VINTE

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Nós dois? Ué, mas eu pensei que isso nem existia, Karol.

─ Ruggero, por favor.

─ Por favor, o quê? O que você quer de mim depois do fora que me deu ontem? Porque pela lógica, eu e você nunca teremos a menor chance, então, sinceramente, não entendo o que faz aqui na minha casa.

Karol passou a palma da mão pela testa dolorida e o encarou. Ela não sabia como expressar-se sem que os olhos ficassem marejados e os tremores nas mãos se sucedessem automaticamente.

Havia pensado muito antes de ir, mas achou por bem esclarecer o que ainda estava mal resolvido.

Por isso, mesmo sem ter dormido a noite inteira, ela se arrumou e saiu antes de Agustín e Raziel acordarem.
Afinal a última coisa da qual precisava era dar satisfações aos dois.

Depois conversaria com eles.

A menina trajava um casaco jeans que ia até o meio da coxa, uma calça preta justa e botas pretas pesadas. Ela quase se escondia dentro da roupa, talvez tentando passar despercebida, sumir aos pouquinhos até que toda a situação passasse de uma vez.

Contudo, para Ruggero, apesar dos cabelos desalinhados e da roupa larga que parecia engoli-la; Karol ainda conseguia prendê-lo, como se fosse portadora de um feitiço capaz de deixá-lo completamente atraído, zonzo, rendido.

─ Eu vi o seu beijo com a Mabel ontem. ─ Karol disse de uma vez.

O garoto abriu a boca e depois fechou.

Não sabia que ela tinha visto. Até passou pela cabeça essa possibilidade, mas depois percebeu que tanto ela quanto Pietro haviam ido embora, portanto, parecia pouco provável que ele e Mabel tivessem sido flagrados.

Mas lá estava a verdade...

─ E daí? Não fiz nada escondido. Acho que não devo satisfações a ninguém.

Karol exalou pela boca e sentiu mais frio, então abraçou o próprio corpo.

─ Sei disso e não vim aqui te cobrar nada. Apenas preciso que me prometa que...

─ Não. Eu não tenho que te prometer nada.

─ Ruggero, escuta só...

─ Karol, vai embora. Vai logo, por favor. O que nós tínhamos para conversar nós já conversamos ontem e você já esclareceu tudo muito bem. Eu não irei mais ficar correndo atrás de você, por que...

─ Cala a boca e me ouve!

─ Não! Eu não quero ouvir nada, Karol! Eu já estou...

─ Ei, está tudo bem por aqui? ─ Bruno indagou de repente ao ouvir da cozinha as vozes alteradas.

A última coisa que o homem queria era se meter, porém, sabia que o filho ainda não estava totalmente recuperado da pancada e o melhor era não se alterar e, pior, começar uma briga.

Quando viu o pai, Ruggero deu alguns passos para trás, notando que havia chegado muito perto da garota.

Karol, por sua parte, abaixou a cabeça, envergonhada.

Além da ressaca que a deixava totalmente consternada, ainda se sentia uma intrusa desnecessária em um cenário que não lhe cabia.
Na verdade, aquela conversa nunca deveria sequer ter sido cogitada. Ela jamais deveria ter se metido na história de Ruggero e Mabel.

Perdeu a rédea da situação.

─ Está tudo bem, Bruno. Nós só estamos conversando, mas a Karol já vai embora. ─ Foi Ruggero quem respondeu, recusando-se a olhá-la.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora