DEZENOVE

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Karol entornou sem problema algum a quarta dose da bebida que sequer sabia o nome.

Ou melhor... Quarta? Talvez fosse a quinta. Ou sexta dose.

Nem ela sabia mais.

O barman que parecia satisfeito com a gorjeta que esperava ganhar.

─ Certo, mocinha. Acho que já está bom, não é? Ninguém aqui é carro velho para viver à base de álcool. ─ Pietro tentou arrancar-lhe o copo das mãos, mas falhou.

Apesar de ligeiramente bêbada, Karol ainda tinha bons reflexos.

─ Eu não preciso que cuide de mim! Quer saber de um segredo? ─ Puxo-o pela gola da camisa, murmurando em seguida: ─ Eu sou muito forte. Com uma mão só eu consigo matar todo mundo aqui.

─ Certo, eu entendi, mas convenhamos que nenhum de nós quer dormir atrás das grades hoje. Então, que tal se você me der esse copo e formos embora?

─ Não, Pietro! ─ Murmurou soltando-o e bebendo mais um gole. ─ Não quero ir embora. Eu preciso ajudar eles. ─ Apontou para Ruggero e Mabel que pareciam perfeitamente distraídos numa conversa que já durava uns bons minutos. ─ Aliás... Você acha que eles vão ficar juntos? Tipo... Namorar, casar e ter filhos que vão ser bonitos e loiros?

Pietro abanou a cabeça com pesar, sentindo dó dela. Não gostava de ver ninguém com o coração partido.

─ Acho melhor a gente ir. De verdade, amiga.

─ Ir? Porque ir? Eu estou bem. Estou muito bem! ─ Acenou para o barman, pedindo outra dose. ─ Ah, a propósito... O Lionel não era bom, não. E ele não merecia você. Que bom que agora você pode arrumar alguém melhor. Todo mundo vai arrumar alguém melhor!

─ Assim como você.

─ Eu? ─ Apontou para si mesma, rindo. ─ Eu não. Eu já tive alguém, mas ele morreu. E agora, veja só, ele virou um fantasma! Sabia que ele até apareceu pra mim? Pois é. Foi sinistro!

Pietro pegou o copo de bebida assim que o barman serviu e o afastou antes que Karol pudesse pegá-lo.

─ Numa boa, amiga, vamos. Acho melhor você tomar um bom banho, esfriar a cabeça, dormir e, quem sabe, amanhã essa dor de cotovelo já até tenha passado.

─ Dor de cotovelo? Mas o meu cotovelo não está doendo, não. ─ Guinchou apoiando-se ao balcão. ─ Sabe o que dói? O meu peito! Dói bem aqui! Mas eu não sei o que isso significa, porque eu nunca senti isso. Será que... Que isso quer dizer que eu vou morrer? Parece que algo está mastigando bem mastigado o meu coração e... Dói! Dói muito, Pietro! Faz alguma coisa!

─ Oh, minha amiga...

─ Quando o Hugo, o meu amor, morreu... E não faz tanto tempo assim, sabe? ─ Bufou. ─ Quando ele morreu... Eu juro que doeu. Doeu muito. Parecia que eu ia viver pra sempre com aquela dor... Mas agora! Agora, nesse segundo, ixi! Agora dói mais. Dói muito, Pietro. Você não vê como dói? Porque as pessoas não veem a dor? Porque ninguém nunca diz que a dor tem gosto de bala amarga? Parece até que eu vou... Quebrar-me em um monte de pedacinhos...

Com o peito apertado, Pietro desceu do banco e a ajudou a descer também, amparando-a para que não caísse.

Não suportaria deixá-la ali assistindo enquanto Ruggero flertava com outra.

Era desumano.

─ Eu vou cuidar da sua dor, tá? Amigos são pra isso.

─ Não! Eu não quero que cuide, não! Está tudo bem. Se eu aguentei perder as asas, eu aguento isso.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora