Ruggero parou perto da sala da diretoria e pousou a mão na cintura. Como eram mais próximos de Lionel, ele, Juan, Breno e Alfonso foram liberados para ir encontrar a família do rapaz no hospital se quisessem, ou até mesmo ir para casa, tentar digerir toda a situação.
Entretanto, ao contrário dos amigos que precisaram de espaço para assimilar tudo, Ruggero não acreditava no ocorrido, muito menos conseguia compreender como Lionel poderia estar morto se até outro dia estavam todos juntos.
Isso não fazia o menor sentido em sua cabeça.
─ Eu não acredito nisso. Ele não pode estar morto! Ninguém morre assim, do nada. Onde ele estava? Quem o encontrou? Eu não...
─ Ruggero, calma, ok? ─ A diretora guinchou, tentando afagar o ombro dele, mas o rapaz se afastou, transtornado, com os olhos empoçados de lágrimas que não deixou cair. ─ Só me informaram que o Lionel aparentemente se envolveu em uma briga e que o abandonaram em um hospital fora da cidade. Os pais receberam um bilhete anônimo e foram até lá para saber se era verdade mesmo e... Sim. Sim, era verdade.
─ Mas... Que briga? O Lionel...
─ Você sabe muito bem que o Lionel sempre esteve envolvido em problemas. Não é novidade, Ruggero.
O rapaz bufou e se apoiou na parede. Sentia um enjôo, uma fraqueza, além de uma dor absurda na cabeça que não passava desde que soube da noticia fatídica. Porque Lionel podia ser a pior pessoa do mundo, mas cresceram juntos, eram amigos.
─ E o quê mais?
A diretora respirou fundo, cruzando os braços rentes ao corpo.
─ Encontraram drogas no sangue dele, além de que ele havia ingerido muito álcool.
Drogas. Ruggero sabia que ele estava metido com essas porcarias, e até o avisou que isso não acabaria bem.
Mas Lionel nunca o ouviu. Era teimoso o suficiente para se envolver com a pior espécie de pessoas.Teimoso e idiota, o amigo pensou.
─ Eu ainda não consigo acreditar...
─ Eu sinto muito, Ruggero. Sei que vocês eram amigos desde criança, mas você precisa aceitar, porque é a verdade. E, como amigo da família dele que eu sei que você é, por favor, fique por perto. A mãe dele estava desolada e o pai nem se fala.
Ruggero puxou o ar com força, prendendo o choro.
─ Não sei se vou poder ajudar.
─ Tente pelo menos. E... O pai dele me pediu para ceder a quadra do colégio para o velório, afinal sem dúvida a comunidade estará presente. Somos uma cidade pequena e quando uma coisa dessas acontece, abala todo mundo. Portanto, fique presente neste dia e tente dar apóio. O seu amigo iria querer isso.
Não. Ele odiaria isso. Lionel odiava cortejos fúnebres e qualquer coisa que remetesse à morte.
Ruggero sentiu uma pontada de raiva. Era como se isso fosse se tornar um espetáculo.
Nunca gostou dessas coisas.
Foi o mesmo quando sua mãe morreu. Também a velaram na quadra da escola, também tinha muita gente. Gente que nem falava com a mãe dele, que sequer foi visitá-la um dia ou felicitá-la quando ela deu uma festa para comemorar seu progresso na carreira, na época em que deixou de ser apenas uma policial que fazia rondas nas ruas para, então, se tornar uma detetive da polícia.
Para felicitar são poucos, para chorar em cima do caixão, aparecem vários.
─ Não acho que ninguém saiba o que o Lionel iria querer de verdade. ─ Ruggero resmungou, esfregando os olhos vermelhos. ─ A única coisa que posso dizer é que não sei se participarei desse show.
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A Marca dos Anjos
Romance*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...