Capítulo 31

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WEDNESDAY'S POV

Eu sabia que era o primeiro dia e que seria normal que ela estivesse nervosa, mas eu não estava preparada para a intensidade das reações dela. Qualquer movimento que eu fizesse a assustava e eu ficava constantemente dividida entre tentar acalmá-la e o receio de me aproximar e amendrontá-la ainda mais. Sem falar no bloqueio de comunicação, eu passei a manhã inteira tagarelando sozinha e ela quase não reagiu a nada.

Enid tentava, a cada segundo de sua existência, mascarar o medo que sentia, mas eu sabia que tinha muita coisa por trás dessa máscara que ela tentava usar. Ela estava extremamente abalada, mas eu iria até o fim para deixar tudo o mais acolhedor possível.

E se tinha uma coisa que eu odiava, era quando alguém, vulgo Daniel, me dizia que eu estava exagerando com a Enid, que não era para tanto e que eu estava tornando tudo grande demais. Na verdade, eu só o mantia em contato porque ele tem um vasto conhecimento e uma relação mais longa com os oficiais e o departamento, e isso pode aliviar mais no processo.

Inclusive, ainda hoje à noite, eu e ela teríamos que voltar à delegacia para depor e, infelizmente, precisaríamos mais uma vez dele para facilitar e encurtar ao máximo essas coisas. Eu odiava essa dependência miserável que eu tinha para com ele quando se tratava dos assuntos principais: a guarda definitiva de Enid e a condenação daquele desgraçado. 

Tentei afastar os pensamentos que corriam descontrolados em minha mente, enquanto terminava de preparar o pequeno almoço para nós duas. Já passava de uma da tarde, mas Enid ainda não tinha dado sinal de vida.

Depois de tudo pronto, me dirigi ao quarto dela. A porta estava entreaberta. Tentei espiar pela abertura, mas não consegui ver a cama. Sem hesitar, dei leves batidas na porta. 

Nada.

Dei mais uma sequência de batidinhas e dessa vez ela respondeu.

- Wednesday?

- Oi, Nid. Era para ser só um cochilo - não consegui esconder a diversão em minha voz.

- Por Deus, Wednesday! Você quase me matou de susto!

- Posso entrar? - perguntei, ainda rindo.

- Não. Eu estou sem roupa - pela primeira vez no dia, havia animação em sua resposta.

- De novo? Jesus Cristo! Por que você sempre diz que está sem roupa? 

- Talvez porque eu esteja ou é para você não entrar - o som de sua risada chegou aos meus ouvidos, me agradando - o que diabos você está esperando para entrar?

- Engraçadinha.

Empurrei a porta devagar e deslizei para dentro, sentando na beirada da grande cama. As olheiras já eram marca registrada e a faziam parecer sempre cansada, mas agora tinham desaparecido um pouco depois de nosso "pequeno" cochilo, assim eu podia ver a inocência e a tranquilidade com mais clareza, fazendo-a parecer ainda mais bonita.

- O que você está olhando? - ela deu um sorriso tímido e eu podia jurar que alguma coisa no meu estômago vibrou. Senti-me estranhamente deslumbrada.

Minha atenção seguiu até seu sorriso por uma fração de segundos e eu me amaldiçoei mentalmente por sentir, nesse curto espaço de tempo, uma sensação absolutamente estranha. Tentei com toda minha força afastar o pensamento. Mas olhando-a assim, o sorriso quase celestial.

Não, Wednesday, me repreendi.

- A senhorita dormiu bem? - perguntei, purificando meu raciocínio.

- Dormi.

- Demorou a dormir?

- Não.

- Sem pesadelos?

SilhouettesOnde histórias criam vida. Descubra agora