Capítulo 1

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⚠ Trigger Warning: Essa história irá conter cenas bastante descritivas sobre abuso e violência, por isso, se você é sensível a esses temas, por favor, seja cauteloso quanto a leitura.

Minhas costelas doíam.

Tentei afastar o pensamento e focar no aqui, no agora. Eu estava prestes a fazer uma audição para entrar em Nunca Mais, a escola dos excluídos. Seria um uma competição transmitida na TV local, onde, no fim, o melhor psíquico, a melhor sereia, a melhor górgona, o melhor vampiro ou o melhor lobisomem, onde eu me encaixava, ganharia uma bolsa de estudos para a escola e levaria para casa um grande prêmio em dinheiro.

O grande prêmio em dinheiro, motivo pelo qual meu tio, que estava aqui ao lado, pousando sua mão "gentilmente" em minha cintura, fez com que eu me inscrevesse e tentasse uma vaga na escola. Antes disso, eu não tinha contato nenhum com o mundo exterior, éramos apenas ele e eu, da maneira mais obscura que você possa imaginar.

Eu nunca cheguei a conhecer meu pai e minha mãe morreu quanto eu era criança. Como meu tio e minha tia eram os únicos parentes vivos, eu tive que ficar com eles. No início, tudo eram flores, minha tia era um dos seres mais gentis que já conheci, mas quando completei seis anos, ela me contou que estava com câncer. Foi tudo muito rápido até sua partida.

Desde então, meu tio começou com todo tipo de abuso possível. Ele me agride, me insulta e bem... faz outras coisas piores que isso.

Mas hoje é minha oportunidade. As coisas hoje poderiam tomar dois rumos totalmente opostos: ou eu estragaria tudo e teria que lidar com as consequências mais tarde; ou eu poderia realmente passar no teste, ganhar o prêmio e fugir do meu tio para sempre.

- O que nós combinamos? - ele perguntou, me apertando, sorrindo de orelha a orelha.

- Eu vou lá e vou ganhar o prêmio para você - respondi, roboticamente.

- E você...?

- Não vou dizer nada sobre o que acontece em casa, senão você vai me trancar para sempre e vai fazer da minha vida um inferno - completei.

- Boa garota - ele beijou meu rosto, me enojando.

- Como está o enjoo, Enid? - a senhorita Thornhill perguntou. A verdade é que mais cedo ela me viu com a mão onde eu estava sentindo dor e meu tio inventou essa história de enjoo.

- Melhor - menti, sentindo o aperto da mão de meu tio em minha cintura, intensificando os hematomas que estavam por baixo de minha roupa.

- Que bom! - ela sorriu, alegremente - deve ser apenas nervosismo.

Assenti, não querendo dar continuidade àquele assunto. Mais uns minutos se passaram até que Thornhill avisasse:

- Enid, você é a próxima, pode vir comigo para o lado do palco?

- Claro! - fingi confiança, afinal era tudo que eu sabia fazer, fingir.

Lutei contra o meu próprio corpo para não ficar balançando a perna nervosamente, queria parecer estar serena, queria parecer, assim como o restante dos adolescentes ali, ter uma vida normal.

- É a sua vez - a senhorita Thornhill me deu um leve empurrãozinho em direção ao palco.

É sua vez, Enid. É sua vez. Faça alguma coisa! Movi minhas pernas nervosamente em direção ao palco, parando no meio e dando uma olhada no juri, me deparando com: diretora Larissa Weems, vice-diretora Morticia Addams e a mentora Wednesday Addams.

- Oi! - acenei, tentando parecer o mais simpática possível.

- Oi - Weems e Morticia cunprimentaram.

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