Capítulo 65

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⚠️ TW: menção de abuso e violência.

ENID'S POV

Eu consigo. Eu consigo. Eu consigo.

Tentei em vão controlar o tremor em minhas mãos e as lágrimas que insistiam em cair. Queria que Wednesday estivesse comigo, mas ela não podia. Depois de testemunhar, de acordo com o que Mark falou, as testemunhas sentam num banco que fica reservado no fim da sala onde o julgamento estava acontecendo. Ao menos, ela iria estar no mesmo lugar que eu.

Eu era a última pessoa na sala de testemunhas.

- Enid Sinclair, pode entrar para seu depoimento - uma moça falou, entrando na sala - você vai entrar pela lateral e sentar na cadeira que fica no centro, tudo bem?

- Sim - respondi. Eu podia ouvir minha respiração ofegante e meus batimentos irregulares nos meus ouvidos.

Ele iria estar lá. Eu iria vê-lo de novo. Isso com certeza estava no topo da lista dos meus maiores medos.

Mas eu consigo. Eu consigo. Eu consigo.

Fui conduzida pela moça até uma porta, que eu deduzi ser a passagem para a sala de audiência. Passei a mão no rosto, numa tentativa de eliminar as lágrimas.

- Pode entrar - ela abriu a porta e eu pude ter a visão completa do lugar, exatamente como Mark tinha descrito. Entrei com a cabeça baixa, focando em meus passos, porque eu tinha a sensação de que poderia desmaiar ali mesmo. Cheguei até a cadeira no centro e me sentei. Eu odiava a sensação de que, naquele momento, todos estariam olhando para mim.

- Por favor, diga seu nome para registro - um rapaz pediu.

- Enid Sinclair - minha voz saiu embargada.

- Senhorita Sinclair, está ciente de que em sua posição como testemunha, a senhorita se compromete a dizer a verdade, somente a verdade, estando sujeita às penalidades da lei? - levantei meus olhos em busca de Wednesday, quando finalmente o vi e foi como se tudo tivesse congelado. Ele estava olhando diretamente para mim. Aquele mesmo olhar apavorante e mesmo sabendo que eu estava seguro, tudo em mim gritava: perigo! - senhorita Sinclair?

- Enid - a juíza chamou, me tirando do meu torpor e eu desviei meu olhar dele para ela - você está se sentindo desconfortável ou intimidada com a presença do réu na sala?

Assenti, porque aquilo era inegável.

- Por favor, realizem a retirada do réu da sala - a juíza falou e eu assisti a movimentação dos guardas levantando-o.

- Mas Meretissima, meu cliente tem direito de estar presente em toda a audiência, para acompanhar todos os autos! - o advogado falou, levantando-se, enquanto Tom era levado para fora.

- Não sei se o doutor está ciente do que diz nosso código penal, mas se a presença do réu causar temor, humilhação ou constrangimento à vítima, isso possa prejudicar a verdade do depoimento, então o réu pode ser retirado da audiência - a juíza falou e eu me senti protegida por suas palavras - o réu vai continuar acompanhando o julgamento, mas na sala de videoconferência.

O advogado voltou a sentar e eu senti um resquício de tranquilidade pela primeira vez naquele dia.

- Enid, eu entendo que, como vítima, seja difícil prestar depoimento, mas quero que saiba nós estamos tomando todas as providências para preservar sua intimidade, sua vida privada, sua honra e sua imagem, tudo bem? - a juíza perguntou e eu assenti mais uma vez - você sabe o que é sigilo de justiça? O advogado te explicou?

- O Mark explicou - respondi, mas minha mente estava enevoada demais para lembrar da resposta - Mas eu não consigo lembrar o que é.

- O doutor Mark Phillips pediu e eu determinei sigilo de justiça em relação ao seu caso. Existe o segredo de justiça em alguns julgamentos, onde o acesso dos dados só podem ser vistos pelas partes e seus advogados; e existe o sigilo de justiça, que é o que está sendo aplicado aqui, que é quando nem mesmo as partes tem acesso aos dados, apenas o Ministério Público, o magistrado e algum servidor autorizado. Isso serve para preservar provas. O que eu quero dizer, Enid, é que o que acontece aqui fica aqui. Você está segura, me entende?

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