Helena
Assim que Benjamin para o carro em frente ao cemitério, me vejo perdida em meus pensamentos enquanto pequenas gostas de chuva se chocam com o vidro e provocam sons suaves.
Benjamin - Você está bem?.
Sua pergunta me desperta e me faz encará-lo. Assinto diante da preocupação do seu olhar. - Sim... Só estou um pouco abalada...
Benjamin - Também tem a ver com a sua mãe?. - Ele questiona de maneira cautelosa.
Assinto, perplexa. - Bom... É claro que sim... Eu tentei ser uma boa filha... Juro que tentei... - Minha voz está baixa e reclusa. - Não foi o suficiente para eles...
Benjamin - Eu espero que você saiba que foi o melhor que você pôde fazer no momento!. Nem sempre os outros vão enxergar e valorizar o nosso esforço... - Ele termina com um ar de lamentação.
Estou tão focada no que está acontecendo comigo, que acabei esquecendo que o Benjamin também está sofrendo muito por causa da mãe e do seu surgimento repentino.
Helena - E como tem se sentido com o retorno da sua mãe?. Deve ser algo de tirar o chão!. - Afirmo, compadecida com a sua situação.
Ele assente ao suspirar de forma pesada. - Eu... Eu não queria acreditar... Mas a realidade precisa se encarada!. Mesmo que doa... Mesmo que faça você se sentir a pior pessoa do mundo. - Ele encara o horizonte, completamente imerso em seus devaneios. - Não é fácil saber que você foi o motivo de tanta ausência.
Suas palavras se referem a ele, mas servem perfeitamente para mim. É exatamente assim que eu tenho me sentido.
Benjamin - Desculpa, eu não devia ter escolhido essas palavras em um momento como esse... Sinto muito!. - Ele se recompõe, culpado.
Dou de ombros, compreendendo. - Não se preocupe. Nossas dores não poderiam ser mais parecidas!. - Sorrio, incrédula.
Benjamin - Nem me fale... - Ele acompanha o meu sorriso com a mesma angústia no peito.
O silêncio reina por alguns instantes, dando espaço para o barulho das gotas de chuva se chocando contra o carro.
Helena - Sobre a sua mãe... Alguma vez já pensou em perdoá-la?. - Questiono, curiosa em ouvir sua reposta.
Ele abre um sorriso de chateação e encara suas mãos em seu colo. - No começo, eu fiz de tudo para entender o motivo dela ter ido embora... Compreender!. Achar uma razão que não fosse eu, para que a culpa parasse de me corroer a cada novo dia... Porém, eu não consegui e passei a me ver como o fardo que fez a minha mãe ir embora e... O fardo que provocou a morte do meu irmão... - Seu tom se torna mais emotivo enquanto seu peito se mostra mais agitado. - Foi um erro ter sido o meu próprio matirizador. Eu devia ter usado a minha energia para me convencer de que eu não era culpado... Tantas pessoas teriam sido poupadas, não só eu!. E... Não sei se posso perdoá-la...
Divago sobre suas palavras, me sentindo tocada com as mesmas. - Eu lamento...
Ele assente em agradecimento. - E você?. Acha que consegue perdoar a sua?.
Me vejo muito pequena diante de tal pergunta e tomo alguns segundos de respiração para responder. - Eu não sei também... Eu consegui perdoar o meu pai depois daquela carta e... E gosto de pensar que também posso ser capaz de perdoá-la. Apesar de tudo, não quero perdê-la... - Completo, assustada com a idéia.
Sua mão toca na minha e um sorriso pequeno se desenha em seu rosto. - Não é tarde demais para isso!.
Helena - Obrigado!. - Minha vez de encobrir a sua mão. - Também não é tarde para você. Sei que vai tomar a decisão que achar melhor, mesmo que isso signifique não fazer nada!.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Arte Que Me Feriu - Livro II [Concluída]
Aventura* (Livro II de Apenas Uma Aposta) * Quatro anos após o colégio, Benjamin Leblanc cresceu e amadureceu muito com o tempo desde sua adolescência. Sua vocação sempre foi voltada para a arte, levando-o a abrir, enfim, a sua galeria de arte. A vida semp...