Marília Mendonça Submissa... Caramba

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Ela puxa para fora de mim, de uma vez. Eu estremeço. Senta-se na
cama, tira a camisinha usada e joga em um cesto de papéis.
— Vamos, temos que nos vestir... se quiser conhecer minha mãe. —
Ela sorri, levanta-se da cama e veste o jeans, sem cuecas! Tento me levantar,
mas continuo amarrada.
— Marília... não posso me mover.
Seu sorriso se acentua, inclina-se e desamarra a gravata, que me
deixou a marca do tecido nos pulsos. Isto é... sexy. Observa-me divertida,
com olhos dançarinos. Beija-me rapidamente na testa e me sorri.
— Outra novidade, — ela reconhece, mas não tenho ideia do que está
falando.
— Eu não tenho roupa limpa. — De repente, estou cheia de pânico,
considerando a experiência que acabo de viver, o pânico me parece
insuportável. Sua mãe! Caramba. Não tenho roupa limpa e ela praticamente
nos pegou em flagrante delito. —Talvez devesse ficar aqui.
— Oh, não, você não vai, — Marília ameaça. — Pode vestir algo meu.
— Ela veste uma camiseta branca e passa a mão pelo cabelo revolto. Embora
esteja muito nervosa, fico embevecida. Será que vou me acostumar a olhar
para esta mulher?
Sua beleza é desconcertante.
— Maiara, você ficaria bonita até com um saco. Não se preocupe,
por favor. Eu gostaria que conhecesse minha mãe. Vista-se. Vou acalmá-la
um pouco. — Aperta os lábios. — Espero você no salão, dentro de cinco
minutos, caso contrário, eu virei e a arrastarei para fora daqui, com
qualquer coisa que esteja vestindo. Minhas camisetas estão nessa gaveta. As
camisas estão no closet. Sirva-se. — Olha-me um instante, inquisitivo e sai
do quarto.
Caramba. A mãe de Marlia. É muito mais do que esperava. Talvez
conhecê-la me permita colocar algumas peças no quebra-cabeça. Poderia me
ajudar a entender por que Marília é como é... De repente, quero conhecê-
la. Recolho minha blusa do chão e me alegro por descobrir que sobreviveu a
noite sem estar muito amassada. Encontro o sutiã azul debaixo da cama e
me visto rapidamente. Mas se há algo que odeio é usar calcinhas sujas.
Dirijo-me à cômoda de Marília e procuro uma de suas cuecas.
Ponho-me uma cueca cinza da Calvin Klein, o jeans e meu Converse.
Puxo a jaqueta, corro ao banheiro e observo meus olhos muito
brilhantes, minha cara vermelha... e meu cabelo. Caramba... as tranças
estão desfeitas. Procuro uma escova, mas só encontro um pente. Ela terá
que servir. Um rabo de cavalo é a única resposta. Eu me desespero com
minhas roupas. Talvez devesse aceitar a oferta de roupas de Marília.
Meu subconsciente franze os lábios e articula a palavra "vadia". Não faço
conta. Ponho a jaqueta e me alegro de que os punhos cubram as marcas da
gravata. Nervosa, me olho pela última vez no espelho. É o que posso fazer.
Dirijo-me ao salão.
— Aqui está. — diz Marília
levantando do sofá.
Olha-me com expressão cálida e apreciativa. A mulher loira que está
ao seu lado se vira e me dedica um amplo sorriso. Levanta-se também. Está
impecavelmente vestida, com um vestido estilo camisa, castanho claro, com
sapatos combinando. Está arrumada, elegante, bonita, e me mortifico um
pouco pensando como estou um desastre.
— Mamãe, apresento-lhe Maiara Carla. Maiara, esta é Ruth Mendonça
A doutora Mendonça me estende a mão.
— Prazer em conhecê-la, — ela murmura. Se não estou enganada, há
espanto e alivio, talvez atordoamento em sua voz e um brilho quente em
seus olhos cor de avelã. Aperto-lhe a mão e não posso evitar de sorrir,
retornando o seu calor.
— Doutora Ruth Mendonça, — eu murmuro.
— Chame-me de Ruth . — Sorri, e Marília franze o cenho. —
Usualmente sou chamada de doutora Mendonça, e a senhora a senhora é minha
sogra. — Ela pisca um dos olhos. — Então, como se conheceram? —
pergunta olhando para Marilia, incapaz de ocultar sua curiosidade.
— Maiara me entrevistou para a revista da faculdade, porque esta
semana vou entregar os diplomas de graduação.
Dupla merda. Tinha-o esquecido.
— Então, você vai se graduar esta semana? — Ruth pergunta.
— Sim.
Meu celular começa a tocar. Maraisa, eu aposto.
— Desculpem-me. O telefone está na cozinha. Aproximo-me e o pego
do balcão sem checar o número.
— Maraisa.
— Meu Deus! Mai! – Que merda, é Japinha. Parece desesperada. — Onde
está? Já liguei umas vinte vezes. Tenho que ver você. Quero te pedir perdão
pelo que aconteceu na sexta-feira. Por que não me respondeu as ligações?
— Olhe, Japinha, agora não é um bom momento.
Olho muito nervosa para Marília, que me observa atentamente, com
rosto impassível, enquanto murmura algo para sua mãe. Dou-lhe as costas.
— Onde você está? Maraisa está muito evasiva, — ela queixa-se.
— Estou em Seattle.
— O que você faz em Seattle? Está com ela?
— Japinha, eu ligo para você mais tarde. Não posso falar agora. E desligo.
Volto com toda tranquilidade para Marília e sua mãe. Ruth está em pleno
falatório.
— ... e Elliot me ligou para dizer que você estava por aqui... Faz duas
semanas que não vejo você, querida.
— Elliot sabia? — Marilia pergunta me olha com expressão
indecifrável.
— Pensei que poderíamos comer juntas, mas já vejo que tem outros
planos, assim não quero lhes interromper. — Ela agarra seu comprido
casaco de cor creme, vira-se para ela, oferecendo o rosto para ele. Ele a beija
rapidamente com suavidade. Ela não toca nela.
— Tenho que levar Maiara para Portland.
— É claro, querida. Maiara, foi um prazer lhe conhecer. Espero que
voltemos a nos ver.
Ela estende-me a mão, com olhos brilhantes e nós sacudimos.
Taylor aparece procedente de... onde?
— Senhora Ruth? — Ele pergunta.
— Obrigado, Taylor. — Ele a segue pelo salão e atravessam as portas
duplas que vão para o vestíbulo. Taylor esteve aqui o tempo todo? Por
quanto tempo esteve aqui? Onde esteve?
Marília me olha.
— Então o fotógrafa ligou para você?
Merda.
— Sim.
— O que queria?
— Só me pedir perdão, já sabe... por sexta-feira.
Marília aperta os olhos.
— Eu vejo, — ela diz simplesmente.
Taylor volta a aparecer.
— Senhora Mendonça, há um problema com o envio de Darfur.
Marília acena bruscamente para ele com a cabeça.
— O Charlie Tango voltou para o Boeing Field?
— Sim, senhora.
Taylor sacode a cabeça para mim.
— Senhorita Carla.
Eu sorrio timidamente para ele, que se vira e sai.
— Taylor vive aqui?
— Sim. — responde-me cortante. Qual o problema agora?
Marília vai à cozinha, pega o seu BlackBerry e dá uma olhada aos e-
mails, suponho. Está muito séria. Ela faz uma ligação.
— Ros, qual é o problema? — pergunta bruscamente. Escuta sem
deixar de me olhar com olhos interrogativos. Eu estou no meio do enorme
salão me sentindo extraordinariamente auto-consciente e deslocada.
— Não vou pôr a tripulação em perigo. Não, cancele... Lançáremos
do ar... Bom.
Desliga. A suavidade em seus olhos desapareceu. Parece hostil. Lança-
me um rápido olhar, dirige-se para seu escritório e volta um momento mais
tarde.
— Este é o contrato. Leia e o comentaremos no fim de semana que
vem. Sugiro que pesquise um pouco, para que saiba do que estamos falando.
— Para por um momento. —Bom, se aceitar e espero realmente que aceite.
— acrescenta em tom mais suave, nervosa.
— Pesquisar?
— Você pode ficar surpresa com o que pode encontrar na internet —
ela murmura.
Internet! Não tenho computador, só o notebook de Maraisa, e, é obvio, não
posso utilizar o do Clayton's para este tipo de "pesquisa", certo?
— O que acontece? — pergunta-me inclinando a cabeça.
— Não tenho computador. Estou acostumada a utilizar os da
faculdade. Verei se posso utilizar o notebook de Marisa.
Ela me entregou um envelope pardo.
— Estou certa que posso... err, lhe emprestar um. Recolha suas
coisas. Voltaremos para Portland de carro e comeremos algo pelo caminho.
Vou vestir-me.
— Tenho que fazer uma ligação, — eu murmuro. Só quero ouvir a voz
do Maraisa. Ela franze o cenho.
— Para a fotógrafa? — Suas mandíbulas se apertam e os olhos ardem.
Eu pisco para ela. — Eu não gosto de compartilhar, senhorita Carla.
Lembre-se disso. — Seu tom de voz calmo, é um arrepiante aviso e dando
um olhar muito frio para mim, ela volta para o quarto.
Caramba. Eu só queria ligar para a Maraisa. Quero ligar diante dela, mas sua
repentina atitude distante me deixou paralisada. O que aconteceu com a
Mulher generosa, depravada e sorridente que me fazia amor faz apenas meia
hora?
— Pronta? — Marília me pergunta junto à porta dupla do vestíbulo.
Eu concordo, incerta. Ela recuperou seu tom distante, educada e
convencional. Voltou a colocar a máscara. Leva uma bolsa de couro sobre o
ombro. Para que a necessita? Talvez ela fique em Portland. Então recordo a
entrega dos diplomas. Sim, claro... Estará em Portland na quinta-feira.
Está vestindo uma jaqueta negra de couro. Vestida assim, sem dúvida não
parece uma multi milionária. Parece uma menina extraviada, possivelmente
uma rebelde estrela de rock ou uma modelo de passarela. Suspiro por dentro,
desejando ter uma décima parte de sua elegância. É tão tranquila e
controlada... Franzo o cenho ao recordar seu arrebatamento com a ligação de
Japinha... Bom, ao menos parece que o é.
Taylor está esperando ao fundo.
— Amanhã, então, — ela diz para Taylor, que concorda.
— Sim, senhora. Que carro vai levar, senhora?
Lança-me um rápido olhar.
— O R8.
— Boa viagem, senhora Mendonça. Senhorita Maria. — Taylor me olha com
simpatia, embora possivelmente no mais profundo de seus olhos esconda
um pingo de lástima.
Sem dúvida acredita que sucumbi aos dúbios hábitos sexuais da
senhora Mendonça. Bom, aos seus excepcionais hábitos sexuais, ou possivelmente,
o sexo seja assim para todo mundo? Franzo o cenho ao pensar nisso. Não
tenho nada com o que compará-la e pelo visto, não posso perguntar a Maraisa.
Assim terei que falar do tema com Marília. Seria perfeitamente natural
poder falar com alguém... mas não posso falar com Marília se ela se
mostrar tão aberta num minuto e tão retraído no seguinte.
Taylor nos segura a porta para que saiamos. Marília chama o
elevador.
— O que foi, Maiara? — pergunta-me. Como sabe que estou remoendo
algo em minha mente? Ela chega mais perto e levanta o meu queixo.
— Pare de morder o lábio ou a foderei no elevador, e não vou me
importar se entrar alguém ou não.
Ruborizo-me, mas seus lábios esboçam um ligeiro sorriso. Ao final
parece que está recuperando o senso de humor.
— Marila, tenho um problema.
— Oh, sim? — pergunta-me me observando com atenção.
Chega o elevador. Entramos e Marília aperta o botão marcado com
um G.
— Bem, — eu ruborizo. Como posso dizer-lhe isso? — Preciso falar com
a Maraísa, Tenho muitas perguntas sobre sexo, e você está muito
comprometido. Se quiser que faça todas essas coisas, como vou saber...? —
interrompo-me e tento encontrar as palavras adequadas.
— É que não tenho pontos de referência.
Ela rola os olhos.
— Fale com ela se for preciso. — responde-me zangada. — Mas se assegure
de que não comente nada com o Elliot.
Não concordo com sua insinuação. Maraisa não é assim.
— Maraisa não faria algo assim, como eu não diria a você nada do que ela
me conte sobre Elliot... se me contasse algo, — acrescento rapidamente.
— Bom, a diferença é que não me interessa sua vida sexual —
murmura Marília em tom seco. — Elliot é um bastardo curioso. Mas lhe
fale só do que temos feito até agora, — ela adverte.
— Ela, provavelmente, me cortaria as bolas se soubesse o que quero fazer
contigo, — ela acrescenta em voz tão baixa, que não estou segura de se
pretendia que o ouvisse.
— Ok, — concordo prontamente, sorrindo para ela, aliviada. Não quero
nem pensar em Maraisa cortando as bolas de Marília.
Ela franze os lábios e sacode a cabeça.
— Quanto antes se submeta para mim melhor, assim acabamos com
tudo isto — ela murmura.
— Acabamos com o que?
— Com seus desafios. — Passa uma mão pelo meu queixo e me
beija rapidamente nos lábios. As portas do elevador se abrem. Agarra-me
pela mão e me leva para a garagem no subsolo.
Eu a desafio... como?
Perto do elevador vejo o Audi 4x4 negro, mas quando aperta o
comando para que se abram as portas, acendem-se as luzes de um esportivo
negro reluzente. É um desses carros que deveria ter uma loira de pernas
longas, deitada no capô, vestida apenas com uma faixa.
— Bonito carro, — eu murmuro secamente.
Ela levanta o olhar e sorri.
— Eu sei, — responde-me, e por um segundo volta a ser a doce, jovem
e despreocupada Marília. Inspira-me ternura. Está entusiasmada. As
meninas e seus brinquedos. Rolo os olhos, mas não posso ocultar meu
sorriso. Abre-me a porta e entro. Uau... é muito baixo. Ela se move em volta
do carro com graça fácil e dobra seu corpo longo elegantemente ao meu lado.
Como ela faz isso?
— Então, que tipo de carro é esse?
— Um Audi R8 Spyder. Como faz um dia lindo, podemos baixar a
capota. Há um boné de beisebol aí. Na verdade, deve haver dois. Ela aponta
para uma caixa. — E óculos de sol se você quiser.
Ela dá partida na ignição, e o motor ruge a nossas costas. Deixa a
bolsa entre os dois assentos, aperta um botão e a capota retrocede
lentamente. Aperta outro, e a voz do Bruce Springsteen nos envolve.
— Vai ter que gostar do Bruce, — Sorri-me, e tira o carro do
estacionamento e sobe a rampa, onde nos detemos, esperando que a porta
levante.
E saímos para a ensolarada manhã de maio em Seattle. Abro a caixa e
pego os bonés de beisebol. São da equipe dos Mariners. Ela gosta de
beisebol? Passo-lhe um boné e ponho o outro. Eu passo o rabo de cavalo
pela parte de trás do meu boné e puxo a viseira para baixo.
Pessoas nos olham quando nos dirigimos pelas ruas. Por um momento
penso que olham para ela... e logo tenho um paranóico pensando que me
olham porque sabem o que estive fazendo nas últimas doze horas, mas ao
final, me dou conta de que o que olham é o carro. Marília parece alheia a
tudo, perdida em seus pensamentos.
Há pouco tráfico, assim não demoramos para chegar a interestadual 5
em direção ao sul, com o vento soprando por cima de nossas cabeças. Bruce
canta que arde de desejo. Muito oportuno. Ruborizo-me escutando a letra.
Marília me olha. Com seus óculos Ray-Ban, não vejo sua expressão.
Franze os lábios, apóia uma mão em meu joelho e me aperta suavemente.
Minha respiração fica difícil.
— Tem fome? — pergunta-me.
Não de comida.
— Não especialmente.
Seus lábios voltam a apertar-se em uma linha firme.
— Você tem que comer, Maiara, — ela repreende-me. — Conheço
um lugar fantástico perto de Olympia. Pararemos ali. — Aperta-me o joelho
de novo, sua mão volta a pegar no volante e pisa no acelerador. Vejo-me
impulsionada contra o respaldo do assento. Caramba, como corre este carro.
O restaurante é pequeno e íntimo, um chalé de madeira em meio de um
bosque. A decoração é rústica: cadeiras diferentes, mesas com toalhas em
xadrez e flores silvestres em pequenos vasos. Cuisine Sauvage, alardeia um
pôster por cima da porta.
— Fazia tempo que não vinha aqui. Não se pode escolher... Preparam o que
caçaram ou recolheram. — Levanto as sobrancelhas fingindo horrorizar-se e
não posso evitar de rir. A garçonete nos pergunta o que vamos beber.
Ruboriza-se ao ver Marília e se esconde debaixo de sua comprida franja
loira para evitar olhá-la nos olhos. Ela gosta dela! Não acontece só comigo!
— Dois copos do Pinot Grigio, — diz Marília em tom autoritário. Eu
aperto meus lábios, aborrecida. — O que? — pergunta-me bruscamente.
— Eu queria uma Coca-cola light, — eu sussurro.
Seus olhos cinza se apertam e ela sacode sua cabeça.
— O Pinot Grigio daqui é um vinho decente. Irá bem com a comida,
tragam o que nos trouxerem, — diz-me em tom paciente.
— Tragam o que trouxerem?
— Sim.
Esboça seu deslumbrante sorriso inclinanda a cabeça e faz um nó no
meu estômago. Eu não posso deixar de devolver-lhe seu sorriso glorioso.
— Minha mãe gostou de você, — diz-me de repente.
— Sério? — Suas palavras me fazem ruborizar de alegria.
— Oh sim. Sempre pensou que eu fosse ficar com homes..
Abro a boca ao me lembrar daquela pergunta... na entrevista. Oh, não.
— Por que ela pensava que você ficaria com homens? — pergunto-lhe em voz baixa.
— Porque nunca me viu com uma garota.
— Oh... com nenhuma das quinze?
Ela sorri.
— Tem boa memória. Não, com nenhuma das quinze.
— Oh.
— Olhe, Maiara, para mim também foi um fim de semana de
novidades, — diz-me em voz baixa.
— Foi?
— Nunca tinha dormido com ninguém, nunca tinha tido relações
sexuais em minha cama, nunca tinha levado uma garota no Charlie Tango e
nunca tinha apresentado uma mulher para minha mãe. O que você está
fazendo comigo? — A intensidade de seus olhos ardentes me corta a
respiração.
A garçonete chega com nossos copos de vinho, e imediatamente dou
um pequeno gole. Está sendo franca ou se trata de um simples comentário
fortuito?
— Eu gostei muito deste fim de semana, — digo em voz baixa. Ela
aperta os olhos para mim novamente.
— Pare de morder o lábio, — ela grunhe. — Eu também, — ela acrescenta.
— O que é sexo baunilha? — pergunto-lhe, embora só para me distrair do
intenso olhar ardente e sexy que ela está me dando. Ela ri.
— Sexo convencional, Maiara. Sem brinquedos, nem acessórios. —
ela encolhe os ombros. — Você sabe... bom, a verdade é que não sabe, mas
isso é o que significa.
— Oh. — Eu pensei que era sexo bolo de chocolate com uma cereja no
topo, o que tivemos. Mas então, o que eu sei?
A garçonete nos traz sopa, que ambos olhamos com certo receio.
— Sopa de urtigas, — informa-nos a garçonete, dando meia volta e
retornando zangada à cozinha. Não acredito que goste que Marília não lhe
faça nem caso. Provo a sopa, que está deliciosa.
Marília e eu olhamos um para a outra, aliviadas. Dou uma risada e ela
inclina a cabeça.
— Que som adorável, — murmura.
— Por que você nunca fez sexo baunilha antes? Você sempre fez... err,
o que faz? — pergunto-lhe intrigada.
Ela concorda lentamente.
— Mais ou menos. — Ela responde-me com cautela. Por um momento
franze o cenho e parece liberar uma espécie de batalha interna. Logo levanta
os olhos, como se tivesse tomado uma decisão. — Uma amiga de minha mãe
me seduziu quando eu tinha quinze anos.
— Oh. Meu deus, tão jovem!
— Seus gostos eram muito especiais. Fui seu submisso durante seis
anos. — Ela encolhe os ombros.
— Oh. — Meu cérebro congelou, atordoado por essa confissão.
— Então, eu sei o que isso implica, Maiara. — Seus olhos brilham
com a introspecção.
Observo-a fixamente, incapaz de articular uma palavra... Até meu
subconsciente está em silêncio.
— A verdade é que não tive uma introdução ao sexo muito corrente.
A curiosidade entra em ação.
— E alguma vez saiu com alguém na faculdade?
— Não. — responde-me, negando com a cabeça, para enfatizar sua
resposta.
A garçonete chega para retirar nossos pratos e nos interrompe um por
momento.
— Por quê? — pergunto-lhe, quando ela se vai.
Ela sorri sardonicamente.
— Você, realmente, quer saber?
— Sim.
— Porque não quis. Ela era tudo o que queria ou necessitava. Além
disso, ela iria me castigar. — Ela sorri com carinho ao recordar.
Oh, isso era muita informação... mas queria mais.
— Então, ela era uma amiga de sua mãe, quantos anos ela tinha?
Ela sorri.
— Tinha idade suficiente para saber o que fazia.
— Você ainda a vê?
— Sim.
— Ainda... bem...? — Ruborizo-me.
— Não. — Ela sacode a cabeça e com um sorriso indulgente. — Ela é
uma boa amiga.
-Oh. Sua mãe sabe?
Ela me olha, como se dissesse para não ser idiota.
— Claro que não.
A garçonete retorna com carne de veado, mas meu apetite sumiu. Que
revelação.
Marília, uma submissa... caramba. Eu dou um comprido gole no Pinot
Grigio... Marília tinha razão, é obvio, está delicioso. tenho que
pensar em tudo o que me contou. Necessito tempo para processá-lo quando
estiver sozinha, porque agora sua presença me distrai. É tão irresistível, e de repente, lança esta bomba. Ela sabe o que é ser submissa.
— Mas não pode ter sido em tempo integral? — Estou confusa.
— Bem, era, apesar de não vê-la o tempo todo. Era... difícil. Afinal, eu
ainda estava na escola e mais tarde, na faculdade. Coma, Maiara.
— Não tenho fome, Marília, de verdade. Eu estou me recuperando da
revelação.
Sua expressão se endurece.
— Coma, — diz-me em tom tranquilo, muito tranquilo.
Eu olho para ela. Esta mulher... abusaram sexualmente dela quando
era adolescente... seu tom é ameaçador.
— Espere um momento, — eu murmuro. Ela pisca um par de vezes.
— Ok, — ela murmura e segue comendo.
Assim será a coisa se assinar. Terei que cumprir suas ordens. Franzo
o cenho. É isso o que quero?
Pego o garfo e a faca, e começo a cortar o veado. Está delicioso.
— Assim será a nossa... nossa relação? — Eu sussurro. — Estará me
dando ordens todo o momento? — pergunto-lhe em um sussurro, sem me
atrever a olhá-la.
— Sim, - ela murmura.
— Já vejo.
— E o que mais que eu queira que faça, — acrescenta em voz baixa.
Eu sinceramente duvido disso. Eu corto mais um pedaço de veado e
aproximo dos lábios.
— É um grande passo, — eu murmuro e como.
— Sim, é. Ela fecha os olhos por um segundo. Quando os abre, está muito
sério.
— Maiara, tem que seguir seu instinto. Pesquise um pouco, leia o
contrato... Não tenho problema em comentar qualquer detalhe. Estarei em
Portland até na sexta-feira, se por acaso quiser que falemos sobre isso antes
do fim de semana. — Suas palavras me chegam em uma corrida. — Ligue-
me ... talvez, pudéssemos jantar... digamos na quarta-feira? Na verdade,
quero que isto funcione. Nunca quis tanto.
Seus olhos refletem sua ardente sinceridade e seu desejo. É
basicamente o que não entendo. Por que eu? Por que não uma das quinze?
OH, não... É nisso que vou converter-me? Em um número?
A dezesseis, nada menos?
-O que aconteceu com as outras quinze? - pergunto-lhe, de repente.
Ela suspende as sobrancelhas, surpresa e move a cabeça com
expressão resignada.
— Coisas distintas, mas ao fim e ao cabo se reduz a... — detém-se,
acredito que tentando encontrar as palavras.
— Incompatibilidade. — Ela encolhe os ombros.
— E acredita que eu poderia ser compatível contigo?
— Sim.
— Então, já não vê nenhuma de ex.
— Não, Maiara. Eu não. Sou monógama em meus relacionamentos.
Oh... isso é novidade.
— Já vejo.
— Pesquise um pouco, Maiara.
Eu abaixo o garfo e a faca. Não posso continuar comendo.
— Só isso? Isso é tudo o que vai comer?
Eu concordo. Ela franze o cenho, mas decide não dizer nada. Eu deixo
escapar um pequeno suspiro de alívio.
Meu estômago está embrulhado com tantas informações e me sinto um
pouco tonta pelo vinho. Observo-a devorando tudo o que tem no prato. Ela
come como um cavalo. Deve fazer muito exercício para manter a boa forma.
De repente, recordo como lhe cai bem o pijama. A imagem é totalmente
perturbadora. Contorço-me desconfortavelmente. Ela me olha e eu ruborizo.
— Eu daria tudo para saber o que está pensando neste exato
momento, — ela murmura.
Ruborizo ainda mais.
Ela sorri perversamente para mim.
— Eu posso imaginar, — provoca-me.
— Alegro-me de que não possa ler meus pensamentos.
— Seus pensamentos não, Maiara, mas seu corpo... isso conheço
bastante bem desde ontem. — Sua voz é sugestiva. Como pode mudar de
humor tão rápido? É tão volátil... É tão difícil seguir seu ritmo.
Chama à garçonete e lhe pede a conta. Depois de pagar, levanta-se e
me estende a mão.
— Vamos. — Agarra-me pela mão e voltamos para carro. O inesperado
dela é este contato de sua pele, normal, íntimo. Não posso reconciliar este
gesto corrente e tenro com o que quer faz naquele quarto... O Quarto
Vermelho da Dor.
Fazemos a viagem de Olympia para Vancouver em silêncio, cada um
afundado em seus pensamentos. Quando estaciona em frente à porta de
minha casa, são cinco horas da tarde.
As luzes estão acesas, então Maraisa está em casa, sem dúvida,
empacotando, a menos que Elliot ainda não tenha partido. Marília desliga
o motor, então percebo que tenho que me separar dela.
— Quer entrar? — pergunto-lhe. Não quero que parta. Quero ficar
mais tempo com ela.
— Não. Tenho trabalho para fazer, — ela diz simplesmente, me
olhando com expressão insondável.
Eu olho para baixo, para as minhas mãos e entrelaço os dedos. De
repente, me sinto emotiva. Ela vai partir. Aproximando-se mais, ela pega
uma de minhas mãos e lentamente a leva à boca e beija suavemente a
palma, bem a moda antiga. Meu coração salta para minha boca.
— Obrigado por este fim de semana, Maiara. Foi... estupendo.
Quarta-feira? Passarei para lhe pegar no trabalho ou onde você quiser. —
Ela diz suavemente.
— Quarta-feira, — sussurro.
Ela beija minha mão de novo e a coloca de volta em meu colo. Sai do
carro, aproxima-se de minha porta e abre. Por que, de repente, me sinto
desolada? Isso me dá um nó na garganta. Não quero que me veja assim. Fixo
um sorriso em meu rosto, saio do carro e me dirijo para a porta, sabendo
que eu tenho que enfrentar Maraisa e não quero enfrentar a Maraisa. No meio
caminho, eu giro e olho para ela. Levante o queixo, Carla, eu me repreendo.
— Oh... à propósito, vesti uma de suas cuecas. — Dou para ela um
pequeno sorriso e puxo o elástico de sua cueca para que ela veja. Marília
abre a boca, surpresa. O que é uma grande reação. Meu humor muda
imediatamente, eu escorrego para dentro de casa, uma parte de mim
querendo pular e dar socos no ar. SIM! A minha deusa interior está
encantada.
Maraisa está na sala de estar, colocando seus livros em caixas.
— Você voltou. Onde está Marília? Como você está? — pergunta-me
em tom febril, nervoso. Vem para mim, agarra-me pelos ombros e examina
minuciosamente meu rosto antes mesmo de me dizer olá.
Merda... Tenho que lutar com a insistência e a tenacidade de Maraisa, e
tenho na bolsa um documento legal assinado, que diz que não posso falar.
Não é uma saudável combinação.
— Bem, como foi? Não deixei que pensar em ti por um momento,
depois que Elliot partiu, claro. — Ela sorri maliciosamente.
Não posso evitar sorrir por sua preocupação e sua ardente
curiosidade, mas de repente, me dá vergonha.
Eu ruborizo. O que aconteceu foi muito íntimo. Tudo isso. Ver e saber o que
Marília esconde. Mas tenho que lhe dar alguns detalhes, porque se não,
não vai deixar-me em paz.
— Está tudo bem, Maraisa. Muito bem, eu penso, — digo-lhe em tom
tranquilo, tentando ocultar meu sorriso.
— Você pensa?
— Não tenho nada com o que comparar, não é? — digo-lhe,
encolhendo de ombros apologeticamente.
— Ela fez você gozar?
Caramba, como ela é direta. Eu fico vermelha.
— Sim, — eu murmuro, desesperada.
Maraisa me empurra até o sofá e nos sentamos. Ela agarra as minhas
mãos.
— Isso é bom. — Olha-me como se não acreditasse. — Foi sua
primeira vez. Uau, Marília deve saber o que se faz.
Oh, Maraisa, se você soubesse...
— Minha primeira vez foi terrível, — ela continua, fazendo uma cara
triste e engraçada.
— Anh? — Isso me interessa, era algo que ela nunca tinha me contado
antes.
— Sim. Steve Paton. No segundo grau. Um atleta babaca. — Encolhe
os ombros. — Foi muito brusco, e eu não estava preparada. Estávamos os
dois bêbados. Já sabe... o típico desastre adolescente, depois da festa de
formatura. Ugh, demorei meses para me decidir a voltar a tentar. E não com
aquele inútil. Eu era muito jovem. Você fez bem em esperar.
— Maraisa, isso parece horrível.
Maraisaparece melancólica.
— Sim, demorei quase um ano para ter meu primeiro orgasmo com
penetração, e aí está você... na primeira vez.
Concordo envergonhada. A minha deusa interior está sentada na
postura do lótus e parece serena, embora tenha um ardiloso sorriso
autocomplacente no rosto.
— Alegro-me de que tenha perdido a virgindade com uma Mulher que
sabe o que se faz. — Ela pisca para mim com um olho. — E quando volta a
vê-la de novo?
— Quarta-feira. Vamos jantar.
— Então você ainda gosta dela?
— Sim, mas não sei o que vai acontecer... no futuro.
— Por quê?
— É complicado, Maraisa. Você sabe... seu mundo é totalmente diferente
do meu.
Boa desculpa. Aceitável também. Muito melhor que... ela tem um
Quarto Vermelho da Dor e quer me converter em sua escrava sexual.
— Oh por favor, não permita que o dinheiro seja um problema, Mai.
Elliot me disse que é muito estranho que Marília saia com uma garota.
— Será que ela...? — pergunto-lhe, minha voz estava várias oitavas mais
aguda.
Tão obvio, Carla! Meu subconsciente me olha movendo seu comprido
dedo e logo se transforma na balança da justiça para me lembrar que
Marília poderia me processar se eu revelasse demais.
Ah... O que pode fazer? Ficar com todo meu dinheiro? Tenho que me lembrar
de procurar no Google "pena por descumprir um acordo de confidencialidade"
quando fizer minha "pesquisa". É como se ela me tivesse me passado lição de
casa. Talvez eu possa ganhar um diploma. Ruborizo me lembrando do meu
A, esta manhã, no meu experimento na banheira.
— Mai, o que foi?
— Estava me lembrando de algo que Marília me disse.
— Você parece diferente, — Maraisa me diz com carinho.
— Eu estou diferente. Dolorida, — confesso-lhe.
— Dolorida?
— Um pouco. — Ruborizo-me.
— Eu também. — ela diz com uma careta de desgosto. — Nós duas começamos a rir.
— Você também está dolorida? — pergunto-lhe surpreendida.
— Sim... excesso de uso.
Eu começo a rir.

Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)Onde histórias criam vida. Descubra agora