Carta ao pequenino

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O que faz aí pequena criatura?

Perambulando pela cidade morena,

Tão despreocupada, tão amada.

Saudosa ingenuidade e dor pequena.

Saiba que te invejo.

Nem pela falta de boletos,

Mais pela brincadeira com os insetos.

Vivia no conforto dos seus iguais,

Natureza sem fim, risos sem mais.

Mal sabia da dor da perda.

Da perda de uma amada,

Da perda da fé,

Da perda do calor,

Do esquecimento do amor.

Tempestades lhe arrancarão tanto,

Seus olhos brilhantes e santos,

Seu ânimo pujante.

Suas entranhas

Se tornarão tacanhas.

Seu maior mérito

Não será nem respirar direito.

Seus amores lhe trarão alguma alegria,

Que se dissiparão em triste correria.

Mas não temas,

Tu viverás por um ato,

Um momento no espaço tempo,

Nem um pouco pacato,

Como sua própria vida,

Tu viverás por um tipo só,

Que de ti sabemos que não merecia uma dó.

Serás obrigado a aceitar a vida como ela é,

Abraçar toda intempérie,

As ondas em série,

Como um atropelamento sem ar,

Como um terrível mar.

Renegará todo sorriso sincero,

Desejará o melhor,

E fugirá.

Abrace o seu Senhor,

Triture suas unhas

E sorria para toda dor,

Aceite todas as alcunhas.

Tu não és merecedor de nada

Mais que um verme torto.

Acorda e respira um raiar cada,

E viva ansiando ser morto.

Não por si,

Mas por Aquele dono de ti.


100 poemas de um paraquedista sem chãoOnde histórias criam vida. Descubra agora