─ Que lugar é esse? ─ Karol indagou com um fiapo de voz cansada, descendo do carro de aplicativo que Pietro havia chamado assim que se afastaram o suficiente da escola.
Ambos estavam ensopados por causa da chuva que levaram, mas felizmente a tempestade havia dado uma trégua, apesar da ventania que ainda sacudia todas as árvores da cidade.
─ Cruz-credo, Karol! ─ O menino guinchou, logo após pagar ao motorista e sair, protegendo a GUCCI embaixo da jaqueta úmida. ─ Sinceramente, eu não acredito que nunca veio ao shopping da cidade. Esse é literalmente o melhor lugar de Porto de Pedras.
─ Desculpa, mas eu não...
─ Tira essa expressão de dor de barriga da cara e me segue, porque eu preciso ficar digno. ─ Parou e olho-a de cima a baixo. ─ E você também, é claro. Estamos péssimos! A chuva acabou com o meu cabelo.
─ Mas a sua cabeça é raspada e...
─ Esse é um assunto sensível! ─ Retrucou de modo incisivo, mas acabou rindo. ─ Ei, o que houve? Será que pode tentar relaxar um pouco? Eu estou só brincando. De verdade. Se eu te trouxe aqui é para que desanuvie a mente. Essa coisa de estresse sempre passa depois de fazer compras.
Karol não estava tão segura disso. Seus problemas não eram meros estresses, além do mais, seu peito ardia e pesava porque ansiava por saber algo sobre Ruggero, entretanto, não estava pronta para receber más noticias.
Não sabia se suportaria ver as coisas ruins que aconteceriam se ela falhasse nessa missão.
─ E o que faremos com a escola? Se a diretora souber da nossa fuga...
Pietro pegou-lhe a mão e a puxou para que atravessassem o estacionamento, depois subiram a calçada baixa que contornava todo o prédio envidraçado que tinha milhares de metros quadrados e uma torre extremamente alta que poderia ser vista há quilômetros de distância por viajantes que se aproximavam da cidade.
Lá, no lugar mais alto, existia um belo jardim de inverno, mas o acesso era praticamente restrito – a não ser que a pessoa pudesse desembolsar uma boa quantia em dinheiro para visitar.
─ Meu pai é primo da diretora, então fica de boa. Suspensão eu garanto que não teremos. Além do mais, já fiz isso antes. ─ Respondeu sem preocupação alguma, posicionando na frente de uma das portas automáticas que logo se abriram.
Karol deu um pulo involuntário para trás, soltando-se da mão do amigo.
─ Ela... Essa coisa abriu... Sozinha?
Curiosa, mas não com menos medo, esticou o pescoço, porém não viu maçanetas nem coisa do tipo que justificasse os vidros terem se arrastado para os lados, abrindo caminho para quem quisesse entrar.
─ São portas automáticas. É isso o que elas fazem... ─ Pietro balbuciou bem devagar, quase como se soletrasse. Um vinco profundo se formou na pele escura dele. ─ Karol, você nunca viu o porta automática? Um shopping? Quero dizer... De que século você veio, minha filha?
A menina agitou a cabeça, espiando para dentro onde várias pessoas perambulavam.
─ Vim de um lugar bem, bem, bem distante. E... Nós não tínhamos tudo isso. ─ Já ia dizer mais coisa quando a porta se fechou e ela voltou a dar um passo para trás. ─ Pietro, tem que ter uma explicação lógica para isso. Para que existem as maçanetas, então? As pessoas têm preguiça de girar a maçaneta? Pai do céu!
O garoto deixou uma risadinha escapar.
─ Que rústica! Sabe de uma coisa? Eu gosto de você. Ok, você tentou me enforcar? Claro. Mas eu gosto de você! E tudo bem você ser meio doidinha. Acho que posso entender. Já visitei cidades bem humildes, então imagino que...
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A Marca dos Anjos
Roman d'amour*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...