Capítulo 30

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- Oi, tio - eu o odiava tanto, que vê-lo naquele estado não me causava nenhum tipo de remorso, mesmo tendo convivido por anos com ele.

- Veio ajudar a me soltar? - ele perguntou, rindo de orelha a orelha.

- Não - suspirei, meus dedos estendidos em torno das grades. Por que eu não disse logo para o idiota do Daniel que não queria vê-lo? Eu nunca seria capaz de confrontá-lo.

- Oh - ele pareceu desapontado por um segundo. Ele realmente esperava que eu ajudasse a soltá-lo depois de tudo? Inacreditável - tudo bem, eu vou sair em breve. Então, podemos voltar para casa - falou e olhou para mim. Vendo minha expressão, seus olhos se estreitaram - não é?

Engoli em seco.

- Eu... quer dizer, Wednesday... ela... nós... eu vou ficar com ela.

Houve um segundo de silêncio absoluto, que foi quebrado bruscamente pelo seu grito.

- Você O QUÊ?! - seus dedos apertaram os meus com força contra as grades - SUA INGRATA!

- Desculpa - balbuciei por força do hábito. Tentei dizer a mim mesma que ele não podia me machucar ali, não podia me tocar, mas isso não significou nada com minhas mãos presas as dele e seu rosto a polegadas do meu.

- Então é assim.. - ele sussurrou, soltando minhas mãos - despreza seu tio e já vai indo para outras pessoas, hmm? Bem, eu espero que você seja pelo menos inteligente o suficiente para ter aprendido o que essas pessoas planejam para você.

- O que? - perguntei, entorpecida.

- Um homem não foi suficiente para você, Enid? Você tinha que ir correndo atrás de uma mulher? Idiota! - ele cuspiu com ódio - eu estava só tentando te proteger. Eu avisei: fique longe dessas pessoas - suas palavras eram dardos venenosos atirados em mim - e olhe só agora, vai deixar para se ferrar com elas... de novo - ele negou com a cabeça em lamentação - como ela conseguiu tão rápido que você fosse morar com ela? - ele perguntou.

Não entendi a pergunta.

- Burra! Ela conseguiu sua guarda?

Ele ia tocar no assunto que eu mais temia. Eu sabia.

- Minha guarda temporária - ele bufou, zombeteiramente.

- Pelo amor de Deus, Enid, você é cega? Não está vendo que ela só conseguiu sua guarda temporária para mostrar uma boa ação enquanto o assunto estiver repercutindo e o programa estiver acontecendo, mas que depois ela vai te largar num orfanato qualquer? Porra, eu disse que ninguém se preocupa com você o suficiente para fazer o que ela aparentemente está fazendo, exceto eu. Mas você não ouviu. Agora viva com ela enquanto pode!

- Não - recusei-me a acreditar no que ele dizia.

- Não? Você não confia em mim? O homem que lhe vestiu e lhe alimentou por todos esses anos? - seus olhos eram fogo, me queimando de forma dolorosa como sempre - eles só querem se aproveitar de você para mostrar como são bonzinhos... principalmente Wednesday...

- Não, não é verdade - retruquei. Balancei minha cabeça furiosamente, lágrimas ardendo nos cantos dos meus olhos - tenho que ir - resmunguei.

- Eu te amo, Enid, não esqueça de lembrar todas as noite antes de dormir o que você realmente é. Inútil.

Eu estava ciente de sua manipulação, de que ele só queria me amedrontar, mas ele sabia usar as palavras de maneira torturante e eu... bem, eu era uma vítima fácil para ele, ele sabia disso.

Como que entrando num poço de água fria, senti meu corpo literalmente gelado quando saí correndo dali.

[...]

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