Capítulo 63

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⚠️ TW: Linguagem explícita e menção à abuso sexual.

- Senhora Martin, por favor, nos diga como conhecia o réu e a vítima - Mark pediu.

Eu juro que se Jesus tivesse aparecido para testemunhar, eu teria ficado menos surpreso. Aquela velha enxerida podia saber de coisas e, se ela soubesse mesmo, ela não manteria a boca fechada.

- Eu fui vizinha deles desde que eles mudaram para aquela casa, Esther estava grávida na época.

- Quem era Esther?

- Mãe de Enid.

- A senhora tinha contato com Tom Sinclair, Esther ou Enid, senhora Martin?

- Bem, eu tinha com Enid e Esther. Eu era muito amiga de Esther - a velha falou, me surpreendendo. Daquilo eu não sabia, maldita Esther!

- E como era essa relação? – O estúpido do Mark perguntou, me fazendo questionar como ele descobriu a existência daquela velha.

- Eu adorava Enid, ela era a criança mais adorável que alguém poderia conhecer - a velha começou lentamente sua explicação, me fazendo ter vontade de calar a boca dela - Mas quando Esther morreu, nós praticamente perdemos o contato.

- A senhora sabe qual foi a causa da morte de Esther, senhora Martin?

- Protesto, meritíssima! O que isso tem a ver com o caso? - Matthew tentou.

- Protesto negado. Pode continuar, senhora Martin - a ignorante da juíza, como esperado, respondeu.

- Ah, a Esther se matou - a velha fez uma pausa, com certeza pronta para entrar naquele assunto maçante - Aquilo foi muito triste e eu lembro de ter ficado muito chocada, mesmo que eu já tivesse pensado nas chances daquilo acontecer. Ela tinha uma depressão profunda, eu gostava de conversar com ela, ela se sentia bem comigo, toda tarde me convidava. Nós conversávamos todos os dias, desde a tardezinha até o início da noite, quando Tom não estava em casa. Era como se ele não pudesse saber que eu estive ali, sabe? Eu nunca entendi o porquê. Eu não entendia, mas nunca perguntei.

- Por que a senhora acha isso?

- Porque sempre no mesmo horário, cerca de meia hora antes dele chegar em casa, Esther arrumava uma desculpa para eu ir embora, mesmo que estivéssemos tendo a melhor conversa do mundo - a velha desgraçada falou - e ela sempre deixava Enid brincando na varanda da frente, para avisar qualquer coisa. Ela sempre dizia assim “qualquer coisa, avise à mamãe”, sempre.

- Alguma vez a senhora chegou a presenciar Tom em casa, senhora Martin?

- Bem, uma noite eu estava conversando com Esther e Tom voltou mais cedo do trabalho. Ele voltava todos os dias no mesmo horário, mas dessa vez não. Eu lembro que Enid, que estava brincando na varanda da frente da casa, entrou desesperada, os olhinhos azuis arregalados, a menina parecia em pânico, ela tinha uns seis anos nessa época, ela gritava "mamãe, mamãe, ele voltou!", como se estivesse tentando avisar de algum perigo - a velha contou, me surpreendendo. Dessa eu não sabia! Enid era uma imprestável desde cedo, igual a mãe!

- E o que aconteceu depois?

- Eu saí usando a porta dos fundos, Esther disse que depois me explicava o motivo, mas ela nunca explicou.

- A senhora voltou lá depois desse dia?

- Sim, mas nunca tocamos no assunto. Ela morreu semanas depois.

- Então depois da morte de Esther, a senhora não teve mais contato com Enid ou Tom Sinclair?

- Não, não diretamente, ao menos. Enid foi desaparecendo com o tempo, não brincava mais na varanda, não ia mais ao mercado, nem no parquinho. Eu só a vi algumas poucas vezes saindo ou entrando do carro de Tom, mas só isso. Depois ela desapareceu de vez. Eu até tentei encontrá-la na escola que ela estudava, mas ele tinha tirado ela de lá - filha da puta! Aquela velha estava acabando com nosso argumento!

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