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Terminamos o ensaio, foi muito bom. A produção inteira está feliz com o que estamos fazendo e eu e Fabien temos uma química incrível. Ele me mostrou a foto da mulher que ele está saindo e ela é bem mais nova que a gente. No meu caso, acho que uns 8 anos mais nova pelo que ele me disse.
Saio do estúdio com Fabien e estamos conversando. A produção pediu para que fôssemos vistos juntos fora do estúdio mais vezes para criar um certo rumor sobre o filme na mídia. Essa é uma estratégia muito usada para criar um suspense de como será o filme, como está sendo os bastidores... A mídia adora, o público adora, a produção ganha dinheiro e adora!
Me despeço de Fabien que me lembrou do tal evento amanhã no terraço do hotel. Eu nunca vi elenco mais festeiro que esse, pelo amor de Deus. Talvez seja pelo fato de eu nunca curtir ficar em grandes festas e em baladas que Brian tenha me traído. Entro no carro e vamos em direção ao restaurante e agora estou com um gatilho imenso sobre meu relacionamento com Brian.
Abro minha bolsa enorme com tudo que eu precisava para o ensaio e pego duas pílulas para controlar minha ansiedade. Eu não costumo gostar de sair nem de estar na rua porque eu tomo alguns medicamentos durante grande parte da minha vida. Nunca lidei bem com a fama e médicos sempre me receitarem ansiolíticos. Isso uma vez vazou para a mídia que eu estava dormindo no camarim, trancado, com um frasco quase vazio de remédio. Era mentira. Eu nunca tomei um frasco de remédios, eu nunca me dopei. Mas sim, eu tomo ansiolíticos para me acalmar e as vezes isso acumula com meu cansaço normal da rotina da minha vida e acabo apagando.
Foi um grande caos e eu me lembro de Brian sendo meu parceiro. Ele pode ter todos os defeitos do mundo, mas naquele momento aonde a mídia toda me atacava, Brian foi gentil, cuidadoso, amoroso... Eu queria esse Brian na minha vida. Para me ajudar com o Brian babaca que tomou conta daquele corpo.
Chego no restaurante e Lia já está sentada na mesa mais reservada. É uma mesa próxima de uma tv passando justamente o canal aonde Matt vai dar sua entrevista em pouco tempo. Engulo seco ao perceber que somos poucos dentro do restaurante, então não posso fazer nenhum escândalo ou gritar para a Tv. Droga.
_ Como foi? - Lia pergunta, cortando um pedaço de pão com a mão e enfiando em um pote com azeite e especiarias.
_ Bom... - Falo, tomando um gole do vinho. Nossa mas Anna você toma vinho todos os dias e mistura com ansiolítico. Sim. Não sou perfeita. Não me julguem. Todos tem seus defeitos.
_ Só bom? - Ela pergunta.
_ Eu acabei aceitando um convite por acaso de uma festa no terraço do hotel dele. - Falo para Lia.
_ Do Matt?
_ Também. Mas o convite veio do Fabien e não do Matt. - Falo enchendo mais meu copo de vinho.
_ E o Matt sabe que você foi convidada? - Lia pergunta com a boca cheia de pão.
_ Deve saber. - Falo. - Ele e Fabien são muito próximos e Fabien queria que eu fosse hoje encontrar eles...
_ Mas o Matt não falou com você? - Ela me interrompe.
_ Não...
_ Nana, isso não tá estranho? - Lia fala, finalmente dando um gole em sua taça cheia de vinho. - Ele passa o dia e a noite com você, e depois some. Você tem que ser convidada pelo amigo dele para uma festa aonde claramente você é a acompanhante dele!
_ Eu não sou acompanhante de ninguém. - Falo. - Sou minha própria acompanhante.
_ Lindo empoderamento feminino, Nana. - Ela fala. - Mas não funciona assim! As pessoas todas já devem saber sobre o rolo de vocês. - Ela continua e me faz pensar. - Aonde ele está que não fala com você?
No mesmo momento a voz conhecida de Matt surge na TV e nós duas viramos para encarar a coincidência do exato momento que estávamos falando dele.
_ Ah... Ok. - Lia fala. - Ele está ali. - E aponta para a TV.
Pedimos nossa comida e estamos encarando a TV. Lia ativou seu modo de assistente e está com o celular na mão pronta para acionar diversas pessoas caso meu nome surja na conversa. E por um instante solto um sorriso. Lia sempre foi minha protetora. Ela sabe que qualquer coisa que falarem de mim, pode surgir na mídia como uma forma de me atacarem e ela sempre me afasta de haters e ataques de revistas sensacionalistas em geral.
Nossos pratos chegam e estamos entre garfadas e goles de vinho, prestando atenção no que Matt pode possivelmente falar. Parecemos duas fãs malucas que estão vendo o ídolo na TV e querem saber todos os detalhes.
_ E sua vida pessoal? - O entrevistador pergunta para ele e Lia me olha como se eu pudesse fazer algo. - Soube que depois de muitos anos você está solteiro. - O apresentador continua e alguns gritos da plateia deixam ele um pouco sem graça.
_ Eu... - Ele fala e mexe em seu cabelo. - Eu estou sozinho no momento e acho que pretendo ficar. - Ele fala e Lia me encara com a boca aberta.
_ É o que? - Eu falo ainda encarando a Tv.
Sozinho? Sozinho? Ele disse sozinho?
Um filme passa em minha cabeça e a única coisa que eu imagino é: IDIOTA. Anna, você é a maior idiota, otária, paga pau de macho... Anna você merece sofrer.
_ Ele disse...
_ Sozinho. - Interrompo Lia, que continua me encarando.
_ Nana... Você precisa tirar essa dúvida. - Ela fala. - Ele acabou de anunciar em rede nacional que não tem ninguém. - Ela continua. - E nem falou que pode estar conhecendo alguém, ou que não fala sobre a vida pessoal... Ele falou...
_ Sozinho. - Interrompo novamente. Lia percebe que estou avoada e terminamos nosso jantar praticamente em silêncio, com a entrevista de Matt ao fundo. Não consegui prestar atenção em mais nada. Saber que depois de escutar que ele gosta de ficar comigo, depois de ver ele todo molhado de chuva indo até meu apartamento para falar comigo... Ele ainda considera que está "sozinho"?
Eu odeio essa palavra. Eu odeio a palavra "sozinho". Eu não quero mais ouvir essa palavra.
Volto para meu apartamento com a carona de Lia. Ela não me fez mais perguntas e me deixou ficar em silêncio processando tudo que ouvi naquela entrevista. Cheguei em casa, tirei a roupa e me joguei dentro da minha banheira. Meu celular toca. É Fabien. Eu não atendo.
Ele toca novamente. É Fabien. Respiro fundo. O que mais pode dar errado?
_ Alô. - Minha voz está péssima. Quando estou passando por estresse, não sei o porquê, mas minha voz fica rouca.
_ Anna! - Ele fala com alegria do outro lado da linha. - Pensei que minha parceira de cena e de lasanha poderia estar livre.
_ Ahn... Fabien... - Eu tento completar a frase mas escuto barulhos demais do outro lado da linha e penso que talvez ele possa estar um pouco alterado pela quantidade de bebida que tomou.
_ Sem desculpas. - Ele fala e parece que se afastou da confusão. Sua voz está mais clara e consigo escutar perfeitamente.
_ Eu não sei se vou ser uma boa companhia para você. - Falo.
_ Mas tem outra pessoa querendo sua companhia. - Ele fala e ri.
_ Acho que não. - Falo, rispidamente, lembrando novamente da palavra que eu odeio. - Ele, aparentemente, está sozinho.
Um silêncio toma conta da linha telefônica e imagino que Fabien lembrou dessa parte da entrevista.
_ Tudo bem. - Ele finalmente fala. - Mas gostaria que você estivesse comigo no hotel amanhã. Podemos tirar fotos juntos e fazer a produção um pouco mais feliz.
Eu dou um sorriso e confirmo que vou amanhã. Com que cara? Não sei. Com que coragem? Também não sei. Mas vou ter que ir. Ainda bem que tenho Fabien em minha vida agora. Ele, pelo menos, me anima e me faz sorrir.
