— Fale-me mais sobre Elliot e seu excesso de uso, — pergunto-lhe
quando paro por fim. Eu posso sentir que estou relaxando, pela primeira vez,
desde que estava fazendo fila no banheiro do bar... antes da chamada de
telefone que começou tudo isto... quando admirava o senhora Mendonça à
distância. Dias felizes e sem complicações.
Maraisa se ruboriza. Oh,... Maraisa Henrique se
converte em Maiara Carla. Lança-me um olhar ingênuo. Nunca
antes a tinha visto reagir assim por um homem.
Meu queixo cai tanto que chega ao chão. Onde está Maraisa? O que fizeram com
ela?
— Oh, Mai, — ela me diz entusiasmada. — Ele é tão... tão... tudo. E quando
nós... Oh... é fantástico. — Ela está tão alterada que logo não pode completar
uma frase.
— Eu penso que você está tentando me dizer que você gosta dele.
Ela concorda com a cabeça, rindo como uma lunática.
— E vou vê-lo no sábado. Vai nos ajudar com a mudança. — Junta as
mãos, levanta do sofá e se dirige à janela fazendo piruetas. A mudança.
Merda, eu tinha esquecido disso, apesar de haver caixas por toda parte.
— Muito amável de sua parte, — digo-lhe. Assim o conhecerei também.
Possivelmente possa me dar mais pistas sobre sua estranha e inquietante
irmã.
— Então, o que fizeram ontem à noite? — pergunto-lhe. Ela inclina a
cabeça para mim e levanta as sobrancelhas em um gesto que deve dizer: "O
que te parece que fizemos, idiota?".
— Mais ou menos o mesmo que vocês fizeram, mas nós jantamos
antes. — Ela sorri para mim. — Você realmente está bem? Parece um pouco
sobrecarregada.
— Estou sobrecarregada. Marília é muito intensa.
— Sim, já faço uma ideia. Mas ela foi bom para você?
— Sim, — tranqüilizo-a. — Estou morta de fome. Quer que prepare
algo?
Ela concorda e coloca um par de livros em uma caixa.
— O que quer fazer com os livros de quatorze mil dólares? — pergunta-
me.
— Vou devolvê-los.
— Realmente?
— É um presente exagerado. Não posso aceitá-lo, especialmente agora.
— Sorrio, e Maraisa concorda com a cabeça.
— Eu entendo você. Chegou um par de cartas para você, e Japinha não
deixou de ligar. Parecia desesperada.
— Vou ligar para ela, — murmuro evasiva. Se contar para Maraisa sobre
Japinha, ela vai querer ela para o café da manhã. Recolho as cartas da mesa e
as abro.
— Ei, tenho entrevistas! Dentro de duas semanas, em Seattle, para
fazer estágio.
— Em uma editora?
— Para duas delas!
— Eu lhe disse que seu curiculum acadêmico lhe abriria portas, Mai.
Maraisa já tem seu posto para fazer as práticas no The Seattle Time, é
obvio. Seu pai conhece alguém, que conhece alguém.
— Como Elliot se sente por você sair de férias? — pergunto-lhe.
Maraisa se dirige para a cozinha, e pela primeira vez desde que cheguei
parece desconsolada.
— Ele entende. Uma parte de mim não quer partir, mas é tentador
demais ficar tomando banho de sol um par de semanas. Além disso, minha
mãe não deixa de insistir, porque acredita que serão nossas últimas férias
em família, antes que Ethan e eu comecemos a trabalhar a sério.
Eu nunca saí dos Estados Unidos. Maraisa vai por duas semanas a
Barbados, com seus pais e seu irmão, Ethan. Ficarei sozinha duas semanas,
sem Maraisa, na casa nova. Será estranho. Ethan esteve viajando pelo mundo
desde o ano passado, depois de graduar-se. Por um momento me pergunto
se o verei antes que saiam de férias. É um tipo muito simpático. O telefone
me tira de meu devaneio.
— Deve ser Japinha.
Suspiro. Sei que tenho que falar com ela. Levanto o telefone.
— Alô.
— Mai, você voltou! — exclama Japinha aliviada.
— Obviamente. — Respondo-lhe com certo sarcasmo e rolo os olhos
para o telefone.
Ela fica em silencio por um momento.
— Posso ver você? Sinto muito sobre sexta-feira. Estava bêbada... e
você... bem. Mai, me perdoe, por favor.
— Claro que te perdoo, Japinha. Mas não repita isso de novo. Sabe quais
são meus sentimentos por você.
Ela suspira profundamente, com tristeza.
— Eu sei, Mai. Mas pensei que se beijasse você, possivelmente seus
sentimentos mudassem.
— Japinha eu te amo fraternalmente, você é muito importante para mim. É
como a irmã que nunca tive. E isso não vai mudar. Você sabe disso. — Eu
sei que o estou magoando, mas é a verdade.
— Então, você saiu com ela? — pergunta-me com desdém.
— Japinha, não sai com ninguém.
— Mas você passou a noite com ela.
— Não é da sua conta!
— É pelo dinheiro?
— Japinha! Como se atreve? — grito-lhe, atônita por seu atrevimento.
— Mai, — ela diz com voz queixosa, em tom de desculpa. Eu não estou
disposta a aguentar seus ciúmes mesquinhos. Sei que está machucada, mas
já tenho bastante lutando com Marília Mendonça.
— Talvez possamos tomar um café amanhã. Ligarei para você, — digo-
lhe em tom conciliador.
Ela é minha amiga e lhe tenho muito carinho. Mas neste momento não
estou precisando disso.
— Amanhã, então. Você me liga? — Sua voz esperançosa me comove.
— Sim... boa noite, Japinha. — Desligo, sem esperar sua resposta.
— O que foi tudo isto? — Maraisa pergunta-me com as mãos nos
quadris. Eu decido que o melhor quer dizer a verdade. Parece mais
obstinada que nunca.
— Ela tentou me beijar na sexta-feira.
— Japinha? E Marília Mendonça? Mai, seus feromônios devem estar fazendo
horas extras. No que estava pensando essa imbecil? — Ela sacode a cabeça
zangada e segue empacotando.
Quarenta e cinco minutos mais tarde, fizemos uma pausa para
degustar a especialidade da casa, minha lasanha.
Maraisa abre uma garrafa de vinho e nos sentamos para comer entre as caixas,
bebendo vinho tinto barato e vendo porcarias na televisão. Essa é a
normalidade. É bem recebida e tranquilizadora depois das últimas quarenta
e oito horas de... loucura. É minha primeira comida, em dois dias, sem
preocupações, sem que insistam e em paz. Qual o problema que Marília
tem com a comida? Maraisa recolhe os pratos enquanto eu acabo de empacotar o
que fica na sala de estar. Só deixamos o sofá, a televisão e a mesa. O que
mais poderíamos necessitar? Só falta empacotar o conteúdo de nossos
quartos e a cozinha, e temos toda a semana pela frente. Resultado!
O telefone volta a tocar. É Elliot. Maraisa me pisca um olho e vai para o
seu quarto, saltitando como se tivesse quatorze anos. Sei que deveria estar
escrevendo seu discurso oficial, mas parece que Elliot é mais importante. O
que acontece com os Mendonças? O que os faz tão absorventes, tão
devoradores e tão irresistíveis? Tomo outro gole de vinho.
Faço uma rápida busca por algum programa de TV, mas no fundo sei
que estou me demorando de propósito. O contrato está queimando dentro de
minha bolsa. Terei forças para lê-lo esta noite?
Apoio à cabeça nas mãos. Tanto Japinha como Marília querem algo de
mim. Com Japinha é fácil. Mas Marília... Marília tem um campeonato
totalmente diferente, de manipulação, de entendimento. Uma parte de mim
quer sair correndo e se esconder. O que vou fazer? Penso em seus ardentes
olhos cinza, em seu intenso e provocador olhar e fico tensa. Ela nem está
aqui, e eu estou ligada. Isso não pode ser só sobre sexo, pode? Lembro de
sua conversa suave, esta manhã no café da manhã, a sua alegria com o meu
prazer com o passeio de helicóptero, ela tocando piano, essa música tão
triste, doce e comovedora...
Ela é uma pessoa muito complicada. E agora comecei a entender por
que. Uma menina privada de adolescência, sexualmente abusada por uma
malvada senhora Robinson... não é estranho que pareça mais velha do que
é. Meu coração se enche de tristeza ao pensar no que no que ela deve ter
passado. Sou muito ingênua para saber exatamente do que se trata, mas a
pesquisa deve me dar um pouco de luz. Embora de verdade, quero saber?
Quero explorar esse mundo do qual não sei nada?
É um passo muito importante.
Se não a tivesse conhecido, seguiria tão feliz, alheia a tudo isto. Minha
mente se translada para a noite de ontem e a esta manhã... a incrível e
sensual sexualidade que experimentei. Quero dizer adeus a isso? Não!
exclama meu subconsciente... Minha deusa interior concorda em um
silêncio zen, para mostrar que está de acordo com ela.
Maraisa volta para a sala de estar, sorrindo de orelha a orelha. Talvez ela
esteja apaixonada. Eu olho para ela, boquiaberta. Nunca se comportou
assim.
— Mai, vou para cama. Estou muito cansada.
— Eu também, Maraisa.
Ela me abraça.
— Alegro-me que tenha voltado sã e salva. Há algo estranho em
Marília, — ela acrescenta em voz baixa, em tom de desculpa. Eu sorrio
para tranquilizá-la, embora pense... Como diabos ela sabe? Por isso ela será
uma jornalista tão boa, por sua infalível intuição.
Pego a minha bolsa, vou para o meu quarto com passo desinteressado. Os
esforços sexuais das últimas horas e o total e absoluto dilema que me
enfrento me deixaram esgotada. Sento-me na cama, tiro da bolsa com
cautela, o envelope de papel pardo e dou voltas com ele entre as mãos. Estou
segura de que quero saber até onde chega à depravação de Marília? É tão
assustador. Respiro fundo e com o coração na garganta, eu abro o envelope......
Caramba. Nem sequer tenho forças para dar uma olhada à lista dos
mantimentos. Engulo em seco, tenho a boca seca, e volto a ler.
Minha cabeça está zumbindo. Como vou aceitar tudo isto? E
aparentemente é em meu benefício, para que explore minha sensualidade e
meus limites de forma segura... oh, por favor! É de fazer rir. Servi-la e
obedecê-la em tudo. Em tudo! Sacudo a cabeça com descrença. Na realidade,
os votos de matrimônio não utilizam palavras como... obediência?
Desconcerta-me. Os casais ainda dizem isso? Só três meses, por isso houve
tantas? Não ficam muito tempo? Ou já tiveram bastante em três meses?
Todos os fins de semana? É muito. Não poderei ver Maraisa nem os amigos que
possa fazer em meu novo trabalho, caso eu encontre um trabalho... Talvez
eu devesse reservar um fim de semana ao mês só para mim. Talvez, quando
tiver minha menstruação, parece... prático.
É minha dona! Terei que fazer o que lhe agrade! Caramba.
Estremeço ao pensar que ela poderá me açoitar ou me amarrar. Talvez
os açoites não sejam tão graves, embora humilhantes. E me amarrar? Bom,
já me amarrou as mãos. Isso foi... bem, foi excitante, muito excitante, assim
possivelmente tampouco seja tão grave. Não me emprestará a outro
Dominante... maldita seja, é obvio que não. Seria totalmente inaceitável. Por
que eu ainda estou pensando sobre isso?
Não posso olha-la aos olhos. Que estranho! É a única maneira de ter
alguma possibilidade de saber o que está pensando. Mas a quem tento
enganar? Nunca sei o que está pensando, mas eu gosto de olhá-la nos olhos.
São bonitos, cativantes, inteligentes, profundos e escuros, escuros com
segredos dominantes. Penso em seu olhar ardente e aperto minhas coxas, eu
estremeço.
E não posso tocá-la. Bem, isto não me surpreende. E essas estúpidas
regras... Não, não, não posso. Cubro o rosto com as mãos. Isso não é a
maneira de manter uma relação. Preciso dormir um pouco. Estou
fisicamente esgotada. As travessuras físicas que pratiquei nas últimas vinte
e quatro horas foram, francamente, exaustivas. E mentalmente... Oh,
Mulher, isso é muito para levar a bordo. Como diria Japinha, uma autêntica
fodida mental. Possivelmente pela manhã, isso não me pareça uma
brincadeira de mau gosto.
Levanto-me e me troco rapidamente. Talvez devesse pedir emprestado
para Maraisa o seu pijama rosa de flanela. Eu estou precisando do contato com
algo fofinho e tranquilizador. Vou para o banheiro para escovar os dentes,
vestindo camiseta e calças curtas de pijama.
Eu me olho no espelho do banheiro. Eu não posso considerar isso
seriamente...
Meu subconsciente parece sensato e racional, e não sarcástico, como está
acostumado a ser. A deusa interior não deixa de saltitar e bater palmas
como uma menina de cinco anos. Por favor, vamos fazer isso... se não,
acabaremos sozinhas, com um montão de gatos, e suas novelas como
companhia.
A única Mulher que já me atraiu, chega com um maldito contrato, um
chicote e um sem-fim de regras e cláusulas. Bem, ao menos consegui o que
queria este fim de semana. Minha deusa interior deixa de saltar e sorri com
serenidade. OH, sim... articula com os lábios, acenando para mim
presunçosamente.
Ruborizo ao recordar de suas mãos e sua boca sobre mim, seu corpo dentro
do meu. Fecho os olhos, eu sinto a força familiar e deliciosa dos meus
músculos de baixo, profundo. Eu quero fazer isso de novo e de novo. Talvez
se eu só assinasse para o sexo... ela aceitaria isso? Suspeito que não.
Eu, submissa? Talvez eu venha através dessa forma. Talvez eu o tenha
enganado na entrevista. Sou tímida, sim... mas submissa? Eu deixei a Maraisa
me intimidar... não é mesmo? E esses limites suaves, caramba. Confundo a
minha cabeça, embora me tranquilize saber que temos que discuti-los.
Volto para meu quarto. É muito para pensar a respeito. Preciso limpar
a cabeça, uma abordagem pela manhã, quando estiver de cabeça fresca para
resolver o problema. Guardo os documentos ofensivos na bolsa.
Amanhã... amanhã será outro dia. Meto-me na cama, apago a luz e fico
olhando ao teto. Oh, eu queria nunca tê-la conhecido. Minha deusa interior
sacode sua cabeça para mim. Ela e eu sabemos que é mentira. Eu nunca
tinha me sentido tão viva.
Fecho meus olhos e mergulho em um sono profundo com sonhos
ocasionais de camas com dossel, envelopes de papel manilha e intensos
olhos cinza.
Maraisa me acorda na manhã seguinte.
— Mai, eu devo chamar você. Você deve ter sentido frio.
Meus olhos se negam a abrir-se. Não só se levantou, mas sim, saiu
para correr. Dou uma olhada para o despertador. São oito da manhã.
Caramba, dormi mais de nove horas.
— O que foi? — balbucio meio dormindo.
— Chegou um homem com um pacote para você. Tem que assinar.
— O que?
— Vamos. É grande. Parece interessante. — Ela dá pulinhos
entusiasmados e volta para a sala de estar. Saio da cama e pego o robe, que
está pendurado na porta. Um homem jovem, com um rabo de cavalo, está
em pé na nossa sala de estar, segurando uma caixa grande nas mãos.
— Olá — eu murmuro.
— Eu vou preparar um chá. — Maraisa diz, indo para a cozinha.
— Senhorita Carla?
E imediatamente sei quem me manda o pacote.
— Sim, — eu respondo-lhe com receio.
— Trago um pacote para você, mas tenho que instalá-lo e lhe ensinar a
utilizá-lo.
— Sério? A estas horas?
— Eu só cumpro ordens, senhora. — Ele me dá um sorriso
encantador, mas profissional, como se dissesse: “não me venha com
bobagens”.
Ele acaba de me chamar de "senhora"? Envelheci dez anos em uma
noite? Se for assim, é culpa do contrato. Franzo os meus lábios com
desgosto.
— Ok, o que é isso?
— É um MacBook Pro.
— É claro que é. — Eu digo, rolando os olhos.
— Ainda não está nas lojas, senhora. É o último da Apple.
Por que não me surpreende? Suspiro ruidosamente.
— Coloque-o aí, na mesa de jantar.
Vou à cozinha para me juntar a Maraisa.
— O que é? — Ela me pergunta curiosa, com os olhos brilhantes.
Também, ela dormiu muito bem.
— Um notebook de Marília.
— Por que ela mandou um notebook? Sabe que pode utilizar o meu, —
ela franze o cenho.
Não para o que ela tem em mente.
— Oh, é só um empréstimo. Queria que eu experimentasse isso. —
Minha desculpa parece pouco convincente, mas Maraisa concorda.
eu enganei Maraísa Henrique. Pela primeira vez. Ela me passa
uma taça de chá.
O notebook é brilhante, prateado e bastante bonito. Ele tem uma tela
muito grande.
Marília Mendonça gosta das coisas grandes... Eu penso no lugar onde ela vive,
na verdade, na área de seu apartamento.
— Ele tem o mais recente sistema operacional e um conjunto completo
de programas, além de um disco rígido de 1,5 terabytes, assim terá muito
espaço, 32 gigas de RAM... Para que vai utilizá-lo?
— Bem... para mandar e-mails.
— E-mails! — Ele exclama pasmo, elevando as sobrancelhas, com um
olhar um pouco doente no rosto.
— E, talvez, navegar na internet? — acrescento, encolhendo os ombros,
quase me desculpando.
Ele suspira.
— Bem, este tem pleno acesso sem fio N, e o instalei com as
especificações de sua conta. Este bebê está preparado para funcionar,
virtualmente, em todo planeta. — Ele me explica, olhando-o com certo
desejo.
— Minha conta?
— Sua nova conta de e-mail.
Tenho uma conta de e-mail?
Ele aponta para um ícone na tela e segue me falando, mas é como
ruído branco. Não entendo uma palavra do que diz e, para ser sincera, não
me interessa. Só me diga como ligá-lo e desligá-lo... o resto eu descobrirei
sozinha. Depois de tudo, tem quatro anos que utilizo o da Maraisa. Maraisa assobia
impressionada, assim que o vê.
— É tecnologia de última geração. — Ela levanta as sobrancelhas para
mim. — A maioria das mulheres recebem flores ou talvez jóias, — ela diz
sugestivamente, tentando conter um sorriso.
Faço uma careta, mas não posso aguentar séria. Nós duas temos um
ataque de risada, o rapaz que mexia no notebook, nos olha perplexo, com a
boca aberta. Ele termina e me pede para assinar a folha de entrega.
Enquanto Maraisa o acompanha à porta, sento-me com minha taça de
chá, abro o programa de correio e descubro que está me esperando um e-
mail de Marília. O coração dá um salto. Tenho um email de Marília Mendonça.
Abro-o, nervosa.
De: Marília Mendonça
Data: 22 de maio de 2015 23:15
Para: Maiara Carla
Assunto: Seu novo ordenador
Querida senhorita Carla:
Confio que tenha dormido bem. Espero que faça bom uso deste
notebook, como comentamos.
Estou impaciente pelo jantar com você, na quarta-feira.
Até então, estarei encantada de responder a qualquer pergunta via e-
mail, se o desejar.
*************************************
Aperto em "Responder".
De: Maiara Carla
Data: 23 de maio de 2015 08:20
Para: Marília Mendonça
Assunto: Seu novo computador (em empréstimo)
Dormi muito bem, obrigado... por alguma estranha razão... Senhora.
Acreditei entender que o computador era em empréstimo, quer dizer,
não é meu.
Mai
Sua resposta chega instantaneamente.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 08:22
Para: Maiara Carla
Assunto: Seu novo computador (em empréstimo)
O computador é em empréstimo. Indefinidamente, senhorita Carla.
Observo, pelo seu tom, que andou lendo a documentação que lhe dei.
Tem alguma pergunta?
Não posso evitar de sorrir.
De: Maiara Carla
Data: 23 de maio de 2015 08:25
Para: Marília Mendonça
Assunto: Mentes inquisitivas
Tenho muitas perguntas, mas não me parece adequado fazer isso via
e-mail, e alguns de nós tem que trabalhar para ganhar a vida.
Não quero, nem necessito, um computador indefinidamente.
Até mais tarde. Que tenha um bom dia... Senhora.
Quase instantaneamente, há uma resposta.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 08:26
Para: Maiara Carla
Assunto: Seu novo computador (de novo em empréstimo)
Até mais tarde, querida.
P.S.: Eu também trabalho para ganhar a vida.
*************************************
Fecho o computador sorrindo como uma idiota. Como posso resistir a Marília brincalhona? Vou chegar tarde no trabalho. Bom, é minha última
semana... Certamente o senhor e a senhora Clayton farão um pouco de vista
grossa. Corro para o banheiro sem poder tirar o sorriso, de orelha a orelha.
Ela me mandou e-mails! Sinto-me como uma menina tonta. Todas as
angústias pelo contrato, desapareceram. Enquanto lavo o cabelo, tento
pensar no que poderia lhe perguntar por e-mail, embora, certamente, estas
coisas são melhores para conversar ao vivo. Suponhamos que alguém invada
a sua conta... Ruborizo sozinha, só de pensar. Visto-me rapidamente, me
despeço de Maraisa aos gritos e saio para trabalhar, minha última semana no
Clayton'S.
Japinha me liga, às onze.
— Olá, vamos tomar um café?
Seu tom é o do Japinha de sempre, minha amiga Japinha, não um... como a
chamou Marília? Uma pretendente. Ugh.
— Claro. Estou no trabalho. Pode passar por aqui, digamos, às doze?
— Vejo você então.
Desligo e volto a repor as brocas e a pensar em Marília Mendonça e seu
contrato.
Japinha é pontual. Entra na loja saltitando vacilante como um
cachorrinho brincalhão de olhos escuros.
— Mai. — Ela esboça seu deslumbrante sorriso hispano-americano, e
eu já não estou mais aborrecida.
— Olá, Japinha. — Eu a abraço. — Estou morta de fome. Vou dizer à
senhora Clayton que estou saindo para comer.
No caminho da cafeteria, agarro o braço de Japinha. Eu estou tão grata
por sua... normalidade. Uma amiga que eu conheço e entendo.
—Mai, — ela murmura, — você me perdoou de verdade?
— Japinha, você sabe, nunca poderei estar muito tempo zangada contigo.
Ela sorri.
Estou impaciente para chegar em casa, para ver se tenho algum e-mail de
Marília, e possivelmente, possa começar minha pesquisa. Maraisa saiu, assim
ligo o novo computador e abro o programa de correio. É obvio, na caixa de
entrada tenho um e-mail da Marília. Quase salto da cadeira de tanta
alegria.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 17:24
Para: Maiara Carla
Assunto: Trabalhar para ganhar a vida
Querida senhorita Carla:
Espero que tenha tido um bom dia no trabalho.
Aperto "Responder".
De: Maiara Carla
Data: 23 de maio de 2015 17:48
Para: Marília Mendonça
Assunto: Trabalhar para ganhar a vida
Senhora... Eu tive um dia excelente no trabalho.
Obrigada.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 17:50
Para: Maiara Carla
Assunto: Ao trabalho!
Senhorita Carla:
Alegro-me tanto que tenha tido um dia excelente.
Enquanto escreve e-mails, não está pesquisando.
De: Maiara Carla
Data: 23 de maio de 2015 17:53
Para: Marília Mendonça
Assunto: Aborrecido
Senhora Mendonça, pare de me mandar e-mails e poderei começar a fazer
minha tarefa.
Eu gostaria de tirar outro A.
Abraço a mim mesma.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 17:55
Para: Maiara Carla
Assunto: Impaciente
Senhorita Carla,
Deixe de me escrever e-mails... e faça a sua tarefa.
Eu gostaria de lhe dar outro A.
O primeiro foi muito bem merecido. 😉
Marília Mendonça acaba de me enviar uma piscada... Oh meu. Abro o Google.
De: Maiara Carla
Data: 23 de maio de 2015 17:59
Para: Marília Mendonça
Assunto: Investigação na internet
Senhora Mendonça,
O que você sugere que eu coloque no buscador?
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 18:02
Para: Maiara Carla
Assunto: Investigação na internet
Senhorita Carla:
Comece sempre pela Wikipedia.
Não quero mais e-mails a menos que tenha perguntas.
Entendido?
De: Maiara Carla
Data: 23 de maio de 2015 18:04
Para: Marília Mendonça
Assunto: Autoritário!
Sim... senhora.
É muito autoritária.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 18:06
Para: Maiara Carla
Assunto: Controlando
Maiara, você não imagina quanto.
Bem, talvez agora faça uma ligeira ideia.
Faça o trabalho.
Eu teclo “submissa” na Wikipédia.
Meia hora depois, eu me sinto levemente enjoada e francamente
chocada, até o âmago. Eu realmente quero colocar tudo isso na cabeça?
Caramba, é isto o que ela faz no Quarto Vermelho da Dor? Sento-me,
olhando para a tela, e uma parte de mim, uma parte muito úmida e
integrante de mim, que só familiarizei-me muito recentemente, está
seriamente ligada. Oh meu, algumas dessas coisas são EXCITANTES. Mas
são para mim? Puta merda... eu poderia fazer isso? Eu preciso de espaço. Eu
preciso pensar.
Pela primeira vez em minha vida, saio para correr voluntariamente.
Procuro meus asquerosos tênis, que nunca uso, uma calça de moletom e
uma camiseta. Faço uma trança, ruborizo-me com as lembranças que
voltam à minha mente e ligo o iPod. Não posso me sentar em frente a essa
maravilha da tecnologia e seguir vendo ou lendo mais material inquietante.
Preciso queimar parte desta excessiva e enervante energia. A verdade é que
gostaria de correr até o hotel Heathman e exigir sexo desta maníaca por
controle. Mas está a oito quilômetros, e duvido que possa chegar a correr
dois, muito menos oito, e, claro, ela poderia não aceitar, o que seria muito
humilhante.
Quando abro a porta, Maraisa está saindo de seu carro. Ela quase
deixa as compras caírem quando me vê. Maiara Carla com tênis de corrida. Eu
aceno e não paro, por causa da inquisição. Preciso de algum tempo sozinha.
Snow Patrol está tocando em meus ouvidos, e saio para o céu opala e aruá
marinha, do anoitecer.
Passo pelo parque. O que vou fazer? Desejo-a, mas nesses termos? A
verdade é que não sei. Talvez eu devesse negociar o que quero. Revisar esse
ridículo contrato linha a linha e dizer o que me parece aceitável e o que não.
Minha pesquisa me disse que legalmente é sem nenhum valor. Ela deve
saber. Suponho que só serve para definir os parâmetros da relação. Ela
ilustra o que posso esperar dela e o que ela espera de mim, a minha
submissão total. Estou preparada para dar isso a ela? Sou mesmo capaz?
Uma pergunta me persegue, por que é ela assim? Será que é porque
foi seduzida quando era muito jovem? Eu simplesmente não sei. Ela ainda é
um mistério.
Eu paro ao lado de um grande pinheiro e apoio as mãos em
meus joelhos, respirando com dificuldade, puxando o precioso ar para os
meus pulmões. Sinto-me bem, é fantástico. Sinto que minha determinação
se fortalece. Sim. Tenho que lhe dizer o que me parece bem e o que não.
Tenho que lhe mandar por e-mail o que penso, e então poderemos discutir
na quarta-feira. Eu respiro fundo, para me limpar por dentro, e dou a volta
para casa.
Maraisa foi comprar roupas, como só ela poderia, eram roupas para suas
férias em Barbados.
Principalmente biquínis e cangas combinando. Ela vai parecer
fantástica com todos esses modelos, mas mesmo assim, ela prova todos e me
obriga a sentar e comentar como ficaram. Não há muitas maneiras de dizer:
"Está fantástica, Maraisa". Embora esteja magra, tem umas curvas de perder o sentido.
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Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)
FanfictionQuando Maiara Carla entrevista a jovem empresária Marilia Mendonça. Descobre nela uma mulher atraente, brilhante e profundamente dominadora.ingenua e inocente,Maiara se surpreende ao perceber que, a despeito da inigmatica reserva de Mendonça, está d...