvir o som de pratos e talheres colidindo; sem pensar muito, foi até a cozinha, parando rente ao batente, observando Ruggero sacudir a cabeça no ritmo de uma música em inglês que tocava no rádio que estava em cima da mesa.

Ele parecia concentrado enquanto checava a água fervendo na boca de trás do fogão e virava a omelete na assadeira antes que começasse a grudar e se desmanchar inteira.

Por um momento Karol desejou ter um celular para fotografar aquilo.

Gostaria de nunca se esquecer daquela cena.

─ Se eu disser que você dorme como um anjo estarei sendo redundante? ─ Ruggero perguntou, dando-se conta de que ela estava ali.

Vestido apenas com a calça moletom da noite anterior, o rapaz parecia ainda mais atraente para a garota.

E quando ele se virou para pegar um pano de prato na pia, ela percebeu os arranhões na pele dele.

Arranhões bem visíveis.

─ Acho que eu deveria contar que os anjos não dormem.

Ruggero parou, virando-se para ela.

─ Nunca?

─ Jamais. ─ Deu de ombros. ─ Nossa energia vital advém das boas ações que fazemos, da alegria que semeamos e colhemos, do trabalho árduo e de muita oração. Então, dormir nunca foi necessário.

Ele girou os botões do fogão, desligando as duas bocas acesas.

─ E... Vocês comem? ─ Apontou para a omelete.

Karol ficou na ponta dos pés e fitou a comida que tinha um cheiro incrível.

─ Eu sou só um anjo caído, meu caro. Comer é algo que eu preciso para continuar firme e forte já que não tenho mais a proteção divina.

─ Então... Quero dizer, desculpa. É que tudo isso ainda é bem...

─ Fique tranquilo. Eu entendo. Você ainda está assimilando tudo.

─ É bastante coisa.

─ Eu sei.

Assentindo para si mesmo, ele começou a arrumar a mesa para que tomassem café da manhã.
Karol tentou ajudá-lo, mas o rapaz não a deixava fazer muita coisa, pois não tirava as mãos dela, sempre beijando, abraçando, dizendo que a amava. Então os poucos minutos que levariam para arrumar tudo, viraram muitos mais.

Por fim, depois de passar o café e fazer um suco bem forte de laranja, os dois se sentaram frente a frente na pequena mesa de quatro cadeiras e começaram a devorar a omelete que, diga-se de passagem, fez Karol quase chorar de felicidade de tão boa que estava.

─ Pelo visto você gostou.

─ Isso daqui... ─ Ela apontou para o prato. ─ Eu nunca comi algo assim! Ultimamente eu já estava me acostumando com as comidas sem sal, geralmente queimadas ou cruas que o Agustín prepara. Eu sei que ele faz de coração, mas não quer dizer que fique bom.

Ruggero achou graça.

─ Então, só pra constar, o seu irmão mais velho é um...

─ Anjo também? Não. Agustín é humano. Mas o Enzo é anjo.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora