CINQUENTA E QUATRO

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Penúltimo

Ruggero se aconchegou nos braços da mãe como se fosse uma criança. E de certa forma Antonella o sentia como um menininho. Exatamente como no passado. Se pudesse nunca o teria deixado, mas depois de tantos anos compreendeu que sua missão já havia sido cumprida e que um dia voltaria a ter seu filho junto de si.

Não queria que fosse naquelas circunstâncias, contudo, respeitava os desígnios daquele que manobrava os destinos.

─ Deixe-me vê-lo melhor... ─ Ela fungou, segurando o rosto úmido dele nas mãos. ─ Deus do céu, você já é um homem! Está tão crescido. Tão lindo! Um rapaz belíssimo!

─ A senhora que não mudou nada. Continua tão incrível quanto eu me lembro.

Antonella sacudiu a cabeça e lhe deu um beijo estalado na bochecha.

─ Senti sua falta, sabia? É lógico que estive com vocês sempre que pude, mas não era o mesmo. É muito melhor sentir o seu abraço, o seu cheiro, a textura da sua pele... Você é uma parte minha e eu sempre fui uma parte sua. Foi difícil aceitar que o meu coração ficaria lá na Terra longe de mim.

Ruggero a entendia perfeitamente.

Sorrateiramente Bruno se aproximou deles e logo jogou o braço em torno da cintura da esposa, trazendo-a para si, encostando sua cabeça a dela, encarando o filho de quem sentiam tanta saudade.

Perto de Antonella, Ruggero percebeu, o pai parecia o mesmo de antes.

Bruno estava iluminado, feliz. A barba encontrava-se feita, os cabelos estavam bem cortados, não havia olheiras profundas embaixo de seus olhos e nem cansaço em sua face.
Era um novo homem, pois estava ao lado de quem sempre amou.

Ruggero então se deu conta de que os humanos são como as flores: se estiverem longe do sol e não forem cultivadas em um solo fértil, prontamente irão murchar ou morrer.
Mas quando são colocadas no ambiente correto, são regadas e bem cuidadas, florescem e externam a beleza que há em suas essências.

E o ser humano é igual ao lado de quem ama.

Por isso ele sabia que jamais poderia estar longe de Karol.

─ É tão bom vê-los juntos. ─ Sibilou, secando as lágrimas.

Bruno e Antonella se entreolharam e sorriram; pareciam dois jovens apaixonados.

─ A nossa família nunca foi pobre de amor. Só precisávamos passar por algumas duras provas da vida. ─ A mãe de Ruggero disse. ─ E passamos, não é?! Talvez não nos encontramos como pensávamos, mas foi como tinha que ser. Deus nunca erra. Estamos aonde deveríamos estar.

─ A sua mãe tem razão. ─ Bruno anuiu. ─ Ainda estou tentando aprender algumas coisas e aceitar aquelas que não posso mudar, mas estar aqui me proporcionou um entendimento mais amplo das situações. E agora eu compreendo que não falhei, mas que evolui tudo o que consegui e que logo terei a chance de fazer mais, até que um dia chegarei aonde devo chegar. Mas por enquanto, estou contente.

Ruggero assentiu. Mesmo estando ali há pouco tempo, ele conseguia absorver a nova atmosfera, e assim compreendia algumas coisas.

─ É surreal pensar que existe isso tudo... Parece que estou dentro de um sonho, que sei que não vou acordar, mas que ainda assim, se parece irreal.

Antonella sorriu e concordou.

─ Logo você começará a se adaptar aqui. É o sonho mais lindo. Aqui não há dor, culpa, medo e nenhum mau sentimento. ─ Ela explicou. ─ Aqui todos nos ajudamos e fazemos o nosso melhor. Não há julgamento.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora