Mabel ergueu a cabeça lentamente, acompanhando com o olhar os movimentos de ida e volta que o pai dava pelo quarto aonde a haviam instalado, na ala psiquiátrica do hospital em que ele trabalhava.
Ali, sentada naquela cama, descalça, trajando um conjunto de roupas brancas imaculadas que cheirava a alvejante e lhe dava enjôo, a menina só conseguia ter vontade de chorar e gritar, mas dentro de seu sangue corria um calmante que haviam lhe aplicado, portanto, cada movimento seu era letárgico e ligeiramente doloroso.
Porém os seus pensamentos continuavam intocados e rápidos.
─ Eu não acredito que isso está acontecendo... Eu não acredito. Não acredito... ─ Oswaldo repetia, inconformado com aquela situação.
Jamais imaginou que poderia passar por algo assim. Se bem que se perguntou mil vezes se o descontrole da esposa não acabaria reverberando na filha. Contudo, a vergonha que sentia era colossal.
Ainda se lembrava da cara das pessoas que trabalhavam na delegacia os encarando. Todo mundo comentava a situação. Provavelmente até zombavam. Talvez viessem até tirá-lo do cargo de diretor do hospital.
Só de pensar nisso tudo a raiva já o dominava.
─ Eu tenho certeza que tudo isso é um mal entendido. ─ Andrea comentou com a voz chorosa, sentando-se ao lado da filha no leito, abraçando-a. ─ A minha Mabel jamais roubaria algo. Não é possível que acredite nisso, Oswaldo!
─ Jamais roubaria?! Você está se ouvindo, Andrea? Por acaso não viu as porcarias das gravações?! ─ Ele retrucou enquanto gesticulava enfaticamente, pois não podia gritar. ─ Essa garota perdeu o juízo! É uma viciada!
─ Eu não sou. Eu não sou...
─ Calma, minha filha. A mamãe está aqui. A mamãe está com você.
─ Preciso dar um jeito nisso. ─ O homem murmurava para si mesmo com a cabeça fervendo. ─ Tenho que procurar uma forma de reverter essa história. O nome da nossa família não vai pra lama por causa da loucura dessa... ─ Travou os dentes e impediu que as palavras feias saíssem. Muito embora os palavrões lutassem para se libertar. ─ Vou sair daqui antes que eu perca a cabeça, porque já basta que todos os olhos estejam sobre nós. Não posso chamar mais atenção.
─ Papai, não, por favor! ─ Mabel gritou, pulando da cama para ir até ele, alcançando-o perto da porta. ─ Por favor, por favor, não me deixe aqui. O senhor precisa acreditar em mim! Não roubei nada. Eu não roubei. Não roubei...
─ Você está de brincadeira comigo? ─ Retrucou agarrando-a pelos braços e a sacudindo com força. ─ Por acaso tem idéia da porcaria do problema em que nos meteu, sua idiota?! Você é uma estúpida! Uma mulherzinha covarde e burra igual à inútil da sua mãe! Não importa tudo o que eu fiz para te fazer digna, porque você jogou tudo no lixo!
─ Eu juro que não roubei remédio algum. ─ Ela soluçou. Não tinha força, mal se mantinha de pé e a cada sacolejo que o pai dava, cambaleava. ─ Eu sou inocente. Não sou uma viciada. Não fiz isso. O senhor precisa acred...
─ Não. Eu não preciso acreditar em nada! ─ Solto-a de uma vez, deixando-a cair no chão, batendo com a lateral do rosto no piso gélido. ─ A única coisa que eu preciso agora é consertar a merda que você fez. Eu tenho tanta raiva e desgosto que... Se eu pudesse acabar com você... Mas deixe estar, porque quando você sair daqui, as coisas serão bem diferentes e eu vou te mandar pra muito longe. Acabou a mamata! Acabaram as mordomias! Você não merece um vintém do que tem. Eu preferia que você tivesse se dopado com essas porcarias e morrido de uma vez. O prejuízo seria menor.
─ OSWALDO! ─ Andrea esbravejou, agachando-se ao lado da menina. ─ Cale-se! É a nossa filha! Ela é sua filha! Como pode dizer isso? COMO?
O homem esfregou o rosto. Estava transtornado, completamente fora de si, certo de que seu mundo estava desmoronando e nada podia fazer de imediato para evitar, pois jamais imaginou algo assim.
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A Marca dos Anjos
Romance*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...