Das vezes em que morri afogado

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Pessoas queridas e estranhas, rindo,

De todo tipo, reunidas, um compêndio,

De repente, a água está subindo,

No caos, um incêndio,

Ilhados, não há para onde escapar,

Uma cerca, um respiro?

Enchente implacável a nos solapar,

Será meu último suspiro?

Forças torrenciais me levam.

Oh, Senhor, por que me abandonaste?

Em corpo, ânimo, espírito, mente. Mergulhado.

Uma bandeira em meia-haste.

Distante (de quem?), só, sujo e desnudo.

Tenho que me recompor.

Corro em vielas distorcidas, mudo,

Miro minhas origens, antes do sol se pôr.

Porém já é noite. Há medo,

Também esperança.

Deveras derrotado, mas é cedo

Para desistir desta criança.

O Espírito incansável queima as entranhas,

Humilha e afaga. Não sou merecedor

De nada. Me transforma e me amas.

Delírio, um verme estarrecedor

Receber qualquer abraço.

Às portas do âmago, batem forte,

Um infanto ouve, puxa um maço,

Acende um cigarro. Um temor de morte

Lhe toma conta. Será que ele deve abrir?

Será que ele consegue deixar entrar

Qualquer amostra de sorrir?

Refuta o carinho, mas deseja amar,

Nega o zelo, mas ama cuidar.

Pequeno, assustado, submerso,

Mas o fôlego de vida persiste.

As gotas caem em cada verso,

E no seu caminho, existe e resiste.


100 poemas de um paraquedista sem chãoOnde histórias criam vida. Descubra agora