Capítulo 16

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⚠️ TW: Violência e abuso.

SEGUNDA SEMANA DE COMPETIÇÃO: SEXTA À NOITE

Dei um abraço em Olivia e Sophia e quando cheguei em Yoko, ela tinha uma expressão estranha no rosto, algo que eu tinha notado desde o início do programa. Seus braços me envolveram com força, puxando-me para perto dela.

- Você vai ficar bem? - assenti, querendo saber a razão dela estar assim - você tem meu número, não é? Qualquer coisa você promete que me liga?

- Eu vou ficar bem, prometo - me senti extraordinariamente feliz por ela se importar tanto assim, mas havia uma pequena semente irritante, que me dizia que ela suspeitava de algo. Ela me soltou depois de me dar outro sorriso, quando Wednesday se aproximou.

- Já vai para casa tão cedo?

- Bem, eu não me importo de ficar aqui... - brinquei, com mais verdade em minhas palavras do que ela jamais saberia. Eu não sei se eu devo abraçá-la ou não, mas enquanto penso, ela me puxa.

- Se você precisar de alguma coisa - ela sussurrou em meu ouvido - eu estou aqui, está bem? Eu estou aqui por você, Enid. Para o que quer que seja - memorizei as palavras, inalando o seu cheiro e aproveitando do quentinho do abraço. Me desembaracei dela gentilmente.

- Eu estou bem - respondi em voz baixa - mas obrigada, de verdade. 

- Não - tinha desespero em seus olhos quando ela colocou a mão em meus ombros, falando baixo, como se ela estivesse à beira de descobrir um grande e poderoso segredo, mas sabendo que ainda estava muito longe de chegar lá - você... eu quero dizer, com relação aos pesadelos, se tiver alguma coisa que eu possa ajudar, qualquer coisa - ela me olhava, seus olhos aflitos, como se tentasse me dizer algo que não podia ser verbalizado.

- Ah - me senti um pouco desconfortável por ela ter tocado no assunto dos pesadelos, mas... por que essa reação agora? Ela suspirou, passando a mão pelos cabelos, parou e respirou fundo, dando uma olhada em meu tio a uns metros atrás de mim, antes de encontrar meu olhar mais uma vez.

- De qualquer forma, eu estou aqui, está me ouvindo? - ela não estava satisfeita com a minha falta de resposta e levantou as mãos para o meu rosto - olhe para mim, eu estou aqui.

- Tudo bem... - eu disse lentamente. Era tão ruim, eu não queria que ela ficasse assim, nem queria ir embora, nem-

- Enid! - meu tio chamou, com os braços cruzados e o pé batendo num ritmo impaciente.

- Tenho que ir - me adiantei e ela me deu um abraço rápido, eu acenei, forcei um sorriso e saí correndo.

SÁBADO

Começou quase que imediatamente - os espancamentos, a zombaria sádica, o abuso. Fui atirada ao chão inúmeras vezes e estava só no meio da tarde. Ele estaria em casa esse fim de semana e se manteve vendo falhas em tudo que eu fazia.

DOMINGO

Na segunda eu volto. Na segunda eu volto. Na segunda eu volto. Na segunda eu volto. Na segunda eu volto. Na segunda eu volto, repeti para mim mesma, mais e mais e mais enquanto eu limpava a cozinha. Meu tio passou por mim e parou de repente.

- O que você disse? - perguntou, me agarrando pelos cabelos e me forçando a olhar para ele. Rangi os dentes pela sensação de dor aguda no meu couro cabeludo, forçando meus músculos do pescoço a relaxarem. Segunda. Segunda. Segunda - repita o que você acabou de dizer! - gritou no meu rosto.

Forcei-me a encontrar seus olhos e dei um sorriso perigosamente confiante.

- Eu vou voltar na segunda, foi o que eu disse.

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