Jenny
Com o choro seco no rosto e todos os músculos fracos, tento me erguer do chão até me esparramar no sofá. Me afundo completamente na perplexidade que eu acabei de vivenciar com os próprios olhos. Meu peito é tomado por uma dor incomensurável e meu corpo inteiro se vê sem forças.
Algo que eu jamais esperava acontecer e pessoas que jamais esperaria rever... Meu filho... Meu filho estava bem aqui... Bem do meu lado esse tempo todo... Meu Benjamin... Como eu não enxerguei isso?. Se passaram tantos anos, mas eu devia ter reconhecido. Sempre que ele me olhava... Eu nunca parei para pensar na possibilidade. Como imaginaria?. O Richard... Meu Deus, o meu Brian... Não... Morto não... O que eu fiz, meu Deus?. O meu filho...
Nunca senti tanto pavor em toda a minha vida... Quando vi o Richard ali... Bem na minha frente depois de anos, o medo tomou conta completamente de mim. Todas as suas palavras afiadas como flechas. Eu as mereci!. Eu destruí a nossa família quando fui embora e ele ficou lá... Tentando remendar os cacos... Eu jamais quis isso... Nunca quis que sofressem, nunca quis que o Brian... Não...
Meu choro volta com o apertar do meu peito e o fechar da minha garganta.
Os olhos vazios do Benjamin... A forma confusa e magoada com que me olhava... Eu causei tudo isso. Trouxe a desgraça para todos eles... Ele veio atrás de mim?. Ele estava buscando respostas?. Ele merecia saber a verdade, mas, ao mesmo tempo, não queria que soubesse para que não acabasse se magoando muito mais.
Na minha frente!. Na minha casa!. Ele estava bem aqui e eu o tratei como um completo desconhecido... Mal posso imaginar o que ele sentiu quando me viu. Eu o abandonei, fui embora e transformei a vida dele em um pesadelo. Eu não consigo imaginar nada pior. Eu achei que eles estivessem bem... Achei que estivessem melhores sem mim e...
Derick - Amor?.
Levanto a cabeça ao ouvir sua voz e o vejo terminar de descer a escada e me fitar com um olhar distante e cabisbaixo. Desvio a atenção, envergonhada por ele já estar ciente de tudo.
Resolvi esconder o meu passado do Derick para ver se eu também conseguiria deixar o passado no lugar dele, mas ele voltou mais forte do que uma rocha e caiu sobre a minha cabeça e, consequentemente, na cabeça dele.
Derick - Eu... Deixei o Oddy no quarto!. - Seus passos se aproximam mais do sofá assim que sua voz retraída ecoa.
Suspiro, ainda não conseguindo fitar seus olhos. - Eu sinto muito... Sinto muito não ter sido sincera com você... - Abraço a almofada para tentar amenizar um pouco a angústia crescente no peito. - Eu não queria que pensasse o pior de mim... Mais do que eu mesma já pensava... Porém, o que eu fiz não tem perdão... Uma mãe que destrói a própria família!. Vou entender se for me odiar...
Lentamente ele se senta no chão na minha frente e seus olhos triste acompanham o passar da sua mão no meu cabelo. - Eu... Eu não consigo odiar você... Mas eu confesso que estou em choque... Seu ex marido chega aqui de repente enquanto seu filho trabalhava na nossa casa... - Ele bufa, visivelmente desnorteado e confuso. Seus olhos penetram os meus assim que ele me faz levantar para que ambos fiquemos sentados lado a lado. - Por que... - Ele toma ar para continuar, deixando clara a sua dificuldade em assimilar a situação. - Por que foi embora?.
Abaixo o meu olhar para as minhas mãos trêmulas e frias. - Eu não parei de me perguntar isso nem por um minuto desde que saí daquela casa... Eu tinha tudo que uma mulher poderia querer... Um marido atencioso e amoroso, uma casa maravilhosa e... dois filhos lindos... - Mais lágrimas voltam a cair enquanto meu peito se aperta em um nó mais agressivo. - Mas eu não percebia o quanto tudo aquilo era maravilhoso na época... Eu achava que eu tinha me equivocado nas minhas escolhas e que não estava pronta para, de fato, ter tudo aquilo. Então, eu fugi... Eu nunca fui uma boa mãe e esposa, queria que eles pudessem ter alguém melhor do que eu... Sei que é mais egoísmo do que qualquer outra coisa... Sei bem!.
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A Arte Que Me Feriu - Livro II [Concluída]
Pertualangan* (Livro II de Apenas Uma Aposta) * Quatro anos após o colégio, Benjamin Leblanc cresceu e amadureceu muito com o tempo desde sua adolescência. Sua vocação sempre foi voltada para a arte, levando-o a abrir, enfim, a sua galeria de arte. A vida semp...