— Sim, senhora. — Ela tenta ocultar seu sorriso, mas não o
consegue.
Eu olho para ela de cara feia, enquanto ponho as calças. Meu cabelo
está um desastre e eu sei que depois que ela se for, eu terei que enfrentar a
inquisição de Maraisa Henrique. Coloco um elástico no cabelo, dirijo-me
para a porta e abro para ver se vejo Maraisa. Ela não está na sala de estar.
Acredito que a ouço falando no telefone em seu quarto. Marília me segue.
Durante o breve percurso entre o meu quarto e a porta da frente, meus
pensamentos e meus sentimentos fluem e se transformam. Já não estou
zangada com ela. De repente, me sinto insuportavelmente tímida. Não quero
que parta. Pela primeira vez, eu gostaria que ela fosse normal, eu gostaria de
manter uma relação normal, que não exigisse um acordo de dez páginas,
açoites e mosquetões no teto de seu quarto de jogos.
Abro-lhe a porta e olho para as minhas mãos. É a primeira vez que
recebo uma mulher em minha casa para fazer sexo, e acredito que foi genial.
Mas agora me sinto como um recipiente, como um copo vazio que se enche
com o seu desejo. Meu subconsciente sacode a cabeça.
Eu queria correr até Heathman em busca de sexo... e lhe fizeram uma
entrega expressa. Cruzo os braços e bato com o pé no chão, como um ‘qual o
problema em olhar em seu rosto’. Marília parou junto à porta, agarra-me
pelo queixo e me obriga a olhá-la. Sua testa enruga ligeiramente .
— Você está bem? — ela pergunta me acariciando o queixo com seu
polegar.
— Sim. — respondo-lhe, embora com toda a honestidade eu não
estou muito certa. Sinto uma mudança de paradigma. Eu sei que se aceitar,
vou me machucar. Ela não é capaz, não lhe interessa ou não quer me
oferecer nada mais... mas eu quero mais. Muito mais. O ataque de ciúmes
que senti por um momento, antes, me diz que meus sentimentos por ela são
mais profundos do que eu mesma posso admitir.
— Quarta-feira, — ela confirma, inclina-se e me beija com ternura.
Mas enquanto está me beijando, seus lábios ficam mais urgentes contra os
meus, sua mão se move para cima do meu queixo e está segurando a minha
cabeça, uma mão de cada lado. Sua respiração se acelera. Inclina-se para
mim e me beija mais profundamente. Coloquei minhas mãos em seus
braços. Quero deslizar as mãos pelo seu cabelo, mas resisto porque sei que
não gostaria. Ela encosta sua testa contra a minha, de olhos fechados, com a
voz tensa.
— Maiara, — ela sussurra. — o que você está fazendo comigo?
— O mesmo eu poderia dizer para você, — sussurro de volta.
Toma uma respiração profunda, beija-me na testa e parte. Avança em
passo decidido para o carro passando a mão pelo cabelo. Enquanto abre a
porta, levanta o olhar e me lança um sorriso arrebatador. Totalmente
deslumbrada, devolvo-lhe um leve sorriso e volto a pensar em Ícaro
aproximando-se muito ao sol. Fecho a porta da rua, enquanto se mete em
seu carro esportivo. Sinto uma irresistível necessidade de chorar. Uma triste
e solitária melancolia me oprime o coração. Volto para meu quarto, fecho a
porta e me apoio tentando racionalizar meus sentimentos, mas não posso.
Deixo-me cair no chão, cubro o rosto com as mãos e as lágrimas começam a
descer.
Maraisa bate na porta suavemente.
— Mai? — ela sussurra. Eu abro a porta. Ela me olha e me abraça.
— O que está errado? O que lhe fez essa bastarda repulsiva?
— Oh, Maraisa, nada que eu não quisesse que me fizesse.
Ela me empurra para a cama e nos sentamos.
— Você está com o cabelo horrível.
Embora esteja desconsolada, rio-me.
— O sexo foi bom, não foi terrível em nada.
Maraisa sorri.
— Melhor. Por que você está chorando? Você nunca chora. — Ela
pega a minha escova na mesa em frente, senta atrás de mim, e muito
devagar escova para tirar os nós.
— Eu só não acho que nosso relacionamento está indo a lugar
nenhum. — Olho para os meus dedos.
— Você não disse que ia vê-la só na quarta-feira?
— Sim, foi o que combinamos.
— E por que ela apareceu hoje por aqui?
— Porque lhe mandei um e-mail.
— Pedindo para que ela viesse?
— Não, lhe dizendo que não queria voltar a vê-la.
— E ela veio até aqui? Mai, você é genial.
— A verdade é que era uma brincadeira.
— Oh, agora sim não estou entendendo nada.
Pacientemente, lhe explico essência do meu e-mail, sem entrar em
detalhes.
— Pensou que responderia por email.
— Sim.
— Mas isso fez com que ela viesse aqui.
— Sim.
— Eu diria que ela está completamente apaixonada por você.
Franzo o cenho. Marília apaixonada por mim? Dificilmente. Ela só
está procurando um novo brinquedo, um novo e adequado brinquedo para
deitar-se e lhe fazer coisas indescritíveis. Meu coração se aperta.
Essa é a verdade.
— Ela veio só para foder-me, isso é tudo.
— Quem disse que o romantismo tinha morrido? — ela murmura
horrorizada. Eu choquei a Maraisa. Não pensava que isso fora possível. Encolho
os ombros, como desculpa.
— Ela utiliza o sexo como uma arma.
— Fode você para submetê-la? – Ela sacode a cabeça com
desaprovação. Eu pisco rapidamente para ela, e eu sinto o rubor se
espalhando pelo meu rosto. Oh... na mosca, Maraisa Henrique, ganhadora
do premio Pulitzer de jornalismo.
— Mai, não a entendo, e você faz amor com ela?
— Não, Isa, não fazemos amor... fodemos... como diz Marília. Ela
não está interessada em amor.
— Sabia que havia algo estranho nela. Tem problema em assumir
compromisso.
Eu concordo, como se estivesse de acordo, mas por dentro suspiro.
Oh, Isa... eu gostaria de lhe contar tudo sobre este tipo estranha, triste e
perversa, e gostaria que você pudesse me dizer para esquecê-la, para deixar
de ser tola.
— Eu acho que é uma situação bastante esmagadora, — murmuro.
Esse é o eufemismo do ano. Porque eu não quero mais falar sobre Marília,
eu pergunto sobre Elliot. Só de mencionar o seu nome, a atitude de
Maraisa muda radicalmente, seu rosto se ilumina, sorrindo para mim.
— Ele virá cedo no sábado para nos ajudar na mudança. Abraça a
escova com força contra seu peito, ela se deu bem, e sinto uma vaga e
familiar pontada de inveja. Isa encontrou um homem normal e parece
muito feliz.
Eu viro para ela e a abraço.
— Ah, quase tinha me esquecimento. Seu pai ligou quando estava...
bem, ocupada. Parece que Bob teve um pequeno acidente, assim, sua mãe e
ele não poderão vir à entrega do diploma. Mas seu pai estará aqui na quinta-
feira. Ele quer que você ligue para ele.
— Oh... minha mãe não me ligaria para me dizer isso. O Bob está
bem?
— Sim. Ligue para ela de manhã. Agora é tarde.
— Obrigada, Isa. Já estou bem, agora. Amanhã ligarei também para
o Ray. Acredito que vou-me deitar. — Ela me sorri, mas aperta seus olhos,
preocupada.
Quando ela saiu, sento-me, volto a ler o contrato e vou tomando
notas. Uma vez que terminei, ligo o computador disposta a lhe responder.
Em minha caixa de entrada há um e-mail da Marília.
De: Marília Mendonça
Data: 23 de maio de 2015 23:16
Para: Anastásia Steele
Assunto: Esta noite
Senhorita Maiara Carla:
Espero impaciente por suas observações sobre o contrato.
Enquanto isso, que durma bem, querida.
De: Maiara Carla
Data: 24 de maio de 2015 00:02
Para: Marília Mendonça
Assunto: Objeções
Querido senhora Mendonça
Aqui está minha lista de objeções. Espero que na quarta-feira
possamos discutir com calma, durante o nosso jantar.
Os números remetem às cláusulas:
2: Não tenho certeza que seja exclusivamente em MEU benefício, quer
dizer, para que explore minha sensualidade e meus limites. Estou segura de
que para isso, não necessitaria um contrato de dez páginas. Certamente é
para SEU benefício.
4: Como sabe, só pratiquei sexo com você. Não tomo drogas e nunca
fiz uma transfusão. Certamente estou mais que sã. E sobre você?
8: Posso rescindir o contrato a qualquer momento, se acreditar que
não está cumprindo os limites acordados. Ok, isso me parece muito bem.
9: Devo obedecer você em tudo? Aceitar sua disciplina sem duvidar?
Temos que conversar sobre isso.
11: Período de prova de um mês, não de três.
12: Não posso me comprometer todos os fins de semana. Tenho vida
própria, e seguirei tendo. Possivelmente três de cada quatro?
15.2: Utilizar meu corpo da maneira que considere oportuna, no sexo ou em
qualquer outro âmbito... Por favor, defina "em qualquer outro âmbito".
15.5: Toda a cláusula sobre a disciplina em geral. Não estou segura de
que queira ser açoitada, surrada ou castigada fisicamente. Estou segura de
que isto infringe as cláusulas 2-5. E além disso "por qualquer outra razão" é
simplesmente mesquinho... e me disse que não era uma sádica.
15.10: Como se me emprestar a alguém pudesse ser uma opção. Mas
me alegro de que o deixe bem claro.
15.14: Sobre as normas, comento mais adiante.
15.19: Que problema há em que me toque sem sua permissão? Em
qualquer caso, sabe que não o faço.
15.21: Disciplina: veja-se acima cláusula 15.5.
15.22: Não posso te olhar nos olhos? Por quê?
15.24: Por que não posso tocar em você?
Normas:
Dormir: aceitarei seis horas.
Comida: não vou comer o que puser em uma lista. Ou a lista dos
mantimentos se elimina, ou rompo o contrato.
Roupa: de acordo, contrato que só tenha que vestir a sua roupa
quando estou com você... Ok.
Exercício: tínhamos ficado em três horas, mas segue pondo quatro.
Limites suaves:
Temos que passar por tudo isto? Não quero fisting de nenhum tipo. O
que é a suspensão? Pinças genitais... deve estar de brincadeira.
Poderia me dizer quais são seus planos para quarta-feira? Eu trabalho
até às cinco da tarde.
Boa noite.
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 00:07
Para: Maiara Carla
Assunto: Objeções
Senhorita Carla:
É uma lista muito longa. Por que ainda está acordada?
De: Maiara Carla
Data: 24 de maio de 2015 00:10
Para: Marília Mendonça
Assunto: Queimando o óleo da meia-noite
Senhora Mendonça:
Se não recordar mal, estava com esta lista quando sua obsessão por
controle me interrompeu e me levou para a cama.
Boa noite.
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 00:12
Para: Maiara Carla
Assunto: Pare de queimar o óleo da meia-noite
MAIARA,VÁ PARA CAMA.
Oh... em maiúsculas! Como se gritasse. Desligo o computador. Como
pode me intimidar estando a oito quilômetros de distância?
Eu sacudo a minha cabeça. Meu coração está disparado, eu subo na
cama e imediatamente caio em um sonho profundo, embora intranquilo.
No dia seguinte, ao voltar para casa, depois do trabalho, lembro de
minha mãe. No Clayton's o dia foi relativamente tranquilo, tive muito tempo
para pensar.
Eu estou inquieta, nervosa, porque amanhã terei que enfrentar a obcecada
por controle, e no fundo, eu estou preocupada porque possivelmente fui
muito negativa em minha resposta ao contrato. Talvez ela vá desistir da coisa
toda.
Minha mãe está muito triste, sente muito por não poder vir à entrega
do diploma. Bob torceu um ligamento e esta mancando. Honestamente, ele é
tão propenso a acidentes como eu sou. Ele deverá se recuperar sem
problemas, mas tem que fazer repouso, e minha mãe tem que atendê-lo o
tempo todo.
— Mai, querida, sinto muitíssimo, — lamenta minha mãe ao telefone.
— Mãe, está tudo bem. Ray estará aqui.
— Mai, parece distraída... você está bem, querida?
— Sim, mamãe. — Oh, se você soubesse... conheci um cara
escandalosamente rico, que quer manter comigo uma espécie de estranha e
perversa relação sexual, em que eu não tenho nem palavras nem opinião.
— Conheceu alguém?
— Não, mamãe. — Agora mesmo não gostaria de falar do assunto.
— Bem, querida, na quinta-feira, eu pensarei em você. Amo você... você
sabe disso, querida? — Fecho os olhos. Suas carinhosas palavras me
reconfortavam.
— Eu também te amo, mamãe. Dê meu olá para Bob. Espero que se
recupere logo.
— Certo, querida. Adeus.
— Adeus.
Enquanto falava com mamãe, entrei em meu quarto. Ligo meu
computador infernal e abro a caixa de correio. Tenho um e-mail da
Marília, da última hora de ontem à noite ou primeira hora desta manhã,
dependendo de como você veja a coisa. Meu coração acelera
instantaneamente, e ouço o sangue bombear em meus ouvidos. Maldita
seja... talvez ela me diga que não... certo... talvez tenha cancelado o jantar. A
ideia me parece dolorosa. Descarto-a rapidamente e abro o email.
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 01:27
Para: Maiara Carla
Assunto: Suas objeções
Querida senhorita Carla:
Depois de revisar com mais detalhe suas objeções, permita-me lhe
recordar a definição de submissa.
Submissa - adjetivo
1. inclinada ou disposta a submeter-se; que obedece humildemente:
servente submissa.
2. que indica submissão: uma resposta submissa.
Origem: 1580-1590; submeter-se, submissão
Sinônimos:
1. obediente, complacente, humilde.
2. passivo, resignado, paciente, dócil, contido.
Antônimos:
1. rebelde, desobediente.
Por favor, tenha isso em mente quando nos reunirmos na quarta-feira.
Meu sentimento inicial foi de alívio. Ao menos está disposta a
comentar minhas objeções e ainda quer que nos vejamos amanhã. Penso um
pouco e lhe respondo.
De: Maiara Carla
Data: 24 de maio de 2015 18:29
Para: Maiara Carla
Assunto: Minhas objeções... O que acontece com as suas?
Senhora Mendonça:
Rogo-lhe que observe a data de origem: 1580-1590. Queria recordar ao
senhora, com todo respeito, que estamos em 2015. Percorremos um longo
caminho desde então.
Permita-me lhe oferecer uma definição para que a tenha em conta em
nossa reunião:
Compromisso: essencial
1. chegar a um entendimento mediante concessões mútuas; alcançar
um acordo ajustando exigências ou princípios em conflito ou oposição
mediante a recíproca modificação das demandas.
2. O resultado de certo acordo.
3. Algo intermediário entre duas coisas diferentes. A divisão de nível é um
compromisso entre uma casa de fazenda e uma de muitos andares.
4. Um comprometimento, especialmente da reputação; expor em perigo,
suspeita, etc.: comprometer a integridade de alguém.
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 18:32
Para: Maiara Carla
Assunto: O que acontece com minhas objeções?
Bem entendido, como sempre, senhorita Carla. Passarei para pegá-la
em sua casa às sete em ponto.
De: Maiara Carla
Data: 24 de maio de 2015 18:40
Para: Marília Mendonça
Assunto: 2011 - ,
Tenho carro e sei dirigir.
Preferiria que nos encontrássemos em outro lugar.
Onde nos encontramos?
Em seu hotel às sete?
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 18:43
Para: Maiara Carla
Assunto: Jovenzinha teimosa
Querida senhorita Carla:
Remeto ao meu e-mail de 24 de maio de 2015, enviado a 01:27, e à
definição que contém.
Acredita que será capaz de fazer o que lhe diga?
De: Maiara Carla
Data: 24 de maio de 2015 18:49
Para: Marília Mendonça
Assunto: Mulher intratável
Senhora Mendonça,
Eu prefiro dirigir.
Por favor.
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 18:52
Para: Maiara Carla
Assunto: Mulher exasperada
Muito bem.
Em meu hotel às sete.
Vemo-nos no Marble Bar.
Até por e-mail fica de mau humor. Não entende que posso precisar sair
correndo? Não que minha lata-velha seja muito rápida... mas mesmo assim,
necessito de uma via de escape.
De: Maiara Carla
Data: 24 de maio de 2015 18:55
Para: Marília Mendonça
Assunto: Mulher não tão intratável
Obrigada.
De: Marília Mendonça
Data: 24 de maio de 2015 18:59
Para: Maiara Carla
Assunto: Mulher exasperante
De nada.
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Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)
FanfictionQuando Maiara Carla entrevista a jovem empresária Marilia Mendonça. Descobre nela uma mulher atraente, brilhante e profundamente dominadora.ingenua e inocente,Maiara se surpreende ao perceber que, a despeito da inigmatica reserva de Mendonça, está d...