Uma noite demasiada humana

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Miserável, pobre, cego

E nu que sou, não nego.

Às vezes me pego

Em divagações tacanhas,

O meu desejo Lhe entrego,

Mas as manhas

Bem humanas gritam.

Como e por que lutar

contra os que me amam?

As agruras vêm como ondas do mar,

Afogam mas não matam.

O ímpeto luta pela vida,

Um lampejo exaurido,

Uma noite muito comprida.

Ah, noiva, queria logo ver seu marido.

As faíscas de alegria

Me distraem. Não tenho

esse direito. Por que iria

caminhar em empenho?

Como aceitar um amor

Para uma casca nojenta

E imerecida. Alto fala a dor,

Contra o abraço que esquenta.

As portas do Hades batem,

Sussurros me torturam,

Insistem para que não me matem,

Incontáveis vozes murmuram.

Este verme que lhos escreve,

Sorri em lágrimas, porque sabe,

Embora o ânimo que deve,

Tamanho amor não lhe cabe.


100 poemas de um paraquedista sem chãoOnde histórias criam vida. Descubra agora