Cárcere não Privado

Sogra

Bella narrando- O Samuel voltou para a faculdade, eu voltei para minha casa com o MB, o tempo vai colocando tudo no seu lugar, a dor vai dando lugar a saudade as lágrimas abrem espaço para as memórias, e o destino vai se encarregando de fluir com o rio da vida. Meu pai tem dias que se entrega a tristeza , más até que ele tem sido forte e segurado a barra, ele tá sozinho na frente do morro, não tem quem faça ele colocar outro sub, a Camila e a minha mãe estão seguindo com a creche comunitária, o Felipe tá dando treinamento de guerra para os soldados do meu pai, e tá morando na casa que o kaká morava, a Ana seguiu com o processo contra o Rodrigo, eu ainda não sei muitos detalhes ela está ficando na mesma casa que ficou quando veio da outra vez, então eu quase não vou lá, más estou com saudades espero que ela venha me ver aqui em casa.

Passo o dia inteiro sem fazer nada, o que é realmente é entediante não conheço muitas pessoas por aqui, as poucas que conheço me odeiam, então é melhor evitar ,o MB fica muito tempo na boca, quem me alegra e ocupa meu tempo é a Juju, que sempre que a avó deixa ela vem ficar comigo, a barriga tá crescendo, meu pacotinho tá ficando grande, eu não vejo a hora de olhar o rostinho dele, será que ele ou ela vai se parecer comigo ou com o MB, se vai ter o sorriso dele, o olhar, eu já amo tanto, nem sabia que dentro do coração cabia tanto amor.

Eu preciso pensar em alguma coisa que eu para fazer da minha vida eu não posso passar a vida esperando o MB chegar da boca, tá faltando alguma coisa, eu preciso descobrir quem eu sou e o que quero fazer, todo mundo tá fazendo alguma coisa e eu aqui dentro dessa casa.

A história da Ana me trouxe um gatilho , eu senti vontade de brigar por ela e por todas as mulheres que ficam refém de monstros escrotos como o Rodrigo, imagina quem não pode pagar ou que não tem a ajuda necessária, quantas ficam brigando na justiça para receber pensão, para obrigar o genitor a reconhecer a criança, quantas mulheres são agredidas diariamente e não tem opção de sair de casa por falta de dinheiro, ou por que não encontram refúgio, quantas querem somente o divórcio? quantas são vitimas de racismo e  homofobia ? Eu quero proteger e gritar para elas que elas não estão sozinhas, acho que eu sei o que eu quero, pesquisei algumas faculdades aqui perto, do morro , até o bebê nascer posso concluir um semestre ainda grávida, o MB chegou eu estava com o note book aberto, ele me deu um beijo .

MB- concentrada minha vida?

Eu sorri.

Bella- eu sei o que eu quero fazer amor, eu quero ser advogada, eu vou estudar.

ele me olhou sem entender, olhou para a minha barriga.

Bella- não se preocupa eu  já pensei em tudo, até o bebê nascer eu posso fazer o primeiro semestre, e fico de licença, eu não vou abandonar nosso filho, eu vou ajudar a defender mulheres que não tem como pagar alguém que lute por elas, que garantam que seus direitos sejam cumpridos, eu vou abrir um escritório para atender somente mulheres e que não tem condições, elas precisam saber quem tem uma voz por elas, a minha voz pode não ser alta más eu posso fazer ela ser ouvida.

Ele ficou me olhando, admirado, concentrado em cada palavra que eu falo.

MB- eu te amo sabia?

Bella- o que você acha?

MB- o que eu acho ? eu acho você gostosa demais falando sério assim.

Bella- é serio amor.

MB- amor eu acho que se é isso que você quer é isso que você tem que fazer mesmo, é uma ideia foda pra caralho, já escolheu a faculdade? 

Bella- tô vendo uma aqui perto.

Descemos para almoçar, eu tô empolgada se eu pudesse me formar rápido eu faria, minha herança que o Guilherme deixou tá toda guardada, eu gastei um pouco com o Samuel quando ele foi baleado, más ainda tem muito dinheiro, eu posso usar esse dinheiro para fazer alguma coisa boa.