Capítulo 17

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TERCEIRA SEMANA DE COMPETIÇÃO: SEGUNDA

Os carros foram nos buscar individualmente dessa vez, nos pegando em nossas casas.

- Eu te vejo depois, Enid - meu tio gritou quando virei para vê-lo acenando. Acenei brevemente, antes de escorregar para o banco traseiro e fechar a porta. Hora de voltar. Meu corpo estava completamente marcado novamente, me obrigando a voltar a usar calça e blusas de mangas compridas. Pelo menos o golpe em minha mandíbula não tinha causado nada além de uma mancha clara, que dava para ser escondida com maquiagem.

[...]

Fui a primeira a chegar, o prédio estava frio e silencioso, apenas a luz do sol sendo filtrada pelas cortinas entreabertas na sala de estar. Lentamente, tomando cuidado para não desafiar minhas costelas recém feridas, comecei a arrastar minha mochila até as escadas.

Oliva e Sophia entraram fazendo barulho, gritando no prédio vazio. Acelerei meus passos e cheguei ao meu quarto. Fiquei lá por um longo tempo, me recusando a descer. Pela sacada eu vi Wednesday também chegar e, logo depois, Yoko. Mesmo assim eu não desci. Acho que elas pensaram que eu estava ocupada fazendo alguma coisa, pois me deixaram a sós durante toda a manhã.

Eu não podia. Eu não podia ter essa vida, não da maneira que eu queria. Eu me preocupava com todas elas e eu sabia que elas se importavam comigo, mas isso não importava para mim. Nada importava.

Na hora do almoço, ouvi alguém se aproximar da porta do quarto, a pessoa bateu com cautela na minha porta. Não respondi e a pessoa desistiu depois de alguns segundos de silêncio.

No fim da tarde, a contragosto, desci as escadas, vendo as meninas na cozinha. Wednesday também estava lá embaixo, mas na sala de estar, com o rosto enterrado em um livro.

- Oi, Enid! - Yoko falou, animada. Deus, eu realmente não queria estar aqui. Eu não quero ser feliz. Qual o sentido disso se nunca iria durar?

- Hey - Sophia se aproximou e me deu um abraço caloroso, mas dolorido - como você está?

- Bem - respondi logo, me desembaraçando do abraço.

- E aí? - Olivia me cumprimentou - como foi seu fim de semana? - me forcei a não rolar meus olhos quando fui forçada a responder com uma mentira que fluiu na minha língua com uma facilidade enorme.

- Ótimo. Foi ótimo.

- Que bom... o meu também - o sorriso de Olivia era genuíno, enquanto o meu mal tocou minha boca, muito menos meus olhos. Eu nunca poderia ser assim. Era tudo uma fachada, uma mentira que me fazia acreditar que eu era normal, que eu valia a pena. Elas amavam a Enid errada, não a que foi abusada por seu tio e que não era normal, nem boa.

Cautelosamente, sentei em uma das cadeiras da cozinha, quase gritando com a dor contra as minhas coxas machucadas.

- Então, o que vocês querem fazer hoje? - Sophia perguntou, mastigando alguma coisa distraidamente.

Yoko deu de ombros, lendo preguiçosamente uma revista qualquer.

- Hmm, piscina? Ficar aqui vendo filme? - Olivia sugeriu.

- Não sei. O que você acha, Enid? - Yoko perguntou.

Eu não respondi, esperando que ela seguisse em frente.

- Enid? - olhei para ela.

- Faça o que for. Eu não me importo.

- Você vai nadar com a gente, então, se a gente for?

Esfreguei minhas têmporas, em frustração, sentindo vontade de chorar, mas sem saber o porquê.

- Eu não disse que eu queria fazer algo com vocês.

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