TRINTA E SETE

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Filetes de sangue escorriam pela lateral do rosto de Bruno e por mais que ele tentasse estancar usando a camisa que havia retirado, não conseguia. Sem contar que o maxilar estalava grotescamente a cada movimento que fazia com a boca, por isso precisou de toda a força que tinha para conseguir pronunciar o nome do filho ao chegar à porta de casa.

O homem levou alguns segundos para assimilar a cena a sua frente:

Sofás revirados, mesas de centro de pernas para o ar, utensílios da cozinha e cacos de pratos quebrados espalhados por todo o piso da sala; até os quadros de seus shows que geralmente ficavam pendurados na parede estavam aos pedaços pelo chão, completamente destruídos.

No entanto, isso foi a última coisa que preocupou ao homem.

Aos tropeços ele entrou, deixando de lado a camisa empapada de sangue. Já não importava que o ferimento na testa lhe fizesse sangrar bastante. Não. O que de fato tinha importância era o motivo pelo qual Ruggero não respondia aos seus gritos que ecoavam por toda a casa.

─ Não, não, não... ─ Resmungou ao encontrar o aparelho celular do rapaz em cima da cama dele, descartado ali.

Ruggero jamais saia sem o celular. E ao constatar isso o coração de Bruno se apertou em dobro, duplicando seu desespero.

Com as mãos trêmulas apalpou o bolso da calça e pegou seu telefone, encontrando o número que precisava ligar quase que imediatamente. E apesar do medo que sentia da resposta que viria, não podia se esconder atrás de seus próprios temores. Era a vida de seu único filho que estava em risco.

E por sua culpa.

─ Cardoso. ─ Balbuciou indo até a janela do quarto, forçando para abri-la. ─ Cardoso, o meu filho... O que o infeliz do Otávio disse...

São os ossos do oficio, Bruno. Você sempre soube que trabalhar para mim te renderia inimigos. O que quer que eu faça?

─ Mas eu estava apenas obedecendo as suas ordens! ─ Esbravejou a plenos pulmões, olhando em volta. Assim como o resto da casa, o quarto de Ruggero também estava revirado. ─ Você disse que perdoaria as minhas dividas de jogos se te ajudasse a cobrar os seus devedores! Eu só fiz o que me mandou fazer! Eu jamais deixei ninguém se machucar nisso. Sempre resolvi tudo com paciência e diálogo...

E na sua santa ingenuidade acabou se esquecendo de que estava lidado com pessoas barra pesada, seu estúpido! Acha que lido com personagens de contos de fadas? São criminosos, mafiosos da pior espécie, assassinos, malucos que andam por aí se enfiando em dívidas que só eu posso ajudá-los a sair. O problema, Bruno, é que eles odeiam serem cobrados. E agora... Eu sinto muito, mas eu não posso fazer nada.

Desnorteado pela dor de cabeça e a culpa, Bruno cambaleou.

─ Mas o meu filho não tinha culpa!

Já que você resolve tudo com diálogo, então procura a gangue do Otávio e conversa. Eu tenho uma idéia! Chama ele para um chá da tarde, debate sobre esse assunto e depois me diz no que deu.

─ É A VIDA DO MEU FILHO, PORRA!

QUE VOCÊ COLOCOU EM RISCO COM OS SEUS VÍCIOS! ─ Cardoso gritou de volta. ─ Não venha me culpar. Eu lhe dei a chance de quitar as suas dívidas, lhe dei emprego. Agora se você não soube se proteger, o problema é seu. Já estamos quites.

─ Cardoso, não! Não, espera...

Escuta só, se o seu filho sair dessa, eu recomendo que o pegue e vá para bem longe, porque o Otávio pode até ter libertado você depois da surra que te deu, mas se te encontrar de novo pode ser que acabe de uma vez com vocês dois. Porém, se me permite, eu vou desligar. Preciso trabalhar. Adeus, Bruno. E não ouse me ligar novamente, senão terá problemas comigo.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora