Porque Você Não Me Mandou Um E-mail....

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— Toma. Não quero que passe frio.
Eu pisco para ela, enquanto ela segurava a jaqueta aberta. Ao passar
os braços pelas mangas, lembro um momento em seu escritório em que ela
pôs a jaqueta sobre os ombros, no dia em que a conheci, e a impressão que
me causou. Nada mudou. Na realidade, agora é até mais intenso.
Sua jaqueta estava quente, era muito grande e cheira a ela. Oh meu...
deliciosa.
Chega o meu carro. Marília fica boquiaberta.
— Esse é seu carro? — Ela estava horrorizada. Agarra minha mão e sai
comigo ao encalço. O manobrista sai, me entrega as chaves, e Marília lhe
dá uma gorjeta.
— Está em condições de circular? — pergunta, me fulminando com o
olhar.
— Sim.
— Chegará até Seattle?
— Claro que sim.
— Em segurança?
— Sim — respondo irritada. Veja, é velho, mas é meu e funciona. —
Meu padrasto comprou pra mim.
— Oh, Maiara, acredito que podemos melhorar isso.
— O que você quer dizer? — de repente, entendo. — Nem pense em me
comprar um carro.
Ela me olha com o cenho franzido e a mandíbula tensa.
— Logo veremos, — responde.
Faz uma careta enquanto abre a porta do condutor e me ajuda a entrar. Eu
tiro os sapatos e abaixo o vidro. Ela me olha com expressão impenetrável e
olhos turvos.
— Conduza com cuidado, — diz em voz baixa.
— Adeus, Marília. — Eu digo com voz rouca, como se estivesse a
ponto de chorar... caramba, eu não vou chorar. Eu sorrio ligeiramente.
Enquanto me afasto, sinto uma pressão no peito, começam a aflorar as
lágrimas e sufoco um soluço.
As lágrimas não demoram a rolar por minhas bochechas, embora, a verdade
é que não entendo por que choro. Eu estava me segurando. Ela explicou
tudo. Ela foi clara. Ela me quer, mas preciso de mais. Preciso que ela me
queira como eu o quero e preciso, e no fundo sei que não é possível. Estou
triste.
Eu nem sei como classificá-la. Se aceitar... ela será minha namorada?
Poderei apresentá-la aos meus amigos? Ir com ela a bares, ao cinema ou
jogar boliches? Acredito que não, na verdade. Ela não vai me deixar tocá-la,
nem dormir com ela. Sei que não tenho feito estas coisas no passado, mas
quero fazer no futuro. E não é este o futuro que ela tem pra mim.
E se eu disser que sim, e no prazo de três meses ela disser que não,
que se cansou de tentar me moldar-me em algo que não sou. Como vou me
sentir? Estarei comprometida emocionalmente? E durante três meses terei
feito coisas que não estou segura de que queira realmente fazer. E se depois
me diz que não, que acabou o acordo, como vou sobreviver o abandono?
Possivelmente o melhor seja desistir agora, quero manter minha auto-estima
mais ou menos intacta.
Mas a ideia de não voltar mais a vê-la parece insuportável. Como ela
entrou em minha pele em tão pouco tempo? Não pode ser apenas sexo...
pode? Passado a mão pelos olhos para secar as lágrimas. Não quero analisar
o que sinto por ela. Assusta-me só de pensar o que poderia descobrir. O que
vou fazer?
Estaciono em frente a nossa casa. Não vejo luzes acesas, assim acho
que Maraisa deve ter saído. É um alívio. Não quero ter que responder perguntas.
Enquanto me dispo, ligo meu computador infernal e encontro uma
mensagem de Marília na caixa de entrada.
De: Marília Mendonça
Data: 25 de maio de 2015 22:01
Para: Maiara Carla
Assunto: Esta noite
Não entendo por que saiu correndo esta noite. Espero sinceramente ter
respondido todas as suas perguntas de forma satisfatória. Sei que tem que
expor muitas coisas e espero fervorosamente que leve a sério minha
proposta. Quero de verdade que isto funcione. Temos que levar com calma.
Confie em mim.
Este e-mail me fez chorar ainda mais. Não sou uma fusão empresarial.
Não sou uma aquisição. Lendo este email, qualquer uma diria sim. Não lhe
respondo. Não sei o que lhe dizer, essa é a verdade. Ponho o pijama e me
meto na cama enrolada em sua jaqueta, deitada na escuridão, penso em
todas as vezes que me advertiu para que me mantivesse afastada dela.
"Maiara, deveria se manter afastada de mim. Não sou mulher
para ti."
"Eu não tenho namoradas."
"Não sou uma mulher de flores e corações."
"Eu não faço amor."
"Não sei fazer de outra maneira."
Eu choro silenciosamente, abraçada em meu travesseiro, é nessa
última ideia que me agarro. Tampouco eu sei fazer de outra maneira.
Talvez juntos possamos encontrar um outro caminho.
Marília estava de pé acima de mim segurando um chicote de
couro trançado. Ela apenas usava um tope  e um jeans Levis velho, desbotado e
rasgado. Ela golpeia o chicote lentamente em sua palma sem deixar de me
olhar. Ela estava sorrindo, triunfante. Eu não posso me mover. Eu estou nua
e algemada, de braços abertos, em uma grande cama de dossel. Avançando,
ela arrastou a ponta do chicote da minha testa para baixo e pelo
comprimento do meu nariz, então eu pude cheirar o couro, depois sobre os
meus lábios entreabertos, eu ofegava.
Ela empurra a ponta em minha boca assim eu posso saborear o
couro liso, rico.
— Chupe isso, — ela comandou, com sua voz suave. Minha boca
fecha acima da ponta à medida que eu obedeço.
— Já chega, — ela estala.
Eu arquejo mais uma vez, enquanto ela arrasta o chicote de minha
boca, trilhando o caminho para baixo, pelo meu queixo, em meu pescoço e
para  na base da minha garganta. Ela girou o chicote lentamente, em
seguida continuou a arrastar a ponta do chicote para baixo em meu corpo,
ao longo de meu esterno, entre meus seios, acima de meu torso, até meu
umbigo. Eu arquejo, torcendo, puxando contra minhas restrições, que estão
em meus pulsos e tornozelos. Ela roda a ponta ao redor meu umbigo, então
continua a arrastar a ponta de couro para baixo, por minha buceta e
para meu clitóris. Ela sacode o chicote e bate com força em meu clitóris e eu
gozo, gloriosamente, gritando em minha liberação.
Abruptamente, eu desperto, com a respiração ofegante, coberta de
suor e sentindo os tremores secundários de meu orgasmo. Mas que Inferno.
Eu estou completamente desorientada. Que diabo acabou de acontecer? Eu
estou em meu quarto, sozinha. Como? Por quê? Eu me sento ereta,
chocada… uau. Já é de manhã. Eu olhei para o meu relógio de alarme – oito
horas. Eu ponho minhas mãos na cabeça. Eu não sabia que eu podia sonhar
com sexo. Será que foi algo que comi? Talvez as ostras e minha pesquisa na
Internet, se manifestando apropriadamente em meu primeiro sonho quente e
molhado. Estou desnorteada. Eu não tinha nenhuma ideia de que podia ter
um orgasmo em meu sono.
Maraisa está se movimentando dentro da cozinha, quando eu meio que
entro cambaleante.
— Mai, você está bem? Você parece estranha. A jaqueta que você está
vestindo é de Marília?
— Eu estou bem. — Maldição, eu devia ter me olhado no espelho. Eu
evito seus olhos pretos, penetrantes.
Eu ainda estou me recuperando do meu evento matutino. — Sim, a
jaqueta é de Marília.
Ela franziu a testa.
— Você dormiu?
— Não muito bem.
Eu me dirigi à chaleira. Eu preciso de um chá.
— Como foi o jantar?
E lá vamos nós...
— Nós comemos ostras. Seguidas por bacalhau, então eu diria que foi
piscoso.
— Ugh… eu odeio ostras, eu não quero saber sobre a comida. Como
estava Marília? Sobre o que você conversou?
— Ela foi atenciosa, — eu pauso.
O que eu posso dizer? Que ela é HIV é negativo, ela estava limpo, que
ela estava encenando pesadamente, querendo que eu obedeça a todos os
seus comandos, que ela machucou alguém uma vez ao amarrá-la no teto de
seu quarto, que ela quis me foder na sala de jantar privada. Isso seria um bom resumo? Eu desesperadamente tento me lembrar de algo sobre o meu
encontro com Marília, que eu possa discutir com Maraisa.
— Ela não aprova a Wanda.
— Quem, Mai? Isto é notícia velha. Por que você está sendo tão
modesta? Desista, amiga.
— Oh, Isa, nós conversamos sobre muitas coisas. Você sabe, o quão
exigente ela é sobre comida. Incidentemente, ela gostou de seu vestido. — A água da chaleira ferveu, então eu faço algum chá. — Você quer chá? Quer
que eu ouça o seu discurso para hoje?
— Sim, por favor. Eu trabalhei nele ontem à noite, com Luiza. Eu vou
buscá-la. E sim, eu adoraria um chá. — Maraisa correu para fora da cozinha.
Irritada, Maraisa Henrique desviou. Eu cortei um pão e coloquei-o
na torradeira. Ruborizei ao lembrar do meu sonho muito vívido. Que diabos
foi aquilo?
Ontem à noite foi difícil dormir. Minha cabeça estava zumbindo com
as várias opções. Eu estou tão confusa. A ideia de Marília de uma relação
era mais como uma oferta de trabalho, com seus horários, com uma
descrição de trabalho e um conjunto de procedimento bastante severo. Não é
como se eu enfrentasse o meu primeiro romance, mas, claro, Marília não é
romântica. Se eu disser a ela que eu quero mais, ela pode dizer não… e eu
poderia arriscar a aceitar o que ela ofereceu. E isto é o que mais me
interessa, porque eu não quero perdê-la. Mas eu não estou certa de que
tenha estômago para ser sua submissa.
No fundo, são os bastões e chicotes que me perturbam. Eu sou uma
covarde física, percorrerei um longo caminho para evitar a dor. Eu penso
sobre meu sonho… será que seria assim? Minha deusa interior salta de
cima para baixo com pom-poms de torcida, gritando sim para mim.
Maraisa volta para a cozinha com seu laptop. Eu me concentro em meu
pão e escuto, pacientemente, como ela apresentará seu discurso em
Valedictorian.
Eu estou vestida e pronta para quando Ray chegar. Eu abro a porta
da frente, e ele esta em pé na varanda, em seu terno mal-adaptado. Uma
onda morna de gratidão e o amor por este homem descomplicado
atravessou-me, eu lanço meus braços ao redor dele, em uma exibição não
característica de afeto. Ele fica surpreendido, perplexo.
— Ei, Mai, eu estou contente em ver você também, — ele
murmurou, enquanto me abraçava. Se afastando de mim, com suas mãos
em meus ombros, ele me olha de cima a baixo, com suas sobrancelhas
apertadas. — Você está bem, garota?
— Claro, Papai, uma menina não pode estar contente em ver seu
velho?
Ele sorriu, seus olhos escuros ondulando nos cantos, seguindo-me
na sala de estar.
— Você parece bem, — ele diz.
— Este vestido é da Maraisa. — Olhei para o vestido de chiffon cinza com
decote.
Ele franziu o cenho.
— Onde está Maraisa?
— Ela foi para o campus. Ela estará fazendo um discurso, então ela
tem que estar lá bem cedo.
— Nós devíamos ir?
— Papai, nós temos meia hora. Você gostaria de algum chá? E você
pode dizer-me como está todo mundo em Montesano. Como está o transito?
Ray puxou o seu carro para o estacionamento do campus e nós
seguimos o fluxo de pessoas pontilhado com onipresentes becas pretas e
vermelhas, indo em direção ao auditório de esportes.
— Boa sorte, Mai. Você parece muito nervosa, você tem que fazer
alguma coisa?
Caramba… por que Ray escolheu hoje para ser tão observador?
— Não, Papai. É um grande dia.
— Sim, a minha garotinha conseguiu um grau. Eu me orgulho de
você, Mai.
— Aw… obrigado Ray. — Oh eu amo este homem.
O auditório de esportes estava lotado. Ray foi se sentar com os outros
pais e simpatizantes no assento inclinado, enquanto eu faço meu caminho
para minha cadeira. Eu estou vestindo minha beca preta e meu capelo, eu
me sinto protegida por eles, anônima. Não há ninguém sobre o palco ainda,
mas eu não consigo acalmar o meu nervosismo. Meu coração está disparado
e minha respiração é curta. Ela está aqui, em algum lugar. Eu me pergunto
se Maraisa está conversando com ela, interrogando-a talvez.
Eu faço o caminho para minha cadeira no meio dos alunos na mesma
categoria, cujos sobrenomes também começam com C. Eu estou na segunda
fila, dispondo-me ainda mais ao anonimato. Eu olho para trás de mim e
localizo Ray sentado no alto das arquibancadas. Eu dou a ele um aceno. Ele conscientemente dá para mim um meio aceno, meia saudação de volta. Eu
me sento e espero.
O auditório se enche depressa, o zumbido de vozes excitadas fica
mais alto e mais alto. A fila de cadeiras na frente se enche. E em um e outro
lado de mim, eu estou junto de duas meninas a quem não conheço, são de
uma faculdade diferente. Elas, obviamente, são amigas próximas e
conversam através de mim, excitadamente.
As onze, exatamente, o Reitor aparece por detrás do palco, seguidos
pelos três Vice Reitores, e então, pelos professores seniores, todos vestidos
com seus trajes pretos e vermelhos. Nós levantamos e aplaudimos nosso
pessoal de ensino. Alguns Professores movimentam a cabeça e acenam,
outros parecem chateados. Professor Collins, meu tutor e meu professor
favorito, parece ter acabado de sair da cama, como sempre. Os últimos a
entrarem no palco são Maraisa e Marília. Marília destaca-se em seu terno
sob medida cinza, com as luzes do auditório refletindo e enfatizando o tom
Loiro de seus cabelos. Ela parece tão séria e contida. Quando ela se senta,
ela abre o único botão preso de seu paletó e eu vislumbro a sua gravata.
Caramba… aquela gravata! Eu esfrego meus pulsos reflexivamente. Eu não
posso tirar os meus olhos dela, sua beleza me distrai como sempre e ela está
usando está gravata de propósito, sem dúvida. Eu posso sentir minha boca
apertada em uma linha dura. O público se senta e o aplauso cessa.
— Olhe para ela!— Uma das meninas ao meu lado respira
entusiasticamente para sua amiga.
— Ela é sexy e quente.
Eu endureço. Eu estou certa de que elas não estão conversando
sobre o Professor Collins.
— Deve ser Marília Mendonça.
— Ela é solteira?
Eu eriço.
— Eu acho que não, — eu murmuro.
— Oh. — Ambas as meninas olham para mim em surpresa.
— Eu acho que ela tem namorada, — eu murmúrio.
— Que vergonha, — uma das meninas geme.
Quando o Reitor se levanta e dá inicio aos atos com sua fala, eu
assisto Marília que sutilmente percorre o olhar pela sala. Eu afundo em
minha cadeira, curvando meus ombros, tentando me fazer tão imperceptível
quanto possível. Eu falho miseravelmente como uns segundos mais tarde
seus olhos cinza acham os meus. Ela olha fixamente para mim, seu rosto
impassível, completamente misteriosa. Eu me mexo desconfortavelmente,
hipnotizada por seu olhar e sinto um rubor lento se espalhar através de meu
rosto. Espontaneamente, eu recordo meu sonho desta manhã e os músculos
em minha barriga dão um aperto deleitável. Eu inalo fortemente. Eu posso
ver a sombra de um de sorriso cruzar os seus lábios, mas é passageiro. Ela
brevemente fecha seus olhos e ao abri-los, retoma a sua expressão
indiferente.
Seguindo um olhar rápido para o Reitor, ela olha fixamente para
frente, enfocando o emblema da WSUV pendurado acima da entrada. Ela
não gira seus olhos em direção a mim novamente. O Reitor fala sem parar, e
Marília ainda não olha para mim, ela mantém o olhar fixo para frente.
Por que ela não olhou mais para mim? Talvez ela tenha mudado de
ideia? Uma onda de mal-estar cai sobre mim. Talvez sair com ela na noite
passada fosse o fim para ela também. Ela estaria chateada de esperar que eu
me decida. Oh não, eu podia ter estragado tudo completamente. Eu lembrei
de seu e-mail de ontem à noite. Talvez ela estivesse zangada por que não
respondi.
De repente, a sala estoura em aplausos, quando a Senhorita
Maraisa Henrique subiu no palco. O Reitor se senta e Maraisa lança o seu
adorável cabelo longo para trás dela, enquanto ela coloca seus documentos
na tribuna. Ela toma seu tempo, não se intimidando por mil pessoas
boquiabertas estarem olhando para ela. Ela sorri quando está pronta,
olhando para a multidão cativada e eloquentemente começando o seu
discurso. Ela é tão composta e engraçada, as meninas ao meu lado estouram
risadas na sua primeira piada. Oh, Maraisa Henrique, você realmente sabe
como pronunciar um discurso. Eu me senti tão orgulhosa por ela naquele
momento, meus pensamentos de errantes sobre Marília foram empurrados
para um lado. Embora eu tenha ouvido o seu discurso antes, eu escuto
cuidadosamente. Ela comanda a sala e leva o seu público com ela.
Seu tema é: O que vem depois da faculdade? Sim, realmente o que
esperar? Marília estava assistindo Maraisa, suas sobrancelhas ligeiramente
levantadas, em surpresa, eu penso. Sim, poderia ter sido Maraisa quem tivesse
ido o entrevistar. E poderia ter sido Maraisa a quem ela estaria agora fazendo
propostas indecentes. A bela Maraisa e a bela Marília, juntas. Eu podia ser
como as duas meninas ao meu lado, admirando ela de longe. Eu sei que Maraisa
não teria o feito esperar.
Do que ela o chamou no outro dia? Arrepiou-se. O pensamento de
uma confrontação entre Maraisa e Marília, me faz desconfortável. Eu tenho
que dizer que, eu não sei em qual delas eu faria a minha aposta.
Maraisa concluiu sua fala com um floreado e espontaneamente todos
levantaram, aplaudindo e torcendo, sua primeira ovação. Eu olhei para ela
com alegria e ela sorriu de volta para mim. Bom trabalho, Maraisa. Ela se senta,
assim como o público e o Reitor sobe e introduz Marília… caramba,
Marília vai fazer um discurso. O Reitor fala brevemente sobre as
realizações de Marília: CEO de sua própria e extraordinariamente bem
sucedida companhia, uma mulher que realmente fez o seu próprio caminho.
— E também uma benfeitora importante da nossa Universidade, por
favor, boas-vindas para o Sra. Marília Mendonça.
O Reitor sacudiu a mão de Marília e houve uma onda de aplausos
educados. Meu coração estava em minha garganta. Ela subiu na tribuna e
inspecionou o corredor. Ela parece tão confiante estando na frente de todos
nós, como Maraisa fez antes dela. As duas meninas ao meu lado inclinaram-se,
extasiadas. De fato, eu penso a maior parte dos membros femininos da
audiência chegaram um pouco mais perto e alguns dos homens também. Ela
começou, com sua voz suave, medida, hipnotizando.
— Eu estou profundamente agradecida e tocada pelos grandes elogios
concedidos a mim pelas autoridades da WSU hoje. Ofereceram a mim uma
rara oportunidade para conversar sobre o trabalho impressionante do
departamento de ciência ambiental aqui na Universidade. Nossa meta é
desenvolver métodos viáveis e ecologicamente sustentáveis de agricultura
para países do terceiro mundo; nossa última meta é ajudar a erradicar a
fome e a pobreza através do globo. Mais de um bilhão das pessoas,
principalmente na África Sub-Saariana, Sul da Ásia e América Latina, vivem
em uma pobreza miserável. A deficiência agrícola é predominante dentro
destas partes do mundo e o resultado é destruição ecológica e social. Eu sei
o que é estar profundamente faminto. Isto é uma jornada muito pessoal para
mim…
Minha mandíbula caiu no chão. O que? Marília esteve com fome
alguma vez. Caramba. Bem, isso explica muita coisa. E eu recordei a
entrevista; ela realmente queria alimentar o mundo. Eu desesperadamente
procurei em meu cérebro, para lembrar o que Maraisa escreveu em seu artigo.
Adotado aos quatro anos, eu penso. Eu não posso imaginar que Ruth a
deixou com fome, então ela deve ter sofrido antes disso, quando menininha.
Eu fico com o coração apertado só com o pensamento de uma criança
faminta, de olhos cinza.
Oh não. Que tipo de vida ela teve antes dos Mendonças conseguirem pegá-la e resgatá-la?
Eu sou tomada por uma sensação de forte indignação, pobre, fodida,
enroscada, filantrópica Marília... entretanto eu estou certa que ela não vê
a ela mesmo deste modo e repeliria quaisquer pensamentos de condolências
ou piedade. Abruptamente, todo mundo entra repentinamente em aplauso e
permanece. Eu sigo, entretanto, não ouvindo metade de seu discurso. Ela
está fazendo todos estes bons trabalhos, gerindo uma companhia enorme e
me perseguindo ao mesmo tempo. É impressionante. Lembro-me dos trechos
breves da conversa que ela teve sobre Darfur… e tudo cai no mesmo lugar.
Alimentos.
Ela sorriu brevemente no aplauso morno, até Maraisa está aplaudindo,
então ela retoma sua cadeira. Ela não olha para mim e eu estou fora de
condição, tentando assimilar estas novas informações sobre ela.
Um dos Vice-Reitores sobe e nós começamos o processo longo e
tedioso de pegarmos os nossos diplomas. Existem mais de quatrocentos
formandos e isso leva uma longa hora antes de eu ouvir meu nome. Eu faço
o meu caminho para o palco entre as risadinhas das duas meninas.
Marília olha para mim, seu olhar é morno, mas controlado.
— Parabéns, Senhorita Carla, — ela disse, quando agitou a minha
mão, apertando suavemente. Eu sinto a carga de sua carne na minha. —
Você teve um problema com seu laptop?
Eu fiquei séria, quando ela me entregou o meu diploma.
— Não.
— Então você está ignorando meus e-mails?
— Eu só vi as fusões e aquisições.
Ela olhou interrogativamente para mim.
— Mais tarde, — ela disse, acho que estou interrompendo a fila.
Eu volto para minha cadeira. E-mails? Ela deve ter enviado outro. O
que ela disse?
A cerimônia toma outra hora para concluir. É interminável.
Finalmente, o Reitor lidera os membros do corpo docente para fora do palco
e para um aplauso ainda mais empolgante, precedidos por Marília e Maraisa.
Marília não olha para mim, mesmo que eu esteja disposta a fazê-la.
Minha deusa interior não está contente.
Então eu permaneço e espero por nossa fila dispersar, Maraisa chama
por mim. Ela está encabeçando meu caminho por detrás do palco.
— Marília quer conversar com você, — ela grita. As duas meninas
que estão agora de pé ao meu lado, viram-se e bocejam para mim.
— Ela me mandou aqui, — ela continua.
Oh…
— Seu discurso foi ótimo, Isa.
— Foi, não é? — Ela irradiava. — Você vai? Ela pode ser muito
insistente. — Ela rolou seus olhos e eu sorri.
— Você não tem nenhuma ideia. Eu não posso deixar Ray muito
tempo. — Eu olhei para Ray e levantei meus dedos para cima para indicar
cinco minutos. Ele movimenta a cabeça, dando a mim um sinal de acordo e
eu segui Maraisa pelo corredor atrás do palco. Marília estava conversando
com o Reitor e dois professores. Ela olhou para cima quando me viu.
— Com licença, cavalheiros, — eu o ouço murmúrio. Ela vem na
minha direção e sorri brevemente para Maraisa.
— Obrigado, — ela diz, e antes que possa responder, ela toma meu
cotovelo e me guia para o que parece ser uma sala de armários femeninos.
Ela verifica se está vazio e então ela fecha a porta. Caramba, o que ela tem em
mente? Eu pisco para ela quando se volta para mim.
— Por que você não mandou um email para mim? Ou mandou uma
mensagem de volta? — Ela olhou. Eu estou perplexa.
— Eu não olhei para meu computador hoje, ou meu telefone. —
Droga, ela tem tentado me ligar? Eu tento minha técnica de distração que é
tão efetiva em Maraisa. — Você fez um grande discurso.
— Obrigado.
— Explique seus assuntos de comida para mim.
Ela corre uma mão por seu cabelo, exasperada.
— a, não eu quero falar sobre isso agora. — Ela fechou os
seus olhos, parecendo aflita.
— Eu fiquei preocupada com você.
— Preocupada, por quê?
— Porque você foi para casa naquela armadilha que você chama um
carro.
— O que? Não é uma armadilha. É bom. Japinha faz a manutenção,
regularmente, para mim.

Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)Onde histórias criam vida. Descubra agora