Até Mais Baby....

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— Vejo você mais tarde.
Marília desligou o telefone e a música voltou a tocar.
— Por que você insiste em chamar-me Maiara?
— Porque é seu nome.
— Prefiro Mai.
— De verdade?
Quase chegamos a minha casa. Não demoramos muito.
— Maiara... — Disse-me pensativa.
Olhei-a com uma expressão má, mas ela não se importou.
— O que aconteceu no elevador... não voltará a acontecer. Bom, a
menos que seja premeditado.
— Ela disse.
Parou o carro em frente a minha casa. Dei-me conta, de repente, que
não me perguntou onde eu vivia. Já sabia. Claro que sabia onde vivo, pois
me enviou os livros. Como não o faria um caçadora, com um rastreador de
celular e proprietária de um helicóptero?
Por que não vai voltar a me beijar? Faço um gesto de desgosto ao
pensar nisso. Não a entendo. Honestamente, seu sobrenome deveria ser
Enigmática, não Mendonça. Ela saiu do carro, andando com facilidade, suas
pernas longas deram a volta com graça ao redor do carro para o meu lado a
fim de abrir a porta.
Sempre é uma perfeito cavalheira, exceto, possivelmente,
em estranhos e preciosos momentos nos elevadores. Ruborizei-me e o
pensamento que eu tinha sido incapaz de tocar adentrou na minha mente.
Queria deslizar meus dedos por seu cabelo alvoroçado, mas não podia mover
as mãos. Senti-me frustrada ao lembrar.
— Gostei do que aconteceu no elevador. — Murmurei ao sair do
carro.
Não estou segura se ouvi um ofegar afogado, mas escolhi fazer caso
omisso e subi os degraus da entrada.
Maraisa e Eliot estavam sentados à mesa. Os livros de quatorze mil
dólares não estavam ali, felizmente. Tenho planos para eles. Maraisa mostrou
um sorriso ridículo e pouco habitual, e sua juba despenteada lhe dava um ar
muito sexy. Marília me seguiu até a sala de estar, e embora Maraisa sorrisse
com uma expressão de ter passado uma grande noite, a olhou com
desconfiança.
— Olá, Mai.
Levantou-se para me abraçar e no momento que me separou um
pouco, me olhou de cima a baixo. Franziu o cenho e se voltou para
Marília.
— Bom dia, Marília! — Disse-lhe em tom ligeiramente hostil.
— Senhorita Henrique — Respondeu em seu endurecido tom formal.
— Marília, seu nome é Maraisa, — Eliot resmungou.
— Maraisa.
Marília assentiu com educação e encarou Eliot, que riu e se
levantou para também me abraçar.
— Olá, Mai.
Sorri e seus olhos azuis brilharam. Fiquei bem imediatamente. É
óbvio que não tinha nada a ver com Marília, mas, claro, são irmãos
adotivos.
— Olá, Eliot.
Sorri para ele e me dei conta de que mordia meus lábios.
— Eliot, temos que ir. — Marília disse em tom suave.
— Claro.
Virou-se para Maraisa, abraçou-a e lhe deu um interminável beijo.
Nossa... Arrumem um quarto! Olhei para meus pés, incômoda.
Levantei a visão para Marilia, que me olhava fixamente. Sustentei-lhe o
olhar. Por que não me beija assim? Eliot continuou beijando Maraisa,
empurrou-a para trás e a fez dobrar-se de forma tão teatral que o cabelo dela
quase toca o chão.
— Até mais, baby! — Disse-lhe sorridente.
Maraisa se derreteu. Nunca antes a tinha visto derretendo-se assim.
Veio-me à cabeça as palavras "formosa" e "complacente". Maraisa, complacente.
Eliot deve ser muito bom. Marília revirou os olhos e me olhou com
expressão impenetrável, embora possivelmente a situação a divertisse um
pouco. Apanhou uma mecha de meu cabelo que escapou do meu rabo de
cavalo e o pôs atrás da orelha. Minha respiração entrecortou e ela inclinou
minha cabeça com seus dedos. Seus olhos se suavizaram e passou o polegar
por meu lábio inferior.
O sangue queimou através das minhas veias. E
imediatamente retirou a mão.
— Até mais, baby. — Murmurou.
Não pude evitar rir, porque a frase não combinava com ela. Mas
embora saiba que está esquivando-se, aquelas palavras ficaram cravadas
dentro de mim.
— Passarei para te buscar as oito.
Deu meia volta, abriu a porta da frente e saiu para a varanda. Eliot a
seguiu até o carro, mas se voltou e lançou outro beijo para Maraisa. Senti uma
inesperada pontada de ciúmes.
— E então? — Maraisa perguntou-me com evidente curiosidade
enquanto os observamos subir no carro e afastar-se.
— Nada. — Respondi bruscamente, com a esperança de que isso a
impedisse de continuar com as perguntas.
Entramos em casa.
— Mas é evidente que sim! — Disse-me.
Não posso dissimular a inveja. Maraisa sempre consegue enredar os
homens. É irresistível, bonita, sexy, divertida, atrevida... Justamente o
contrário de mim. Mas o sorriso com o qual me respondeu é contagioso.
— Vou vê-la novamente esta noite.
Aplaudiu e pulou como uma menina pequena. Não pode reprimir seu
entusiasmo e sua alegria, e eu não pude evitar me alegrar. Era interessante
ver Maraisa contente.
— Esta noite Marília vai levar-me a Seattle.
— A Seattle?
— Sim.
— E possivelmente ali...?
— Assim espero.
— Então você gosta dela, não é?
— Sim.
— Você gosta o suficiente para...?
— Sim.
Ergueu as sobrancelhas.
— Uau. Por fim Maiara Carla se apaixona por uma mulher, e é Marília Mendonça, a bonita e sexy multimilionária.
— Claro, claro, é apenas pelo dinheiro.
Sorri afetadamente até que ao final tivemos ambas, um ataque de
riso.
— Essa blusa é nova? — Perguntou-me.
Deixei que ela soubesse todos os detalhes desinteressantes sobre a
minha noite.
— Já te beijou? —Perguntou-me enquanto preparava um café.
Ruborizei-me.
— Uma vez.
— Uma vez! — Exclamou.
Assenti bastante envergonhada.
— É muito reservada.
Maraisa franziu o cenho.
— Que estranha.
— Não acredito, na verdade, que a palavra seja "estranha".
— Temos que nos assegurar de que esta noite esteja irresistível. —
Disse-me muito decidida.
OH, não... Já vejo que vai ser um tempo perdido, humilhante e
doloroso.
— Tenho que estar no trabalho em uma hora.
— Pode trabalhar nesse tempo. Vamos.
Maraisa segurou em minha mão e me levou para casa.
Embora houvesse muito trabalho no Clayton's, as horas passaram-se
lentamente. Como estamos em plena temporada do verão, tenho que passar
duas horas repondo as estantes depois de ter fechado a loja. É um trabalho
mecânico que me deixava tempo para pensar. A verdade é que em todo o dia
não pude fazê-lo.
Seguindo os conselhos incansáveis e francamente impertinentes de
Maraisa, depilei minhas pernas, axilas e sobrancelhas, assim fiquei com a pele
toda irritada. Era uma experiência muito desagradável, mas Maraisa me
assegurou que era o que as mulheres esperavam nestas circunstâncias. Que
mais esperará Marília? Tenho que convencer Maraisa de que quero fazê-la.
Por alguma estranha razão, ela não confiava nela, possivelmente porque
fosse tão tensa e formal. Avisei-a que não saberia dizer como, mas prometi
que lhe enviaria uma mensagem assim que chegasse a Seattle.
Não falei
nada sobre o helicóptero para que não enlouquecesse.
Também havia a questão sobre Japinha. Havia três mensagens e sete
chamadas perdidas suas no meu celular. Também ligou para casa, duas
vezes. Maraisa tem sido muito vaga a respeito de onde eu estou. Ela vai saber
que ela me encobre. Maraisa sempre era muito franca. Mas decidi deixá-la sofrer
um pouco. Ainda estou zangada com ela.
Marília comentou algo sobre uns papéis, e não sei se estava de
brincadeira ou se ia ter que assinar algo. Desesperei-me por ter que andar
conjecturando todo o tempo. E para o cúmulo das desgraças, estou muito
nervosa. Hoje é o grande dia. Estou preparada por fim? Minha deusa interior
me observava golpeando impaciente o chão com um pé. Faz anos que está
preparada, e está preparada para algo com alguém como Marília Mendonça,
embora ainda não entenda o que vê em mim... a pacata Maiara Carla... Não
fazia sentido.
Era pontual, é obvio, e quando saí do Clayton's já me esperava,
apoiada na parte de trás do carro. Abriu a porta para mim e sorriu
cordialmente.
— Boa tarde, senhorita Carla. — Disse-me.
— Sra. Mendonça.
Inclinei a cabeça educadamente e entrei no assento traseiro do carro.
Taylor estava sentado ao volante.
— Olá, Taylor, — Disse-lhe.
— Boa tarde, Srta. Carla. — Respondeu-me em tom educado e
profissional.
Marília entrou pela outra porta e brandamente me apertou a mão.
Um calafrio percorreu todo meu corpo.
— Como foi o trabalho? — Perguntou-me.
— Interminável. — Respondi-lhe com voz rouca, muito baixa e cheia
de desejo.
— Sim, o meu também, pareceu muito longo.
—O que tem feito? — Consegui perguntar.
— Andei com Eliot.
Seu polegar acariciava meus dedos por trás. Meu coração deixou de
bater e minha respiração se acelerou. Como é possível que me afete tanto?
Apenas tocou uma pequena parte de meu corpo, e meus hormônios
dispararam.
O heliporto estava perto, assim, antes que me desse conta, já
havíamos chegado. Perguntei-me onde estaria o lendário helicóptero.
Estamos em uma zona da cidade repleta de edifícios, e até eu sei que os
helicópteros necessitam espaço para decolar e aterrissar. Taylor estacionou,
saiu e abriu minha porta. Em um momento, Marília estava ao meu lado e
pegou minha mão novamente.
— Preparada? — Perguntou-me.
Assenti. Queria lhe dizer: "Para tudo", mas estava muito nervosa para
articular qualquer palavra.
— Taylor.
Fiz um gesto para o chofer, entramos no edifício e nos dirigimos para
os elevadores. Um elevador! A lembrança do beijo daquela manhã voltou a
me obcecar.
Não pensei em nada mais por todo o dia. Mesmo no Clayton's não
podia tirar tudo da cabeça. O Sr. Clayton precisou gritar comigo duas vezes
para que voltasse para a Terra. Dizer que estive distraída era pouco.
Marília me olhou com um ligeiro sorriso nos lábios. Ah! Ela também estava
pensando no mesmo.
— São apenas três andares. — disse-me com olhos divertidos.
Tenho certeza que tem telepatia. É horripilante.
Pretendi manter o rosto impassível quando entramos no elevador. As
portas se fecharam e aí está a estranha atração elétrica, crepitando entre
nós, apoderando-se de mim. Fechei os olhos em uma vã intenção de dissipá-
la. Ela apertou minha mão com força, e cinco segundos depois as portas se
abriram no terraço do edifício. E lá estava, um helicóptero branco com as
palavras Mendonça ENTERPRISES HOLDINGS, Inc. em cor azul e o logotipo da
empresa de outro lado.
Certamente que isto é esbanjar os recursos da
empresa.
Ela me levou a um pequeno escritório onde um velho estava sentado
atrás da mesa.
— Aqui está seu plano de vôo, Sra. Mendonça. Revisamos tudo. Está
preparado, lhe esperando, senhora. Pode decolar quando quiser.
— Obrigado, Joe. — Respondeu-lhe Marília com um sorriso quente.
Ora, alguém que merecia que Marília a tratasse com educação.
Possivelmente não trabalhava para ela. Observei a ancião assombrada.
— Vamos. — Disse-me Marília.
E nos dirigimos ao helicóptero. De perto era muito maior do que
pensava. Supunha que seria um modelo pequeno, para duas pessoas, mas
contava com, no mínimo, sete assentos. Marília abriu a porta e me indicou
um assento na frente.
— Sente-se. E não toque em nada. — Ordenou-me e subiu por trás
de mim.
Fechou a porta. Alegrei-me que toda a zona ao redor estivesse
iluminada, porque do contrário, nada se veria na cabine. Acomodei-me no
assento que me indicou e ela se inclinou para mim para me atar o cinto de
segurança. É um cinto de quatro pontos com todas as tiras se conectando a
um fecho central. Apertou tanto as duas tiras superiores, que eu não podia
me mover.
Ela estava tão próxima a mim, muito concentrada no que fazia. Se
pudesse me inclinar um pouco para frente, afundaria o nariz em seu cabelo.
Cheirava a limpo, fresco, divino, mas eu estava firmemente atada ao assento
e não podia me mover. Levantou o olhar para mim e sorriu, como se lhe
divertisse essa brincadeira que apenas ela entendesse. Seus olhos brilharam.
Estava tentadoramente perto. Contive a respiração enquanto me aperta uma
das tiras superiores.
— Está segura. Não pode escapar. — Sussurrou-me. — Respira,
Maiara. — Acrescentou em tom doce.
Aproximou-se, acariciou meu rosto, correndo os dedos longos até
meu queixo, que pegou entre o polegar e o indicador. Inclinou-se para frente
e me deu um rápido e casto beijo. Fiquei impactada, me revolvendo por
dentro ante o excitante e inesperado contato de seus lábios.
— Eu gosto deste cinto. — Sussurrou-me.
O que?
Acomodou-se ao meu lado, atou-se ao seu assento e em seguida
começou um processo de verificar medidores, virar interruptores e apertar
botões do enorme gama de marcadores, luzes e botões na minha frente.
Pequenas esferas piscaram luzinhas, e todo o painel de comando estava
iluminado.
— Ponha os fones de ouvido — Disse-me apontando uns fones na
minha frente.
Coloquei-os e o motor começou a girar. Era ensurdecedor. Ela
também colocou os fones e seguiu movendo as alavancas.
— Estou fazendo todas as comprovações prévias ao vôo.
Ouvi a imaterial voz de Marília pelos fones. Virou-se para mim e
sorriu.
— Sabe o que faz? — Perguntei-lhe.
Voltou-se para mim e sorriu.
— Fui pilota por quatro anos, Maiara. Está a salvo comigo. —
Disse sorrindo-me de orelha a orelha. — Bom, ao menos enquanto
estivermos voando. — Acrescentou com uma piscadela.
Piscando... Marília!
— Pronta?
Concordei com os olhos muito abertos.



Eitaaaa... Maira tá indo pro abate da Marilhão 😏

Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)Onde histórias criam vida. Descubra agora