ONZE

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─ Eu não entendi porque mandou que eu trouxesse a sua mochila pra cá. Não era melhor ter deixado o seu pai levar pra casa? ─ Juan perguntou aos bocejos, jogando-se na poltrona bege perto do leito onde Ruggero estivera a noite inteira.

─ Eu não vou para casa. ─ O outro respondeu, enfiando-se dentro de uma jaqueta escura que Bruno havia levado na noite anterior, quando pensou que o filho passaria mais dias internado. ─ Aliás, valeu por ter ficado com as minhas coisas ontem. Imagino a porra doida que foi toda a situação.

Juan torceu o canto da boca, desejando se esquecer da bagunça enorme que se formou quando o professor de educação física constatou que apesar de ter conseguido realizar bem a manobra de ressuscitação, Ruggero não permanecia acordado de jeito nenhum.

Apesar das brigas esporádicas que tinham e de não concordarem em praticamente nada, o ruivo não se via sem um dos amigos.
Cresceram todos juntos e tanto ele quanto o irmão, consideravam Ruggero, Alfonso e Lionel como da família.

─ Sabe o que eu estava pensando? Hoje já faz três dias que o Lio não aparece. No que acha que ele se meteu agora? Ele nunca passou tanto tempo assim longe, principalmente sem dizer nada pra gente.

Ruggero se abaixou para pegar as botas e calçá-las, mas foi tomado por uma leve tontura, além de uma fisgada aguda na nuca, então imediatamente praguejou por entre os dentes e endireitou a postura, apoiando-se na cama.

Respirou fundo. Não queria demonstrar fraqueza. Não queria ficar mais nenhum minuto no hospital. Odiava aquele lugar.

─ Eu também não sei o que aconteceu com ele. ─ Respondeu baixinho, organizando os pensamentos, lutando para empurrar a tontura para longe. ─ Mas vindo do Lionel nós podemos esperar tudo. Vai ver ele viajou. A confusão na lanchonete aquele dia foi grande, você sabe disso.

Juan estreitou os olhos claros por um momento, mas depois assentiu.

─ Acho que você tem razão. Vou mandar mensagem de novo pra ele. Não é justo que ele esteja por aí pegando do bom e do melhor, e ignorando a gente aqui. Qualé, isso não é amizade, não. É traíragem, isso sim!

Ruggero bufou, achando graça.

Parecia que na cabeça de Juan tudo funcionava de um jeito mais simples, quase tolo de mais.
Era como se ele houvesse parado de progredir mentalmente na infância, quando a vida é fácil e nada mais importa. Com ele não existia tempo ruim, tampouco problemas. E Ruggero até invejava isso, porque gostaria de fugir do redemoinho insano que se tornou sua vida após a morte da mãe e as bebedeiras intermináveis do pai.

─ Ei, você sabe se o Bruno já foi? Eu pedi que ele fosse quando você chegou, mas talvez ele ainda queira fingir que se importa e tenha ficado lá fora.

Juan deu de ombros, acabando de digitar a tal mensagem que ficou de enviar a Lionel.

─ Quando eu sai pra pegar a sua mochila no carro, ele foi embora. Acho que ele disse que ia trabalhar. Sei lá. Não prestei atenção direito.

─ Como se você prestasse atenção em algo. ─ O amigo zombou, mas o ruivo não se importou. Já estava acostumado com as piadinhas que faziam. ─ Mas que bom que ele já foi. doido pra sair daqui e não a fim de vê-lo se fingindo de preocupado.

─ E você está de alta mesmo?

─ Claro. de boa. ─ Ruggero abriu os braços. ─ Se eu não morri ontem, não morro mais.

─ Não morreu porque a garçonete doida nada igual o Usain Bolt.

─ O Usain Bolt é velocista e não nadador. Burro! ─ Ralhou Ruggero, rindo, mas logo seu cenho se fechou, percebendo só naquele instante o que de fato Juan havia dito. ─ Espera. Você disse que a garçonete... Foi ela que me salvou?

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora