VINTE E SETE

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Karol parou em frente ao espelho de seu pequeno quarto e se observou.

Seu reflexo nada parecia com o de tempos atrás. Não havia um par de asas negras em suas costas, tampouco uma veste de cor pálida que cobria seu delicado corpo e ia até seus pés descalços.

Na verdade, estava completamente longe de sua realidade celestial.

─ Uau!

─ Ziel.

O garotinho se recostou ao batente da porta e cruzou os pequenos braços.

─ Eu nunca a vi tão linda, minha irmã. Certamente será a moça mais distinta e bem arrumada da festa.

Karol titubeou um pouco, encarando o irmão pelo espelho.

Ela relutou fortemente em aceitar as roupas que Pietro havia levado até sua casa pouco depois que largaram do colégio.
O rapaz havia dito que precisava inspecionar a arrumação de sua mansão para receber os convidados, porém, não pôde deixar de se preocupar com o que ela vestiria, especialmente após Karol contar sobre o fato de Ruggero querer vê-la lá.

Pietro havia passado bons minutos escolhendo o look adequado, mas por fim o encontrou.

E Karol nem pôde dizer o contrário, pois também havia adorado.

─ Acho que nunca me imaginei usando algo assim. ─ Confessou para Raziel.

De fato, aquela roupa passava bem longe de suas vestes do dia a dia.

Pietro havia escolhido uma belíssima saia de couro preto que tinha uma cintura alta e bem marcada, acentuando tudo o que precisava ser mostrado; também optara por uma meia arrastão da mesma cor que delineava as pernas torneadas da garota, desembocando dentro da bota pesada que ela também usava. Na parte de cima, uma camiseta escura de ombros caídos com um nó – que o próprio Pietro fez – que deixava evidente os seios fartos de Karol, trazendo para os holofotes o tom claro de sua pele e o rubor da face.

Já os cabelos, estavam soltos e ondulados.

Ela não quis maquiagem, tampouco precisava. Estava radiante.

─ O importante é que se sinta bem. ─ Raziel ponderou.

Karol concordou. Ela não cansava de se olhar, de pontuar mentalmente cada traço de mudança que vinha formando sua personalidade desde que abandonou as asas. Subitamente... Não se via mais como um anjo.

─ Acho que posso me adaptar perfeitamente.

─ Então é só isso que importa. ─ O garotinho riu, adentrando o quarto.

Com certo esforço, subiu na cama e cruzou as pernas, olhando-a.

─ Irmão, porque sinto que você quer me dizer algo? Aconteceu alguma coisa?

─ Não aconteceu nada. Você só está nervosa e fica pensando bobagem.

Karol o fitou de soslaio.

─ Sabe que não pode tentar mentir para mim, não é? Além do mais, se quiser dizer algo, pode dizer. Confiamos um no outro, não há segredo entre nós.

Raziel titubeou, desviando o olhar.

Percebendo o impasse dele, Karol deixou para trás o espelho e ficou de cócoras na beirada da cama, pousando as mãos sobre os joelhos minúsculos do irmão, reconhecendo prontamente na face dele uma preocupação bem genuína.

Seu coração logo se apertou.

─ Quero que se divirta na festa, é só isso.

─ Não, não é só isso. Raziel, olha no meu olho, diz para mim o que está se passando no seu coração.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora