Simon Riley (Ghost)- Entre Ossos e Cinzas

• A primeira noite •

    [Ghost]: Só uma coisa antes de você ir para a sala. Você meio que criou uma reputação então pode ser que eles fiquem... preocupados com a sua presença.

    [Lara]: Reputação? Como assim?

    [Ghost]: Eu e o Soap não somos fáceis de derrubar, e você quase matou nós dois juntos, foi preciso o Konig aparecer para darmos conta de você. Eles acham que você é bem perigosa.

    "E com razão, eu sou"

    Eu fiquei em silêncio, assim que entrei no salão todos que estavam no ambiente olharam para mim e pararam de conversar, eu vi Alejandro apertar com força sua arma, assegurando que eu não tentaria nada. Ghost estava bem próximo de mim, eu não vi Farah em lugar nenhum.

    Soap apareceu e se aproximou sorrindo, ele era a pessoa mais leve ali, parecia nem se abalar comigo.

    [Soap]: Olha aí se não é a protegida do Lt.

    Soap se aproximou para tocar no meu ombro mas logo que viu os olhos do Ghost penetrando no fundo da sua alma e se afastou. Eu também estava péssima.

    [Soap]: Não estão de bom humor não é? Até que vocês combinam.

    Soap sorria para fazer com que essa tentativa de interação ficasse mais leve.

    [Soap]: Tudo bem, já entendi L.t

    Ele soltou um sorriso desajeitado e foi para outro canto.

    Eu saí andando pela sala inspecionando o lugar, os olhos me seguiam para onde eu fosse. Eu me aproximei de Ghost e perguntei em sussurros.

    [Lara]: Farah está aqui?

    [Ghost]: Ainda está pensando em matá-la?

    Eu fiquei em silêncio olhando para ele.

    [Ghost]: Não, ela é de outra unidade, não fica com nosso esquadrão, você não vai encontrar ela aqui.

    Eu apertei minhas têmporas com força, estava com enxaqueca por causa do choro e estresse. Ghost percebeu e saiu de perto de mim, o que chamou mais ainda a atenção dos outros soldados para mim. Ghost abriu um armário e voltou com um remédio. Ele pegou um copo de água e colocou nas minhas mãos. Eu fiquei bem surpresa, como aquele homem que passou uma noite inteira me torturando estava cuidando de mim? Porque ele estava fazendo isso? Nada disso fazia sentido.

    Eu peguei o copo e tomei o remédio, todos me observavam atentamente, eu devolvi o copo pra ele e saí pra conhecer o ambiente. Ghost me seguia para onde eu fosse em uma distância que não passava de um metro, era muito irritante.

    [Lara]: Você vai mesmo ficar me seguindo para todos os cantos?

    [Ghost]: Enquanto você estiver aqui você é minha responsabilidade, eu não vou arriscar a segurança do meu esquadrão.

    Eu revirei os olhos mas entendia. Todas as vezes que eu passava perto de algum homem do esquadrão eles seguravam a arma com mais força e davam um passo para trás disfarçadamente, o clima estava péssimo, mas foi culpa minha, eu disse que mataria cada um deles.

    Enquanto conhecia o lugar listei o número de janelas e suas posições, achei que ninguém perceberia isso mas Ghost logo interrompeu meus pensamentos.

    [Ghost]: Não precisa procurar rotas de fuga, você não é uma prisioneira, pode ir quando quiser.
  
    [Lara]: Não é como eu me sinto.

    Ele parou e olhou para mim, eu me virei para olhar em seus olhos.

    [Ghost]: Minha intenção nunca foi te fazer de refém, só não posso te deixar sozinha aqui, pela segurança dos meus homens.

    [Lara]: Eu sei... só não entendo o que você quer comigo.

    [Ghost]: Só devolvi o favor, uma vida por outra, você está livre pra ir.

    [Lara]: Eu sou uma ameaça constante para você e para os seus homens. Alejandro mesmo disse que eu mataria vocês assim que eu pudesse.

    [Ghost]: E você vai?

    Eu fiquei em silêncio, ainda não sabia, eles acabaram com tudo que eu tinha, com toda minha vida, e agora eu estava presa com eles.

    [Lara]: Eu ainda não decidi sobre isso.

    Ghost me fitava, isso me deixava extremamente desconfortável mas eu não desviava o olhar, não vou deixar esse homem me intimidar.

    [Ghost]: Você tem coragem.

    [Lara]: Do que você está falando?

    [Ghost]: Está desarmada, olhando para um homem que pode te matar a qualquer momento, cercada por vários outros armados e ainda assim tem a audácia de falar que está pensando em nos matar.

    [Lara]: Você não sabe nada sobre mim Ghost.

    Ele me observava em silêncio, as vezes eu ficava desconfortável, seus olhos sao a única parte do seu rosto que eu podia ver.

    [Ghost]: Pelo menos você é sincera, eu admiro isso.

   Eu suspirei, ele me deixava muito confusa, tinha passado uma noite me torturando e agora estava me protegendo. Ele não tinha nenhum motivo para isso, não havia motivo para eu estar aqui, eu era uma ameaça.

    [Lara]: Eu estou muito cansada, foi um dia longo para mim, onde eu vou dormir?

    Ghost fez um sinal para que eu o seguisse, nós fomos até o quarto que eu estava antes e ele forrou a cama deixando o lençol perfeitamente alinhado e esticado. Ele parecia uma pessoa extremamente organizada. Ele pegou uma coberta e um travesseiro e ajeitou na cama, então foi até a porta e trancou.

    [Ghost]: Espero que você não se incomode mas eu não confio em você o suficiente para deixar essa porta aberta, você é uma ameaça para meus homens e eu não vou deixar nada acontecer com eles.

    [Lara]: Você vai ficar aqui?!

    [Ghost]: Eu não conheço você, eu sei arrombar portas e aposto que você também sabe.

     Dito isso ele começou a tirar seu colete tático e todos os acessórios, ficando apenas com uma camisa preta padrão, suas luvas, calça e máscara. Ele era muito mais forte do que eu imaginei, sem todos os equipamentos era visível a largura dos seus braços e o contorno dos seus músculos. Eu comecei a entrar em pânico, tentei não deixar transparecer, ele era muito maior que eu, não sei o que tentaria fazer.

    Ele foi até um sofá na sala e se sentou, logo em seguida ordenou que eu me sentasse na cama (imagem). Eu não obedeci, ninguém me dava ordens, ele só suspirou e ficou me encarando.

   Ele tirou uma faca do seu coldre*, e apertou forte na sua mão, fez o mesmo com a chave, então se encostou no sofá.

    [Ghost]: Se quiser matá-los vai ter que passar por mim primeiro, mas eu espero conseguir dormir bem essa noite, faz dias que eu não durmo.

    Ele simplesmente fechou o olho como se não estivesse nem um pouco preocupado, eu fiquei incrédula com aquilo.

    [Lara]: Eu não me sinto nem um pouco confortável com um homem no mesmo quarto que eu.

    [Ghost]: Sinta-se a vontade para tentar me matar então, mas acho bom você conseguir, porque se não conseguir você vai se arrepender de estar respirando.

    Eu me arrepiei com a ameaça, estava em pânico mas não podia deixar transparecer.

    [Lara]: E como eu vou saber que você não vai tentar fazer nada comigo?

    [Ghost]: É só você não mexer comigo e me deixar dormir em paz.

•••

>Obs do autor:

*coldre- é uma bainha que serve para portar armas pequenas ou facas, pode ficar preso na cintura, tórax, no peitoral ou na coxa.*