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_ Você está cheia de areia, molhada... - Ela fala, ao me observar entrando em sua casa.
_ Eu passei na praia antes. - Respondo, encarando ela. Julia (minha mãe) está bem mais velha do que eu lembrava. Tinham se passado anos. Mas ela continua linda. Seus cabelos escuros da mesma cor dos meus estão brilhosos e parecem sedosos. A casa dela é simples e elegante por dentro. Como se fosse um confortável refúgio.
_ Quer se trocar? - Ela pergunta.
_ Eu não trouxe outra roupa. - Falo um pouco sem jeito. Não pensei na possibilidade de sujar e molhar a casa dela.
_ Vamos, eu pego uma roupa de Laura. - Ela fala andando e eu sigo ela. Quem seria Laura?
Entro com ela em um quarto jovial e vejo minha mãe mexendo nas gavetas. Ela parece ter intimidade o suficiente com Laura para entrar no quarto dela. Meu coração para. Meu corpo fica gelado. Será Laura uma filha dela? Engulo seco. Sai de casa aos 15 anos e fui morar com minha vó, desde então não tinha notícias de como era a vida de minha mãe, minha vó comentava por alto, mas depois de sua morte, nunca mais soube dela. As vezes trocávamos mensagens de Natal e aniversário mas nada muito íntimo.
Ela pega um vestido florido, lilás, um pouco curto e completamente destoando de como eu me visto.
_ Esse vestido deve caber em você. Laura é bem mais alta que você.
_ Quem é Laura? - Interrompo ela.
_ Ela... - Ela me olha séria. - Ela é sua meia-irmã.
MEIA-IRMÃ? Como assim nesses anos todos eu tenho uma irmã e não me falaram? Sento na cadeira em frente a penteadeira do quarto. Estou tonta, respirando forte. Estou tendo uma crise de ansiedade. Minha mãe teve outra filha e nesse tempo todo nunca tive oportunidade de conhecer ela?
_ Anna. - Julia se abaixa e fica próxima de mim. - Eu imagino que deve estar sendo difícil. Para mim também está. Parte disso tudo é culpa minha. - Ela está com a voz fraquejando e sinto que está prestes a chorar. - Assim que você decidiu morar com sua vó, descobri que estava grávida e por sorte, Phil é um ótimo homem. Ele quis se casar novamente comigo e criamos Laura juntos.
Sinto como se estivesse levando uma facada em meu peito. Ela teve uma família, amor de um marido, de uma filha. E eu fiquei com minha vó, e logo depois tive que me abrigar em uma outra família para me sentir amada. Lágrimas escorrem pelo meu rosto e escuto Julia chorar também. Nós duas estamos sem falar nada, apenas chorando, no silêncio, que diz mais do que qualquer palavra.
_ Mãe? - Uma voz jovial e feminina quebra o nosso silêncio e nós duas nos viramos para a porta do quarto. Uma garota alta, da altura de Julia, está encarando nós duas. Ao me ver, ela abre a boca como se estivesse em choque.
