Fodasse a Papelada........

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— Tenho que lhe mostrar isso Maiara. A que hora sai do trabalho
esta tarde?
— Às oito.
— Bem, poderíamos ir jantar na minha casa em Seattle, esta noite ou
no sábado que vem, onde lhe explicaria isso. Você decide.
— Por que não me pode dizer isso agora?
— Porque estou desfrutando o meu café da manhã e de sua
companhia. Quando você souber, certamente não quererá voltar a me ver.


— O que significa tudo isto? Trafica com meninos de algum recôndido
fundão do mundo para prostituí-los? Faz parte de alguma perigosa gangue
mafiosa?
Isso explicaria por que é tão rica. É profundamente religiosa? É
impotente? Seguro que não... poderia me demonstrar isso agora mesmo.
Incomodo-me pensando em todas as possibilidades. Isto não leva a nenhuma
parte. Eu gostaria de resolver o enigma de Marília Mendonça, o quanto antes.


Se isso implicar que seu segredo é tão grave que não vou querer voltar ou ter
nada com ela, então, a verdade será um alívio. Não te engane!, grita o meu
subconsciente. Terá que ser algo muito mau para que saia correndo.
— Esta noite.
— Esta noite.
Levanta uma sobrancelha.
— Como Eva, quer provar quanto antes o fruto da árvore da ciência.
Solta uma risada maliciosa.
— Está rindo de mim, Sra. Mendonça? — pergunto-lhe em tom suave.


Olha-me apertando os olhos e saca seu BlackBerry. Tecla um
número.
— Taylor, vou necessitar do Charlie Tango.
Charlie Tango! Quem é esse?
— Desde Portland. A... digamos às oito e meia... Não, fica na escala...
Toda a noite.
Toda a noite!
— Sim. Até amanhã pela manhã. Pilotarei de Portland a Seattle.
Pilotará?
— Piloto disponível ás dez e meia.
Deixa o telefone na mesa. Nem por favor, nem obrigado.
— As pessoas sempre fazem o que lhes manda?
— Eles devem fazê-lo, se não quiserem perder seu trabalho, — ela
responde-me inexpressiva.


— E se não trabalharem para ti?
— Bom, posso ser muito convincente, Maiara. Deveria terminar o
café da manhã. Logo a levarei para casa. Passarei para te buscar pelo
Clayton's as oito, quando sair. Voaremos à Seattle.
— Voaremos?


— Sim. Tenho um helicóptero.
Olho para ela boquiaberta. Segunda entrevista com a misteriosa
Marília Mendonça. De um café a um passeio em helicóptero. Uau.
— Iremos a Seattle de helicóptero?
— Sim.
— Por quê?
Ela sorri perversamente.
— Porque posso. Termine o café da manhã.
Como vou comer agora? Vou a Seattle de helicóptero com Marília Mendonça. E quer me morder o lábio... Estremeço só de pensar.


— Coma, — ela diz bruscamente. — Maiara, não suporto jogar
comida fora... Coma.
— Não posso comer tudo isto, — digo olhando o que ficou na mesa.
— Coma o que há em seu prato. Se ontem tivesse comido como
devido, não estaria aqui e eu não teria que mostrar minhas cartas tão cedo.
Aperta os lábios. Parece zangada.
Franzo o cenho e miro a comida que há em meu prato, já fria. Estou
muito nervosa para comer, Marília. Você não entende? Explica meu
subconsciente. Mas sou muito covarde para dizê-lo em voz alta, sobretudo,
quando parece tão áspero. Mmm... como um menino pequeno. A ideia me
parece divertida.


— O que parece tão engraçado? — pergunta-me.
Como não me atrevo a dizer-lhe, não levanto os olhos do prato.
Enquanto eu como a última parte da panqueca, elevo o olhar. Observa-me
com olhos escrutinadores.
— Boa garota. Levar-te-ei para casa assim que tenha secado o cabelo.
Não quero que fique doente.
Suas palavras têm um pouco de promessa implícita. O que quer
dizer? Levanto-me da mesa. Por um segundo me pergunto se deveria lhe
pedir permissão, mas descarto a ideia.

Parece-me que abriria um precedente
perigoso. Dirijo-me a seu quarto, mas uma ideia me detém.
— Onde dormiu?
Viro-me para olhá-la. Está ainda sentada à mesa de jantar. Não vejo
mantas nem lençóis pela sala. Possivelmente já os tenha recolhido.
— Em minha cama, — responde-me, de novo, com olhar impassível.
— OH.
—Sim, para mim também foi uma novidade, — Ela diz sorrindo. —
Dormir com uma mulher... sem sexo.
— Sim, "sexo", — digo e ruborizo, é obvio.
—Não, — responde-me movendo a cabeça e franzindo o cenho, como
se acabasse de recordar algo desagradável. — Sinceramente, só dormir com
uma mulher.
Agarra o jornal e segue lendo.

Cinquenta Tons De Cinza (Adapt Mailila)Onde histórias criam vida. Descubra agora