Capítulo 54

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Acordo em um sobressalto.

Sento na cama, sentindo meu cabelo encharcado pelo suor e meu coração batendo descontroladamente. Aquilo tudo foi tão... real. As lembranças do pesadelo fazem meu cérebro ser preenchido pelo medo familiar e estar sozinha naquela casa enorme não ajuda em nada.

Fazia muito, muito tempo mesmo desde a última vez que eu estive assim, absolutamente só, tanto tempo que eu sequer lembro. Mas, apesar de só, eu sabia que estava segura, mas mesmo segura, eu ainda sentia o medo me dominar.

Tento regular minha respiração, mas era como se fosse impossível conseguir fazer aquilo, eu tinha a sensação de que a qualquer momento eu poderia sufocar. Um ataque de pânico. Isso! A psicóloga me falou sobre isso, ela me explicou muita coisa sobre as sensações e sobre como lidar, mas minha mente não conseguia pensar em nada eficaz para fazer, tudo parecia nublado.

Vai passar.

Vai passar.

Vai passar.

Não vai passar.

Percebendo o tremor em minhas mãos, pego o telefone na cama e olho a hora. 03h:21. Era tarde, mas eu podia ligar para a Wednesday, ela disse que eu podia ligar. Eu estava sozinha e, se eu estivesse certa, em meio a um ataque de pânico, ela não se importaria, não é?

Sem pensar muito sobre a decisão, para não mudar de opinião, disco o número e ligo, vendo uma foto minha beijando a bochecha de Wednesday aparecer na tela.

No segundo toque, ela atende.

- Nid?!

- Wed!

- O que houve? Você está bem?

- Eu tive uma pesadelo, Wed! Um pesadelo horrível! Eu estava aqui e ele voltava... Eu... estava sozinha... e ele voltava. Ele... voltava! Foi horrível! - tento explicar, tropeçando em minhas próprias palavras.

- Enid - o tom de Wednesday muda de preocupado para sério.

- Hã?

- Enid, você bebeu?

*flashback on*

22h:45

Eu não conseguia dormir, não conseguia. Eu estava com muito sono, mas minhas defesas automáticas me impediam de fechar os olhos por mais de um minuto, e aquilo estava me deixando louca. Eu sabia que eu estava totalmente segura na casa de Wednesday, mas tinha aquela parte irritante e irracional do meu cérebro que me fazia achar que muita coisa errada poderia acontecer.

Levanto do sofá e vou até a cozinha. Abro a geladeira, coloco água num copo e bebo. Depois, me sento ao balcão, encarando a parede do lado oposto a mim. Seria tão mais fácil se Wednesday estivesse em casa, eu provavelmente já estaria dormindo.

Eu odiava me apegar tanto, eu odiava depender demais, mas era como se tudo que eu fizesse agora, todo tempo que eu passasse com Wednesday, me levasse a isso, ao apego. Por Deus, eu tinha dezessete anos e não estava conseguindo passar uma noite por conta própria! Isso é ridículo!

Ultimamente tem sido assim, eu não me vejo mais só e eu me odiava por isso. Antes era horrível, mas eu não era tão vulnerável, ao menos o desprendimento e a dormência me faziam mais independente, de um jeito que eu não sabia mais ser. Eu tinha desaprendido. Eu não sabia mais ser só.

Levanto para pegar um pouco mais de água, antes de voltar para a cama, quando uma coisa em especial me chama a atenção. O armário de bebidas.

SilhouettesOnde histórias criam vida. Descubra agora