Memórias póstumas de dois sorrisos

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Entre a selva de pedra e a cidade morena,

raízes diversas se criaram,

dois infantos de dar pena.

Ah, como eles pastaram.

Mas também brincaram.


No bairro das flores eles viviam,

futebol com a molecada da rua,

betz, suco, resenha. Não viam

o tempo passar. De noite a lua

encantava, céu aberto, se riam.

Cadeira pra fora, parecia que jamais morreriam.


Piscina, brinquedos, bola, mangueira,

pique e pega, a imaginação aflorava,

corriam, pulavam, gritaria, gastavam as estribeira,

amigos da rua, primos, eles amava,

calor latente, a gurizada se gastava.


Grilo, perereca, cobra cega, besouro,

o menor gostava de provocar,

momentos que valia ouro,

morcego Wendel, muito pra se amar,

pai matou o Wendel. Só sobrou chorar.


Água de coco no parque, bastante

capivara, natureza presente, uma paz

com validade se vivia. Um instante,

cresceriam e jamais notariam que jaz

a ingenuidade e o sorriso genuíno latente.

Dias de luta, dias de glória, passaram rente.


Senhor abençoou, saúde faltou,

mil parentes, encontros ficariam

pelo caminho. A maturidade chegou

acompanhada de nuvens que batalhariam

pelo sorriso dos pequenos. Calhou

de crescerem vivos, pais e Deus queriam

o melhor. Mas o que restou?

Vivências? Morte? Na memória, aquela alegria ficou.


100 poemas de um paraquedista sem chãoOnde histórias criam vida. Descubra agora