"Situação"

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— Excelente. Nos vemos na segunda às 8:30 da manhã? — Vejo você depois. Tchau. E muito obrigada.
Eu olho para a minha mãe. — Você tem um emprego? Concordo com alegria, ela grita e me abraça no meio do supermercado Publix.— Parabéns, querida! Temos que comprar um champanhe! — Ela está batendo palmas e pulando para cima e para baixo. Ela tem 42 anos ou 12 anos?
Eu olho para o meu telefone e franzo a testa, há uma chamada não atendida de Marília. Ela nunca me telefona. Eu ligo para ela em seguida.— Maiara, — ela responde imediatamente.— Oi, — murmuro timidamente.— Eu tenho que voltar para Seattle. Algo está fora de controle. Estou no caminho para Hilton Head agora. Por favor, peça desculpas à sua mãe —eu não posso ir ao jantar. — Ela soa muito profissional.— Nada de grave, espero? — Eu tenho uma situação que tenho que lidar. Eu vou te ver sexta-feira. Vou enviar Taylor para lhe pegar no aeroporto, se não puder ir eu mesmo. — Ela soa frio. Até mesmo irritada. Mas pela primeira vez, eu não acho que seja por minha causa.— Ok. Eu espero que você resolva a sua situação. Tenha um bom voo. — Você também, querida, — ela respira, e com essas palavras, a minha Marília está de volta brevemente. Em seguida, ela desliga.Ah, não. A última"situação" que ela tinha era a minha virgindade. Caramba, espero que não seja nada assim.Eu olho para minha mãe. Sua felicidade anterior se transformou em preocupação.— É Marília, ela teve que voltar para Seattle. E ela pede desculpas. — Oh! Isso é uma pena, querida. Mas nós ainda podemos ter o nosso churrasco, e agora temos algo para comemorar, o seu novo trabalho! Você tem que me contar tudo sobre ele. É fim de tarde, eu e minha mãe estamos deitadas ao lado da piscina.
Minha mãe relaxou a tal ponto que ela está, literalmente, na horizontal,
agora que o Sra. Megasena não está chegando para jantar. Enquanto eu estou deitada ao sol, me esforçando para perder a cor pálida, eu penso sobre ontem à noite e o café da manhã hoje. Eu penso sobre Marília, e meu sorriso ridículo se recusa a diminuir. Ela se mantém rastejando pelo meu rosto, espontaneamente e desconcertante, se bem me lembro nossas diversas conversas e o que fizemos... o que ela fez. Parece haver uma mudança na maré da atitude de Marília. Ela nega, mas, ela admite que está tentando ter mais. O que poderia ter mudado? O que mudou desde que ela me enviou o seu longo e-mail e
quando eu a vi ontem? O que ela fez? Sento-me, de repente, quase derramando a minha Dr. Pepper. Ela jantou com... ela. Elena.Puta Merda!
Meu couro cabeludo espinha com a realização. Ela disse algo a ela?
Ah... queria ter sido uma mosca na parede durante o jantar. Eu poderia ter pousado em sua sopa ou em seu copo de vinho e sufocá-la.— O que é isso, Mai, querida? — Mamãe pergunta, assustada. — Eu estou apenas passando por um momento, mamãe. Que horas são? — Cerca de 06:30 da tarde, querida. Hmm... ela não posou ainda. Posso perguntar-lhe? Devo perguntar-
lhe? Ou talvez ela não tem nada a ver com isso. Cruzo os dedos para isso. O
que eu disse no meu sono? Porcaria... alguma desprotegida observação
enquanto sonhava com ela, eu aposto? Seja lá o que é, ou foi, espero que a mudança venha de dentro dela e não por causa dela.Estou sufocada neste calor danado. Eu preciso de outro mergulho na piscina.Quando estou indo para a cama, ligo o meu computador. Não vi nada de Marília.
Nem mesmo uma palavra que ela chegou em segurança.
De: Maiara Carla
Assunto: Chegou em segurança?
Data: 02 de junho de 2015 22:32 EST
Para: Marília Mendonça
Senhora Por favor, me deixe saber se você chegou em segurança. Estou
começando a me preocupar.Pensando em você. Três minutos depois, ouço o ping do e-mail que chega a minha caixa de entrada.
De: Marília Mendonça
Assunto: Desculpa
Data: 02 de junho de 2015 19:36
Para: Maiara Carla
Querida Senhorita Carla
Eu cheguei em segurança, e por favor aceite minhas desculpas por
não deixá-la saber. Eu não quero te causar nenhuma preocupação, é
reconfortante saber que você se importa comigo. Eu estou pensando em você também e como sempre estou ansiosa para vê-la amanhã.
Eu suspiro, Marília está de volta para a formalidade.
De: Maiara Carla
Assunto: A Situação
Data: 02 de junho de 2015 22:40 EST
Para: Marília Mendonça
Sra. Mendonça
Eu acho que é muito evidente que eu me importo com você,
profundamente. Como você pode duvidar disso? Espero que a sua "situação" esteja resolvida. Sua Mai
PS: Você vai me dizer o que eu disse enquanto estava dormindo?
De: Marília Mendonça
Assunto: Quinta Petição
Data: 02 de junho de 2015 19:45
Para: Anastásia Steele
Querida Senhorita Carla
Eu gosto muito que você se importe comigo. A "situação" aqui ainda
não está resolvida.Com relação ao seu PS: A resposta é não.
De: Maiara Carla
Assunto: Insana Petição
Data: 02 de junho de 2015 22:48 EST
Para: Marília Mendonça
Espero que tenha sido divertido. Mas você deve saber que não posso
aceitar qualquer responsabilidade pelo que sai da minha boca enquanto eu estiver inconsciente. Na verdade, você provavelmente me entendeu mal.Uma mulher com a sua idade avançada certamente deve ser um pouco surda.
De: Marília Mendonça
Assunto: Se Declarar Culpada
Data: 02 de junho de 2015 19:52
Para: Maiara Carla
Querida Senhorita Carla
Desculpe, você poderia falar mais alto? Eu não posso ouvi-la.
De: Maiara Carla
Assunto: Insana Petição Novamente
Data: 02 de junho de 2015 22:54 EST
Para: Marília Mendonça
Você está me deixando louca.
De: Marília Mendonça
Assunto: Espero que sim...
Data: 02 de junho de 2015 19:59
Para: Maiara Carla
Querida Senhorita Carla
Eu pretendo fazer exatamente isso na noite de sexta-feira. Esperando
ansiosamente. ;)
De: Maiara Carla
Assunto: Grrrrrr
Data: 02 de junho de 2015 23:02 EST
Para: Maiara Carla
Estou oficialmente chateada com você.Boa noite
De: Marília Mendonça
Assunto: Gata Selvagem
Data: 02 de junho de 2015 20:05
Para: Maiara Carla
Você está rosnando para mim senhorita Carla?Eu possuo uma gata que rosna.Ela tem uma gata? Eu nunca vi um gato em seu apartamento. Não, eu não vou respondê-la.Oh, ela pode ser tão irritante às vezes. Cinquenta Tons de
exasperação. Eu subo para a cama e deito olhando para o teto enquanto os meus olhos se ajustam ao escuro. Eu ouço outro ping do meu computador. Eu não vou olhar. Não, definitivamente não. Não, eu não vou olhar. Gah! Como a tola que sou, não posso resistir à tentação das palavras de Marília Mendonça.
De: Marília Mendonça
Assunto: O que você disse enquanto dormia
Data: 02 de junho de 2015 20:20
Para: Maiara Carla
Maiara Carla Eu prefiro ouvir você dizer as palavras que pronunciou no seu sono enquanto você está inconsciente, é por isso que eu não vou te dizer. Vá dormir. Você precisará estar descansada para o que tenho em mente para você amanhã.
Ah, não... O que eu disse? É tão mau como eu penso, eu tenho certeza.
Minha mãe me abraça forte.— Ouça seu coração, querida, e por favor, por favor, procure não dar demasiada importância às coisas. Relaxe e desfrute. É muito jovem, céus.
Ainda tem muita vida pela frente, viva-a. Você merece o melhor.
Suas tristes palavras sussurradas ao meu ouvido me confortam. Ela Beija meu cabelo.— Ai, mamãe.Agarro-me em seu pescoço e, de repente, meus olhos se enchem de lágrimas.Carinho, já sabe o que dizem: terá que beijar muitos sapos para encontrar o príncipe encantado.Dou-lhe um sorriso retorcido, agridoce.— Parece que beijei uma princesa, mamãe. Espero que não se transforme em sapo.Ela me brinda com seu sorriso mais terno, maternal e amoroso e
enquanto nos abraçamos de novo, percebo o quanto amo esta mulher.
— Mai, estão chamando seu voo — Bob me avisa nervoso.— Irá me visitar, mamãe?— É obvio, querida... em breve. Amo você.— Eu também.
Quando ela me solta, tem os olhos vermelhos das lágrimas contidas.
Odeio ter que deixá-la. Abraço Bob, dou meia volta e me encaminho ao
portão de embarque; hoje não tenho tempo para a sala VIP.Não quero olhar para trás, mas faço... e vejo Bob abraçando minha mamãe, que chora
desconsolada com as lágrimas escorrendo pelas bochechas. Já não posso conter mais as minhas. Abaixo a cabeça e cruzo o portão de embarque, sem levantar os olhos do branco e resplandecente chão,turvado através de meus olhos empapados de lágrimas.Uma vez a bordo, rodeada do luxo da primeira classe, me encolho no assento e tento me recompor. Sempre é difícil e doloroso me separar de minha mãe; ela é atrapalhada, desorganizada, mas também perspicaz, e me ama muito. Com um amor incondicional, que toda criança merece de seus pais. O rumo que tomam meus pensamentos me faz franzir o cenho, pego meu Black-Berry e o olho consternada.
O que sabe Marília de amor? Parece que não teve amor incondicional durante sua infância. Aperta-me o coração e, como um vento suave, me vem à cabeça as palavras de minha mãe: "Sim, Mai. Deus, o que mais precisa? Uma placa luminosa na sua testa?". Acredita que Marília me ama, mas, claro, ela é minha mãe, como não vai pensar assim? Para ela,
mereço o melhor. Franzo o cenho. É verdade, e, em um instante de assombrosa lucidez, percebo. É muito simples: eu quero seu amor. Necessito que Marília Mendonça me ame. Por isso temo tanto nossa relação, porque, em um nível profundo e existencial, reconheço em meu interior um desejo incontrolável e profundamente enraizado de ser amada e protegida.
E, devido aos seus Cinquenta Tons, me contenho. O sadismo era uma distração do verdadeiro problema. O sexo é alucinante, e ela é rica, e
bonita, mas tudo isso não vale nada sem seu amor, e o mais desesperador é que não sei se ela é capaz de amar. Nem sequer se ama a si mesmo. Lembro o desprezo que sentia por si mesmo, e que o amor de sua mãe era a única manifestação de afeto que encontrava "aceitável". Castigar, açoitar, bater, e tudo o que poderia fazer para elevar sua relação, não se considerava digno de amor. Por que se sentia assim? Como podia se sentir assim? Suas palavras ressonam em minha cabeça: "É muito difícil crescer em uma família perfeita quando você não é perfeita".Fecho os olhos, imagino sua dor, e não alcanço a compreensão. Estremeço ao pensar que possivelmente falei muito. O que eu teria confessado a Marília em sonhos? Que segredos eu revelei?
Olho fixamente meu Black-Berry com a vaga esperança de que ela me ofereça respostas. Como era de esperar, não se mostrava muito
comunicativa. Ainda não iniciamos a decolagem, assim dava para mandar
um email para minhas Cinquenta Tons.
De: Maiara Carla
Data: 3 de junho de 2015 12:53 EST
Para: Marília Mendonça
Assunto: indo para casa
Querida senhora Mendonça:
Já estou comodamente instalada na primeira classe, na qual te agradeço. Conto os minutos que faltam para vê-la esta noite e possivelmente te torturar para te arrancar a verdade sobre minhas revelações noturnas.
Sua Mai
De: Maiara Carla
Data: 3 de junho de 2015 09:58
Para: Maiara Carla
Assunto: indo para casa
Maiara, desejo muito vê-la.Sua resposta me faz franzir o cenho. Soa cortante e formal, não está escrita em seu habitual estilo sucinto, mas criativo.
De: Maiara Carla
Data: 3 de junho de 2015 13:01 EST
Para: Marília Mendonça
Assunto: indo para casa
Queridíssima senhora Mendonça:
Acredito que tudo vá bem com respeito ao "problema". O tom de seu email me parece preocupante.
De: Marília Mendonça
Data: 3 de junho de 2015 10:04
Para: Maiara Carla
Assunto: indo para casa
Maiara: O problema poderia estar melhor. Já embarcou? Se o estiver, não deveria estar me mandando e-mails. Esta se pondo em perigo e
transgredindo diretamente as normas relativa a sua segurança pessoal.
Sobre os castigos é sério.Merda. Muito bem. Deus... O que esta acontecendo? Qual será "o problema"? Taylor pediu demissão, Marília perdeu uns milhões na Bolsa de Valores... então.
De: Maiara Carla
Data: 3 de junho de 2015 13:06 EST
Para: Marília Mendonça
Assunto: Reação desmedida
Querida senhora casca-grossa: As portas do avião ainda estão abertas. Estamos atrasados, mas decolamos em dez minutos. Meu bem-estar e dos passageiros que estão ao meu redor está assegurado. Pode guardar suas mãos por agora.
De: Marília Mendonça
Data: 3 de junho de 2015 10:08
Para: Maiara Carla
Assunto: Desculpas; mãos guardadas
Sinto sua falta e de sua língua afiada, senhorita Carla.Quero que chegue em casa sã e salva.
De: Maiara Carla
Data: 3 de junho de 2015 13:10 EST
Para: Maiara Carla
Assunto: Desculpas aceitas
Estão fechando as portas. Você não vai ouvir o bip das minhas mensagens, ainda mais com a sua surdez.Até mais tarde.Desligo o Black-Berry, incapaz de me liberar da angústia. Acontecia
alguma coisa com Marília. Para que "o problema" tenha escapado de suas
mãos. Encosto no assento, olhando o compartimento do bagageiro onde
guardei minhas bolsas. Está manhã, com a ajuda de minha mãe, comprei
para Marília um pequeno presente para lhe agradecer as viagens de
primeira classe e os voos de planador. Sorrio ao lembrar da experiência do
planador... Uma autêntica gozadora. Ainda não sei se darei a ela o brinquedo que comprei. Agora me parece infantil; ou, se estiver de humor estranho, talvez não.
Uma parte de mim esta desejando voltar, mas outra teme o que me
espera no final da viagem. Enquanto repasso mentalmente as distintas
possibilidades a respeito de qual pode ser "o problema", tenho em conta que, uma vez mais, o único lugar livre é o que está a meu lado. Meneio a cabeça ao pensar que possivelmente Marília pagou pela parte conjugada para que ela não falasse com ninguém.Descarto a ideia absurda: Pensando que não
poderia haver ninguém tão controladora, tão ciumenta. Quando o avião entra em pista, fecho os olhos.

Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)Onde histórias criam vida. Descubra agora