— Foi assim que chegamos aqui, os guardas do santuário que ajudaram vocês, também nos ajudaram.
A nossa filha termina de contar o que aconteceu, mas o humor do Pran está cada vez pior, eu entendo, a nossa filha passou por tanta coisa, ficou muito ferida, teve que ficar em uma caverna escondida por semanas, fico feliz que o Isaac estava lá pra ajudá-la, apesar que eu acho que o Pran não pensa assim, a fúria dele vai crescendo descontroladamente, não vai demorar muito pra ele explodir novamente.
— Eu sinto muito, princesa...
Ela sorri e deita no meu peito mais uma vez, acaricio cabelo enquanto aperto a mão do Pran chamando a sua atenção pra mim, ele fica olhando nos meus olhos e aos poucos começa a se acalmar, quando está mais tranquilo beija a minha mão e a cabeça da nossa filha.
— Você deve estar cansada, princesa, eu vou pedir para te levarem até o seu quarto.
Consigo sentir ela relaxando antes de se afastar e sorrir.
— Você está bem, pai? Eu soube que a rainha morreu.
Isso é novidade, eu me concentro nos sentimentos do Pran, ele está triste, mas não chega nem perto de como ficou quando soube da morte do pai, a sua resposta é direcionada a mim, apesar da pergunta ter vindo da Claire.
— Eu estou bem.
— E o Wai?
Ele fica tenso e aperta a minha mão, inspira e expira pra se acalmar e responde.
— Eu mandei prender ele novamente.
— Você devia ter matado ele, Pran!
O seu sorriso triste e a sua preocupação ao olhar pra mim é tudo o que eu preciso para saber porque ele não fez, provavelmente desde o momento em que eu desmaiei até agora ele não saiu do meu lado.
— Eu vou tentar achar alguém para me levar para o meu quarto, mais tarde eu volto pra te ver, papai.
Ela beija o meu rosto e o Pran fica tenso mais uma vez, no início eu acho que ele está preocupado com os meus ferimentos, mas quando a sua fúria volta eu sei que tem algo muito errado acontecendo aqui. Antes que ele diga qualquer coisa a Claire levanta rápido e sai do quarto sendo seguida pelo Isaac que apenas dá um sorriso discreto pra mim. A porta fecha e eu tento sentar, o Pran se assusta e prontamente me ajuda.
— Vai me dizer o que está acontecendo? Porque você está assim, Pran?
— Assim?
— Porque você está tão irritado com a nossa filha?
Ele fica me encarando como se não tivesse acreditando.
— Pat, eles são parceiros.
— Sim, eu sei.
Ele suspira e fala bem devagar, como se estivesse explicando algo para uma criança.
— Pat, a sua filha e aquele lobo... — Ele para e fica irritado mais uma vez. — Você lembra o que aconteceu quando eu me alimentei pela primeira vez?
— Hmm... Você estava com muita fome e eu preocupado, foi estranho porque eu...
Finalmente entendo o que está incomodando ele e dou risada.
— É porque nós transamos?
— Isso não tem graça, Pat!
— Me desculpe. Pran, o que aconteceu entre nós foi diferente, você me amava, me desejava. Quando me mordeu eu fiquei excitado, porque você estava excitado. Só porque ela se alimentou não significa que eles vão... — Eu paro de falar, primeiro porque é estranho falar sobre a nossa filha fazendo isso, segundo porque eu sinto a sua raiva lutando para dominar ele. — Enfim, foi diferente.
— Você é muito inocente se pensa mesmo assim, Pat.
Considero a possibilidade e descarto rapidamente, a Claire não faria isso e o Isaac tem medo demais do Pran para sequer pensar na possibilidade.
— Ok, depois nós descobrimos o que aconteceu, vem aqui, deita um pouco comigo.
Mesmo contrariado ele deita ao meu lado, puxo ele para deitar no meu braço e ficamos em silêncio.
— Tem certeza que está bem... Sobre a sua mãe?
— Não muito, mas ela libertou o Wai, ela ficou ao lado dele no ataque e não se importava comigo, nunca se importou
— Mas ela era a sua mãe.
Ele sorri e beija o meu rosto.
— Dorme um pouco, você precisa descansar para se curar mais rápido.
Eu quero discordar, mas ele tem razão, se eu continuar me movendo vai demorar cada vez mais para eu me curar, então eu beijo a sua testa e fecho os olhos, me concentro nos seus sentimentos, primeiro a preocupação, ele me abraça e se aproxima mais, começa a relaxar até sobrar apenas o amor, deixo o seu amor me preencher e me acalmar até eu finalmente dormir.
Acordo de repente, levo um tempo pra perceber o que me acordou, é o Pran, ele está ansioso, o que é estranho, porque está dormindo nos meus braços.
— Pran?
Ele acorda assustado no momento em que o chamo, está olhando na minha direção, mas não parece estar me vendo, é como se estivesse olhando para o nada. Assim que os seus olhos conseguem focar em mim ele entra em pânico e me abraça.
—Pat!
— Ei, está tudo bem... Não sei com o que você está a sonhando, mas está tudo bem agora.
— Ah, Pat... Eu quase te perdi, eu não sei o que seria de mim se te perdesse.
Viro na sua direção e o abraço.
— Tudo bem, está tudo bem... Você sabe que essa não é a nossa sina, eu só vou morrer se você morrer, como isso não vai acontecer, nós vamos ficar bem.
Mesmo sabendo que eu estou certo ele não se acalma, fico curioso para saber sobre o seu sonho, mas tenho impressão que falar sobre isso ele vai piorar as coisas.
O Pran encosta a testa no meu peito e começa a chorar, o seu desespero me atinge e me arrasta para a escuridão, quando percebo estou chorando também.
Não sei quanto tempo ficamos assim, mas quando o Pran finalmente se acalma eu consigo pensar racionalmente e o bloqueio, me afasto para poder olhar pra ele limpando as suas lágrimas. Odeio ver ele assim, sinto tanta falta de como era a nossa vida, acordar e dormir com o seu sorriso, ficar horas sentado na beira do lago assistindo ele desenhar relaxado, o Pran dando aulas de etiqueta, matemática, ciências e outra infinidade de coisas para a nossa filha, ter ele seguro, protegido e feliz. Tenho a sensação de que a nossa vida nunca mais será assim, lembro vagamente de uma frase que o Pran disse uma vez quando estava falando sobre ser o futuro rei, era algo sobre a cabeça de quem usa a coroa ser pesada, eu não entendi direito e ele me explicou que o peso não está na coroa, mas tudo o que vem com ela, o reino, súditos, obrigações, leis, decisões...
— Vamos fugir?
Primeiro ele se surpreende, então dá aquele sorriso triste.
— E para onde nós vamos dessa vez, Pat?
— Para qualquer lugar, eu não me importo, se você estiver comigo será perfeito.
— Aqui será perfeito também?
Mesmo que esteja sorrindo eu consigo sentir o seu medo, será que ele acha que eu não serei feliz aqui?
— Não tenho certeza... Que tal me mostrar as vantagens de ser o seu consorte, meu rei?
Puxo ele pra cima de mim e o beijo, quando tenta se afastar eu coloco a mão por dentro da sua calça.
— Pat, nós não podemos.
Um rosnado sai da sua boca quando o aperto e beijo o seu pescoço, ele vai ficando cara vez mais excitado até não conseguir mais se afastar, então eu seguro a sua cabeça e trago até o meu pescoço.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Puro Sangue
FanficEm meio a uma fuga para salvar suas vidas, Pat, um lobisomem e Pran, um vampiro puro sangue, são forçados a confrontar suas próprias naturezas e limites quando uma conexão proibida é estabelecida entre eles. Envolvidos em uma relação intensa e peri...