A Arte Que Me Feriu - Livro II [Concluída]

Capítulo 20 - Contentar-se

Helena

Assim que o Ethan para o carro em frente ao hospital, saio do carro e corro o mais rápido possível em direção à porta iluminada com o contraste da noite. Me debato nos braços do Ethan que acabara de me segurar da forma mais intensa possível.

Meu choro e meu desespero me impedem de raciocinar e de ouvir qualquer palavra que o Ethan esteja falando, meu único foco é lutar para entrar no hospital e ver como o meu pai está. Assim que chego na porta automática e vejo o olhar vazio e lamuriante nos olhos da minha mãe enquanto fala com um médico, minhas pernas congelam enquanto sinto a lágrima quente descer pelo meu rosto.

Tudo se encontra em câmera lenta e apenas ruídos rasgam sutilmente os meus ouvidos enquanto assisto o médico consolando a minha mãe ao acariciar seus braços. Ela cobre o rosto com as duas mãos ao contorcê-lo para chorar em agonia.

Eu não preciso pensar muito para chegar na horrível conclusão que me provoca um arrepio dos pés à cabeça e me faz perder completamente o equilíbrio. Tudo que sinto são as mãos do Ethan tentando me segurar enquanto seu corpo se curva junto com o meu. Meu choro rasga a minha garganta e minha a dor alcança uma dor que eu nunca havia sentido antes.

***

Dia seguinte.

07:41

Sinto a garoa fina caindo sobre o meu casaco preto enquanto não consigo não vidrar no caixão com o corpo do meu pai sendo coberto pela terra grossa e fria do chão. Somente Ethan, Benjamin, Úrsula, Nick e eu estamos imersos na mais profunda solidão desse cemitério. O silencio é quase que insuportável porque todos acham que não devem quebrá-lo. E não querem.

Passado uma hora desde que o caixão com o corpo do meu pais está a metros da superfície, permaneço intacta no meu lugar. Meu choro se resume em enfileiradas lágrimas, porém, meu corpo treme sutilmente e não consigo sentir nenhuma parte dele além do meu peito pesado. Meu choro secou desde que cheguei, afinal, foi só o que eu conseguir fazer até o amanhecer. Chorar... chorar...

A verdade está batendo forte na minha cabeça, mas minhas mente se recusa a aceitá-la. Tudo que ela se limita a fazer é jogar o flashback do último momento em que meu pai e eu tivemos. Das brigas... das palavras cortantes... e da forte vontade de nenhum querer ver o outro naquele dia.

Quando suspiro com mais concentração ao fechar os olhos, sinto a mão do Ethan colada na minha e sua sutil respiração pode ser ouvida ao meu lado. Espero da forma mais agonizante possível, o meu celular tocar, mas nenhum sinal de vida emana dele. Respiro com mais intensidade enquanto meus dentes se pressionam e uma grande ira toma conta de mim. - Ela não veio... - Sinto os olhares deles sobre mim. - Como ela pôde não ter vindo?. - Questiono, enquanto me seguro para não gritar de revolta.

Ethan - Helena...

Helena - ELA DEVERIA ESTAR AQUI!. ELA TINHA QUE ESTAR AQUI!. - Começo a gritar disparadamente enquanto sinto os braços do Ethan me apertando contra o seu corpo. - ELA NÃO VEIO... ELA NÃO VEIO. - Mais lágrimas indesejadas voltam a cair.

Ethan - Helena... Eu... Eu sinto muito, meu amor... Eu sinto muito. - Sua voz sai trêmula e bem baixa. Seu lábios colam na minha cabeça e sua mão acaricia o meu cabelo de forma desengonçada e perdida.

Meu choro ganha espaço no meu peito e me leva todas as forças. Choro de forma copiosa enquanto cada músculo do meu rosto dói ao serem pressionados pela vontade imensa de chorar. Me ajoelho na terra fria e úmida enquanto a chuva permanece lavando cada canto desse lugar silencioso e sombrio. Coloco a mão na terra na esperança de tentar sentir o meu pai.

As gotas vão se intensificando, dando lugar a uma chuva mais intensa e agressiva. Indiferente para mim.

Benjamin - Vem, Helena!. - Ele se curva e nossas mãos molhadas se encontram assim que eles se juntam para me levantar.