Por Uma Vez na Eternidade

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Os dois filhos de Malévola e Hades se encaravam, com a tensão pairando como uma tempestade prestes a explodir. O destino não apenas deles, mas de todo um reino, seria decidido naquela batalha.

— Rainha Mal. — Heitor fez uma reverência cheia de ironia o sorriso sarcástico rasgando o rosto.

Mal balançou a espada, presente do seu pai. A lâmina negra queimava com chamas azuis, uma dança de poder e destruição.

Heitor repousou sua espada no ombro.

— Sabe, irmãzinha, por mais inteligente que eu seja, eu nunca consegui decifrar como você se apaixonou por alguém tão patético. Ele realmente achou que poderia unir forças comigo.

— Ele acredita no melhor das pessoas. — Os olhos de Mal brilharam com determinação. — Mas devo concordar com você dessa vez. Somente um de nós derrotará Maligno. Eu quis muito te salvar, irmão.

— Você está atrasada, Malie. Como sempre. — Heitor riu, um som seco e vazio.

— Tem razão. — Mal soltou um longo suspiro. — Mas não vou mais viver na sua sombra. Já chega de ter você ditando as regras. Aquela Mal da ilha não existe mais. Você se certificou disso.

— Aquela Mal era certamente irritante. Me seguindo pela ilha como um cachorrinho implorando a atenção do dono.

— Não mais. Vou seguir meu próprio caminho. Uma vez eu rezei para ter você me guiando uma última vez e é engraçado, porque sinto que foi exatamente o que você fez até aqui. Mas agora, pela primeira vez na eternidade eu vou fazer o que realmente quero, as coisas serão do meu jeito e você só assistirá.

— Malie, por favor. Não me faça rir.

Sem outra palavra, as lâminas se cruzaram, criando um estrondo que ecoou como trovão. O fogo de ambos consumiu a Casita Madrigal, reduzindo tijolos a pó e madeira a cinzas. Cada golpe reverberava como se o próprio mundo tremesse.

Heitor tossiu, uma tosse profunda que o fez perder a concentração. Mal viu sua chance. A espada negra cortou o ar e abriu uma ferida na perna de Heitor, fazendo-o cambalear para trás.

— Não há mais espaço para você no meu caminho, irmão. Achou mesmo que eu iria só continuar aceitando isso? Deixar você me quebrar pouco a pouco? Eu não serei mais sua sombra nem sua marionete.

— E ainda assim, aqui está você, tentando provar que é mais do que isso. — Heitor ergueu a mão, uma rajada de fogo o cercando. Ele avançou com força renovada, arremessando Mal contra os escombros. — Aprenda o seu lugar!

Mal se ergueu, o fogo azul explodindo do seu corpo, rasgando o teto da Casita e revelando o céu em chamas.

— O meu lugar? — A voz dela reverberou, cheia de poder. — É no trono, e não ao seu lado, mas acima de você!

Heitor olhou para o céu intrigado com tanto poder. A luta recomeçou, selvagem, intensa, devastadora. A cada golpe, o cenário se despedaçava. As paredes da casita não aguentaram. Restavam apenas ruínas e chamas no cenário. Ao fundo, o sol se punha.

A luta era equilibrada, mas aos poucos Heitor ganhava espaço e acertava cada vez mais golpes em Mal. Heitor ergueu a espada para desferir um ataque fatal quando voltou a tossir, agora muito mais forte. Sangue escorria de sua boca e ele caiu de joelhos. Mal acertou o cabo da espada do rosto do irmão, que rolou caído no chão.

— Nada disso tinha que acontecer, Heitor. Nós poderíamos ter sido irmãos reinando juntos. Mas eu cansei de tentar. E acabou o seu tempo.

— O que você fez? — Heitor se levantou com dificuldade, sentindo a fadiga pesar seu corpo.

— Isabela infestou o local com uma planta venenosa. É inofensiva na maior parte do tempo. Exceto quando exposta ao calor. Esse veneno era o único destino que você não poderia evitar. Não fique tão surpreso. Com certeza você não conseguiu ver isso indo em qualquer outra direção.

— E Julieta já preparou a sua cura. Nada mal.

— Eu não ligo para a sua aprovação. — Mal respirou fundo como se fosse o mais puro dos ares. — É tão bom esse sentimento de liberdade. De não correr mais atrás do seu amor.

Heitor riu.

— É tão engraçado. Você fala assim, mas eu sei que não é verdade.

— Pela primeira vez na minha vida eu posso ver claramente que uma coisa que sempre me puxou para baixo e essa coisa era você. Eu sempre tentei ser como você. — Mal olhou o horizonte, o sol se pondo.

Heitor riu de novo, chamando a atenção de Mal.

— Você age como se tivesse vencido, mas, no final, eu ganhei. Eu sempre ganho.

— Hoje não, Heitor. Só um de nós pode reinar. Hoje você teve seu último pôr do sol. — Mal apontou a lâmina da espada para o irmão. — Agora se abaixa e se curve. Hoje é dia da coroação.

Mal ergueu a espada. A chama envolvendo a lâmina ganhou vários metros de altura. Heitor pisou forte no chão e abriu novamente uma cratera, fazendo Ben surgir na sua frente. Heitor o imobilizou, utilizando o marido da mulher como escudo.

— Mal, espera! — Ben gritou. Heitor fechou sua boca. O loiro se debateu para tentar se soltar.

— E ai, Malie?

Heitor observou Mal baixar a espada e a chama desaparecer. Ele sorriu vitorioso.

A hesitação de Mal foi o que ele esperava, mas uma flecha dourada cortou o ar, cravando-se em seu ombro com precisão. Ben conseguiu se soltar do rapaz. Ben se libertou, e Mal não perdeu tempo. Com um salto impulsionado pelo fogo da espada, ela cravou a lâmina no peito de Heitor, fincando-o nos escombros.

— Mal! Não! — Ben gritou, mas começou a tossir por causa do veneno. Arkin correu até o loiro que teria caído no chão sem o ombro amigo.

Heitor tinha a cabeça baixa, sem forças para continuar a luta. O sangue escorrendo do seu peito, manchando a espada de Mal.

— Eu ganhei. — Mal falou em seu ouvido.

— Finalmente. — Sussurrou ele, um sorriso manchado de sangue se formando em seus lábios.

Os olhos de Heitor brilharam em um último lampejo esmeralda. Ele a puxou pelo pescoço, aproximando seus rostos com um movimento rápido e brusco. Os olhos de Mal responderam com o mesmo lampejo esmeralda.

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