Capítulo 3

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- Então, Enid - ele respira fundo, enquanto saíamos do carro, no estacionamento de Nunca Mais - você sabe tudo que tem que dizer e fazer - concordo.

- Eu vou me apresentar da melhor forma possível e vou passar para a próxima fase. Se eles perguntarem qualquer coisa, eu respondo de forma apropriada.

- Eu vou estar de olho em você o tempo todo - avisa, enquanto caminhávamos para o set de gravações. Quando passo na frente dele, ele agarra minha cintura, cravando seus dedos em minha pele - eu juro por deus que se você deixar alguém ver as marcas na sua pele ou falar o que não deve... - o encaro, o medo fervendo em mim.

- Eu não vou.. não vou, eu juro.

- E se eles desconfiarem que você não fez essa droga de remoção de apêndice, eu vou ter prazer em deixar uma cicatriz tão profunda que até você vai acreditar que vez uma cirurgia recentemente.

- Eu vou fazer tudo certo, eu prometo - engulo em seco.

- E não dê uma de depressiva também, nada de tocar no assunto dos seus pais - ele fala, enquanto entrávamos na escola.

- E se eles perguntarem?

- QUE? - ele rosna, me levando para um canto onde não tinha ninguém - você não sabe que ninguém quer saber o que merda aconteceu com você?

- Eu só-

Me xingo mentalmente por ainda estar insistindo nisso. Ele me olhava possesso, subindo uma manga do meu casaco e cravando as unhas no lugar que já estava marcado pelos hematomas. Engasgo, perdendo o ar. Queria gritar, chorar, mas só mordo o lábio, sem deixar nenhum ruído escapar.

- O que eu disse? Nada. De. Tocar. No. Assunto. Dos. Seus. Pais. - ele pontua e eu só concordo, quase chorando. Ele desce a manga do casaco, escondendo as manchas em tons azuis e verde - e nada de chorar na frente de ninguém.

- Sim, senhor.

Vou regulando minha respiração enquanto entrávamos, tentando ao máximo me controlar.

[...]

Olho para cima, com completa admiração, quando entramos na escola, onde todos os outros participantes estavam conversando uns com os outros, ansiosos como eu, mas não tanto quanto eu. Era um espaço grande, com luzes fortes no teto. Levanto meu olhar para as luzes, sentindo-me estranhamente como uma prisioneira em seu primeiro gosto pela liberdade, vendo a luz do sol depois de anos de confinamento.

Thornhill vem até nós.

- É incrível, não é?

- Muito - meu tio responde por mim - onde devemos esperar?

- Ali - ela aponta para uma porta dupla, que havia sido deixada aberta por alguém, vi de relance alguns familiares que esperavam sentados - é onde os acompanhantes esperam pelos concorrentes. Vamos chamá-lo depois da vez dela. Mas pedimos que, enquanto isso, espere lá para evitar tumulto.

Ele assente, se distanciando a contragosto de mim junto a Thornhill, me deixando só.

Finalmente.

Depois de poucos minutos, Thornhill volta e eu ainda estava lá, de pé, num impasse gigantesco entre o medo e o êxtase por estar só, depois de tanto tempo. Thornhill me encaminha para o meio do lugar, onde outras pessoas da minha idade estavam agrupadas no chão.

- Boa sorte, ta?

Agradeço a ela e sento devagar, tentando não machucar minhas contusões, mas falhando miseravelmente. Meus braços estavam me incomodando muito e todo meu corpo doía quando encostava em alguma coisa e sentar era dolorido também, mas eu estava acostumada. Tudo bem.

SilhouettesOnde histórias criam vida. Descubra agora