TRINTA E NOVE

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Karol ainda se sentia fora de si quando Pietro a abraçou e a tirou de perto de toda a confusão.
Ele a levou de volta para o quarto e trancou a porta, envolvendo-a em seus braços com força, deixando que a menina chorasse, mesmo que fosse baixinho. Aos poucos os soluços dela vieram e ele se viu no mesmo estado.

Não havia psicológico que suportasse tudo isso.

Mabel havia sido levada para casa com a mãe mesmo contra sua vontade. Oswaldo não queria mais confusão além da que já se desenrolava, sem contar que não parava de chegar curiosos para saber o que tinha acontecido.

Estava um caos.

Um suicídio! ─ Karol repetia. ─ Por minha culpa! Por minha culpa!

─ Você não pode se culpar por isso... ─ Pietro disse, acariciando os cabelos ainda úmidos dela. ─ Você salvou a vida do Ruggero, o carregou embaixo de um temporal, não se importou consigo mesma e depois acabou desmaiando de exaustão. Como faria para impedir que alguém visse a marca? Isso estava além do seu alcance.

─ Eu deveria ter imaginado... Eu tinha que ter sido mais forte.

─ Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Não tem como ser mais do que isso. ─ Delicadamente, ele se desvencilhou, limpando as lágrimas dela com os polegares. ─ Aquela mulher tocou porque quis. Foi uma escolha dela. Você não estava consciente e se estivesse, sem dúvida daria sua existência para salvá-la, porque você sempre coloca a vida dos outros acima da sua.

─ A minha vida não vale nada. Eu já vivi mais do que deveria...

─ Uma bolsa da GUCCI é descartada no lixo todas as vezes em que você diz uma barbaridade como essa. Então pare de dizer isso! ─ Ralhou ajudando-a a se sentar na cama, mas sem se afastar. ─ Está na hora de você entender que fomos concebidos para ter o livre arbítrio. Eu não sei como funcionava lá em cima, mas pelo visto você foi criada para resolver todos os problemas, assumir responsabilidades que às vezes nem te cabem. Mas acabou, Karol. Aqui na terra, cada um assume seus erros e colhe as consequências. Não tem como mudar isso. É a nossa lei.

A menina soluçou, esfregando o rosto.

─ Mas uma mulher está morta!

─ E eu tenho certeza que você lamenta, eu lamento, muita gente lamenta, porém... O que podemos fazer? Sei que parece frieza falar assim, mas nós estamos dentro de um inferno que essa maldita voz nos colocou. E agora o Bruno aprontou, o Ruggero quase morreu... Não vamos conseguir salvar todo mundo.

─ Pietro...

─ Eu estou do seu lado. E eu sei que pode ser que o próximo seja eu. E é por isso que já venho aceitando os fatos. Não vou dar para trás, mas aceito meu destino seja ele qual for. Eu assumo as consequências por ter escolhido ficar com o Agustín, com você e com o Raziel. E eu preciso que comece a assumir o seu papel também nessa história.

─ Não sei se consigo superar isso...

─ Você precisa superar! ─ Ele segurou o rosto dela, fazendo-a olhá-lo nos olhos. ─ Desde o começo de tudo isso, você mais do que ninguém sabia que muitas coisas ruins poderiam acontecer. Mas já chegou até aqui. Não pode recuar agora. Precisamos de você, Karol. Todos nós. Estamos contando com a sua força, com a sua coragem. E se não for por si mesma, pense no Raziel. Não pode desistir de lutar agora.

Relutante, mas entendendo muito bem o que o amigo dizia, Karol o abraçou forte, descansando a cabeça em seu ombro.

─ Hoje eu percebi que a voz não vai me deixar em paz. Ela quer que eu me mostre como sou, quer que eu seja castigada.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora