Capítulo 40

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WEDNESDAY'S POV

Estávamos a sós no quarto, pois eu pedi para as meninas irem se preparando enquanto eu conversava com Enid. Estávamos sentadas na cama, uma de frente para a outra. Ambas tensas.

Eu não sabia nem se os pesadelos dela eram como eu achava que seriam. Eu não sei se ela sonhava com ele e com as coisas que ele fazia, mas ela acabou de ter um ataque de pânico por causa desse pesadelo e ela estava prestes a me contar sobre isso. A ansiedade estava presente em mim e, obviamente, em Enid também. Tentei transparecer neutralidade para disfarçar meu desassossego, mas eu duvido que eu estava conseguindo.

- Então - ela pigarreou, os olhos no chão - foi só um pesadelo, você sabe, não é?

- Sim, eu sei.

Fazia tempo que ela não fazia aquilo, a mania de mexer na barra da camisa ao ficar nervosa.

- Foi só um pesadelo - ela repetiu.

- Sim, Enid, foi apenas um pesadelo. Você quer me contar como foi? - ela levantou os olhos e eles estavam carregados demais para serem interpretados.

- E se você não gostar de mim depois disso? - sua voz saiu tão incrivelmente vulnerável, os olhos dela imploravam tanto e aquela ideia era tão ingênua, que eu tive vontade de abraçá-la para sempre e prometer que tudo ficaria bem, que eu estaria sempre lá para ela.

- Meu amor, você não tem culpa de ter sonhos ruins, muito menos se eles forem baseados em algo que você experienciou. E você precisaria de muito, mas muito esforço para me fazer deixar de gostar de você. Isso se você um dia você conseguisse.

Segurei uma de suas mãos, iniciando um carinho suave com o polegar. Seus olhos acompanharam o gesto, depois voltaram a me fitar. Ela deu um leve aperto em minha mão, antes de continuar a falar.

- Eu sonhei... com ele - ela fez uma longa pausa, e eu podia assistir seu cérebro trabalhando arduamente para calcular as próximas palavras - sempre acontece, sabe? - seus olhos me olharam profundo, em busca de compreensão, então eu assenti - mas às vezes é mais... assustador. Começou depois que eu vim para cá.

- Os pesadelos? - perguntei, realmente curiosa.

- Não - ela sacudiu a cabeça negativamente - os pesadelos assustadores - ela me olhou com expectativa, como que esperando que eu entendesse, mas eu não entendi. Todos os pesadelos são assustadores, não?

- Por que você não me conta como foi o pesadelo, para eu entender melhor? - eu tinha medo do que viria a seguir, mas eu estava seguindo a rota como planejado, só assim chegaríamos em algum lugar.

- Ele diz que me avisou - ela mordeu o lábio inferior nervosamente, quebrando o contato visual - avisou que vocês, você e as meninas, estavam mentindo para mim - de repente, ela puxou minha mão que acariciava a sua, me forçando para perto dela, o ato desesperado - isso não é verdade, não é?

- Não é não, amor. Não é não - ela aliviou o aperto em minha mão.

- Aí eu ouço a voz de uma de vocês me chamar, mas ou eu não consigo sair do lugar ou vocês somem ou é apenas isso: a voz. Geralmente, é você quem aparece - ela faz uma pausa, seus olhos se tornando tempestuosos - mas ele volta. Por isso é mais assustador, porque eu tenho medo que aconteça de verdade. Você vai embora e ele volta. Você vai e ele volta. Como ele sempre disse, todos os dias, todos, todos mesmo.

- Psiu - segurei seu rosto entre as mãos, sussurrando em seu ouvido - eu não vou a lugar a algum, meu bem.

- Não vai a lugar a algum - ela tombou a cabeça em meu ombro e eu acariciei suas costas.

SilhouettesOnde histórias criam vida. Descubra agora