Capítulo 28

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- O que? - perguntei, em descrença.

- Você ouviu - ela disse, quase sem emoção.

- Por favor, Enid, não minta para mim! - disse, exasperada - você pode repetir o que acabou de dizer quantas vezes você quiser, eu não vou acreditar. Eu estou aqui com você, sempre vou estar, o que falta para você confiar em mim?

Seu olhar vacilou e ela não respondeu, mas pelo menos não prosseguiu com a mentira também. Desejei ter a capacidade de entrar na mente dela e ver tudo que se passava por lá. Enid estava pálida, mais pálida que o normal, e o pânico a deixava tão paralisada que podia ser facilmente confundido com indiferença.

- Enid - chamei o mais baixo que pude, como se qualquer palavra que eu dissesse ou qualquer ação minha fosse capaz de desmoronar a pouca estrutura que lhe restava. Ela tinha que sair desse estado de medo. Ela tinha que contar o que aconteceu ou ele não chegaria nem à metade da pena que merecia.

- Hm? - suas ações eram todas calmas e desdenhosas, embora seus olhos estivessem tempestuosos e eu soubesse que tinham mil coisas em sua cabeça agora. Eu sabia, mesmo que ela não estivesse querendo confiar em mim para me contar.

- Enid, você tem que confiar em mim, por favor - passei as mãos pelos cabelos, sem nem saber por onde começar - por que você não pode simplesmente admitir o que ele fez? Ele acabou de te espancar e você tem contusões em cada polegada do seu corpo, todo mundo viu! 

Ela se recusou a olhar para mim, mas eu jurava que podia ver seus olhos brilhando.

- Não.

- Não? - perguntei, com incredulidade, eu não sabia se o "não" tinha sido uma recusa a me ouvir ou uma negação do que eu estava dizendo, mas eu continuei de qualquer jeito - você só precisa... eu não entendo.

- Não tem nada para entender - ela murmurou e pensou bem antes de continuar - eu... eu já disse, Wednesday, eu não posso fazer isso. No fim das contas, seria pior.

Ela estava cega, cega pelo medo, cega pela dor. E eu, sinceramente, não sabia como fazê-la enxergar a verdade.

- Pelo amor de Deus, Enid! - joguei minhas mãos no ar - isso que você está dizendo não faz absolutamente nenhum sentido - ela abriu a boca para discutir, mas eu levantei um dedo em direção a ela - não! Não, eu sei o que você vai dizer, mas primeiro você vai me ouvir. É muito óbvio, Enid. Óbvio que não é a primeira vez. Qualquer um que parasse para prestar o mínimo de atenção perceberia que tinha alguma coisa errada acontecendo com você. Você apareceu nas audições vestindo um casaco num calor insuportável. Depois se recusou a tirar o casaco no segundo dia e também estava fazendo calor. Você desmaiou no caminho para cá pela primeira vez. Você usava roupas de frio o tempo todo, até as meninas estavam comentando sobre isso outro dia. Era para esconder os machucados, não era? E depois de todo, todo fim de semana que você voltava, você estava absolutamente miserável e com medo de mim e de todo mundo. Você voltava cada vez pior!

- Eu não... - ela começou a discutir, mas eu não a deixei terminar.

- Sim, você estava. Você mentiu sobre ter apendicite e hoje eu sei que você pode ter mentido sobre a cirurgia, mas não sobre a dor que estava sentindo - parei, organizando meus pensamentos e tentando ao máximo não sobrecarregá-la com tanta informação - Enid, tem tudo isso e existem mil testemunhas de cada fato desse. Eu juro por Deus, Enid, que eu iria com você até o final e ele nunca mais chegaria perto de você - ela ficou em silêncio, continuando com a recusa a encontrar meus olhos.

- Wednesday... - ela começou depois de um momento de silêncio, mas ela não tinha argumentos, ela sabia disso. Eu podia ver todo o esforço que ela concentrava furiosamente em sua mente, mas depois de uns segundos, seus ombros caíram e eu presumi que ela tinha desistido, incapaz de discutir comigo - Wednesday, por favor...

SilhouettesOnde histórias criam vida. Descubra agora