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Sinto o cheiro forte que vem do incenso e não posso deixar de xingar mentalmente o mestre Myung, como ele acha que um lobo pode se concentrar com o olfato sendo afetado desse jeito?
Ele ouço o tilintar de vários sinos e ele canta algo que eu não consigo compreender. Sinto que o Pran está muito preocupado e tento empurrar ele, isso também não vai me ajudar. O meu corpo começa a ficar leve e eu quase sinto a fumaça do incenso ao meu redor, a canção vai ficando mais distante como se eu estivesse entrando em um túnel.

A porta se abre e o guarda me empurra para dentro do salão, eu tropeço nas correntes e caio, sem dar chance de eu me recuperar o vampiro segura o meu braço e me levanta, sou quase arrastado pelo corredor até chegar na frente do rei.
- Você sabe quem eu sou?
Eu aceno e ele faz um sinal, o guarda se afasta e um homem se aproxima, começa a me tocar, abre a minha boca, olha o meu pescoço, mãos, olhos, não sei o que ele está procurando, mas ele olha o meu corpo inteiro, quando termina acena para o rei e se afasta.
- Como é o seu nome?
- Gun... Hummm... Senhor... Majestade...
- Gun, você sabe porque está aqui?
Eu nego e ele continua.
- Você gostaria de trabalhar no castelo, Gun? Aqui você vai ter uma vida feliz, muita comida, um quarto só seu e vai poder estudar.
Isso parece muito bom para ser real, há muito tempo os lobos não tem direito de sair das minas de carvão, é tudo o que conhecemos, nos entregam rações diárias e não nos deixam sair de lá, a nossa vida começa e acaba nos túneis, então claro que qualquer um aceitaria qualquer coisa para sair de lá.
- Você quer trabalhar aqui, Gun?
Contra todos os meus instintos eu aceno e ele sorri.
- Levem ele e preparem para a cerimônia.
Depois de me lavarem três vezes as duas vampiras que estão comigo me vestem com uma espécie de vestido branco, não, é mais como uma túnica, elas cortam o meu cabelo pois não conseguem pentear, cortam as minhas unhas, mas não parecem satisfeitas, então tiram a minha roupa e me dão banho mais três vezes. Quando elas decidem que eu estou aceitável um guarda vem me buscar e me leva para uma sala cheia de velas, me deixa no centro e sai.
Olho em volta tentando entender o que está acontecendo, mas não existe nada aqui que eu reconheça que pode me ajudar, um cheiro forte e doce invade o meu nariz e o meu lobo reclama, eu respiro fundo e tento controlar ele, os vampiros odeiam lobos, mataram milhares nos últimas cem anos, os que sobraram foram feitos de escravos e hoje trabalham nas minas.
A porta abre e eu viro para ela, um garoto que não deve ser muito mais velho que eu entra, para na minha frente e fica me olhando, então dá risada.
- O meu cachorrinho é mais bonito.
A porta abre mais uma vez e ele se afasta, várias pessoas entram ficando a nossa volta e uma mulher vem até nós.
- O senhor não pode estar aqui durante o ritual, majestade.
- Pois eu digo que posso!
- Nesse caso teremos que informar ao rei sobre o infortúnio que ocorrerá devido a intrusão.
Ele olha para a mulher muito irritado e sai batendo a porta, ela vira para mim e sorri, me surpreendo ao perceber que ela é uma loba.
- Olá, Gun!
- Oi...
- Gun, eu me chamo Sumalee, eu estou aqui para acompanhar você na cerimônia e também para ensinar tudo sobre o palácio e as suas funções. Você já ouviu falar sobre familiares? - Eu nego e ela continua. - Existe uma conexão muito especial que é criada entre um vampiro e um lobo quando o vampiro se alimenta pela primeira vez. Nós fomos escolhidos para ser familiares e através dessa conexão podemos proteger os vampiros da família real. A princesa Dara completou 15 anos e assim como os lobos nessa idade ela completou a transformação, agora ela precisa se alimentar, você foi escolhido para ser o seu familiar e vai acompanhar e proteger ela sempre. Consegue me entender?
Entendi pouca coisa, mas aceno. Ela sorri e faz um sinal, uma das pessoas sai do círculo e vai até a porta, quando abre alguém entra.
Ela está com um vestido branco que tem várias pedras a sua volta que fazem ela brilhar como uma estrela quando se move. Eu poderia ficar por horas apreciando a beleza do vestido se a sua face não ofuscasse tudo a sua volta. Ela é absolutamente linda, o seu rosto redondo com bochechas redondas a fazem parecer uma boneca, o seu cabelo castanho cai sobre os seus ombros e os seus olhos brilham tanto quanto o vestido.
Ela para na minha frente, me olha com curiosidade e sorri, não entendo como é possível, mas eu tenho certeza que me apaixonei por ela, por esse sorriso, pelas suas covinhas...
A loba está falando sem parar, mas eu não consigo prestar atenção, então quanto eu percebo a princesa está se aproximando, sinto os seus lábios no meu pescoço e ela me morde, tenho uma sensação estranha como se estivesse morrendo de fome, mas logo isso diminui, eu fico satisfeito  e muito feliz.

Ela corre até o rio e chuta a água, vira para mim sorri e abre o seu vestido, quando percebo o que esta fazendo eu viro de costas, fecho os olhos e tento esquecer do que vi.
Ela me abraça e encosta a cabeça nas minhas costas, eu me conecto a ela, não consigo resistir, saber o que ela está sentindo e quase uma droga para mim.
- Gun...
Ela está triste eu acho e não entendo porque.
- Você não me ama?
Ela sabe que eu a amo, descobriu isso há muito tempo.
Ela se afasta e vem para a minha frente, o seu cabelo cumprido está jogado para frente cobrindo os seus seios, é a única coisa cobrindo o seu corpo nesse momento, ela segura a minha mão e coloca no seu seio direito, se aproxima, levanta na ponta dos pés e me beija.
Três anos, esse é o tempo que eu resisti, mas agora eu não consigo mais, eu a seguro e com cuidado a deito na pedra que está molhada, tiro a minha roupa e me deito sobre ela.
- Eu te amo, Estrela!
Os seus olhos se enchem de lágrimas enquanto ela sorri.
- Eu também te amo!

Estamos deitados na sua cama quando ela vira para mim e sorri, o sorriso que consegue tudo o que quer de qualquer pessoa.
- Por favor?
- Não podemos fazer isso, Estrela.
- Podemos sim, eu te amo e é para sempre, porque eu não posso ser sua parceira?
Ela me olha magoada e senta.
- É isso não é? Você não me quer como parceira, vai escolher outra pessoa.
- Estrela... Dara... Não é isso, eu te amo e jamais escolheria outra pessoa, mas...
- Mas nada, se você me ama de verdade vai me marcar agora!
Ela mais uma vez me olha magoada, eu sei que isso é errado, mesmo assim puxo ela para mim e a sento no meu colo, deixo as minhas presas saírem e mordo o seu ombro.

Ficamos escutando a briga da cozinha e eu queria poder não ouvir. O rei anunciou o noivado da Dara e por algum motivo ela vai assumir o trono e não o seu irmão, não sei no que o rei está pensando, mas o irmão dela não aceitou a decisão e está gritando e jogando várias coisas na parede. Ouvimos vários gritos e de repente eu sinto uma dor muito forte no peito, a Sumalee me segura antes de eu cair no chão e me olha preocupada, ela tem sido como uma mãe desde que eu cheguei aqui. Ouvimos mais gritos e ela olha para o guarda.
- Veja o que está acontecendo!
Ele acena e vai para a porta, mas eu não preciso que ninguém me diga, eu sei o que aconteceu. O guarda volta novamente e olha para nós, a última coisa que eu escuto antes de morrer é a confirmação do que o meu coração já sabia.
- O príncipe matou a princesa Dara.

Sinto que estou sufocando e começo a tossir, a ansiedade do Pran me atinge com força quando ele se ajoelha ao meu lado, olho para o seu rosto, o rosto da minha Jasmim, da minha Estrela...
- Eu te amo!
Sou consumido pelos sentimentos dele e apago sem conseguir dizer mais nada.

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