Capítulo 37

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Depois do almoço, tomei um banho e troquei de roupa para sair. Ainda passei algum tempo com as meninas antes de ir, numa espécie de preparo mental, que, no fim das contas, não me preparou para nada.

Depois de deixar o prédio, fiquei cerca de meia hora dentro do carro, sem ter ideia de como ou por onde começar.

Das poucas opções que minha mente foi capaz de formular, escolhi a que me parecia mais coerente: pedir ajuda a quem fosse próximo a mim e favorecido no assunto. Peguei meu telefone e, a contragosto, liguei para Daniel. Mesmo que a alternativa não me agradasse, ele tinha muita proximidade com os responsáveis pelo caso, ele poderia ser útil.

- Fala, Wednesday.

- Oi, Daniel. Uh... onde você está? - lutei para parecer despreocupada.

- Estou em casa, por quê? Algum problema?

- Não... na verdade, eu só queria uma informação.

- Hm... pode falar.

Pairei por alguns segundos, toda a certeza de que aquela seria a coisa certa a fazer caindo por terra. Mesmo assim, decidi seguir em frente. Eu não tinha muita escolha.

- Como posso ter acesso à casa que Enid morava antes? - perguntei, num falso tom de que aquela era pergunta mais simples e casual do mundo.

- O QUE? - ele gritou, como era de seu feitio - para que você quer ter acesso à casa, Wednesday?! Pelo amor de Deus, você está ficando-

- Daniel - falei, num tom calmo, mas por dentro eu não estava nada calma, eu estava feroz - não tem nada a ver com Enid - disparei a mentira - os cinegrafistas esqueceram uns equipamentos realmente caros e necessários lá e vão precisar deles para a gravação de Quinta.

- Ah - ele ponderou por um instante, levando alguns segundos para pensar no que eu acabara de dizer - a chave da casa está apreendida, mas eu posso falar com Peter e ver se tem a possibilidade de alguém te acompanhar até lá.

- Hum... okay - tentei parecer calma, como se um tornado não estivesse se formando dentro de mim - você vai ligar para ele agora? Tenho algumas coisas para resolver ainda hoje - cuspi outra mentira.

- Sim, vou ligar agora, te retorno quando falar com ele.

- Okay.

- E... Wednesday?

- Sim?

- Não queira resolver o que não é problema seu.

- Eu sei disso, Daniel - falei entredentes - vou aguardar seu retorno.

- Okay.

Ouvi o som de fim da ligação e relaxei no banco.

Passei cerca de quinze minutos tamborilando os dedos no volante, esforçando-me para ficar tranquila, mas era improvável demais que aquilo acontecesse. Minhas mãos suavam e tremiam e incontáveis cenários manchavam meus pensamentos.

Como eu poderia ficar tranquila quando a possibilidade de ver o que acontecia plenamente com Enid estava tão próxima de mim? Com a possibilidade fantasmagórica de eu descobrir algo que eu não estava preparada para descobrir? E como eu iria confrontar Enid com minhas novas certezas?

Sacudi minha cabeça, numa tentativa de esquivar-me dos pensamentos. Decidi me dirigir à delegacia, pois se eu fosse realmente ter a oportunidade de ter acesso à casa, eu já estaria pronta quando Daniel me ligasse.

Bem, não é como se eu tivesse coisa mais importante para fazer ou como se a ansiedade não estivesse me consumindo. Então, aquela decisão foi a que mais estava me seduzindo.

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