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Fico sentindo o Pran entediado, queria estar com ele, provavelmente estaríamos andando pelas montanhas, assistindo, jogando ou transando. Eu sorrio e sinto quando batem com a vara em mim, suspiro e abro os olhos.
- Você nem está tentando se desconectar, Pat!
- Eu estou tentando, Paul!
- Não, não está, Pat.
- Eu não sei como fazer, a única coisa que vocês me disseram é que não podiam me ajudar porque a minha conexão é diferente, que porra isso significa?
Ele olha irritado e suspira.
- Quando eu estou conectado com o All, eu sinto ele, mas não sinto o que ele está sentindo, como posso explicar? Lembra quando você era familiar dele como era? Quando ele estava feliz você tinha a sensação de que ele estava feliz. - Eu aceno concordando. - A minha conexão com o All ainda é assim, a diferença é que eu consigo ficar conectado quando quiser, mesmo estando longe, mas eu não sinto o que ele está sentindo, não sou afetado pelos sentimentos dele como você.
- Vocês falam como se isso fosse uma coisa ruim.
- Não deve ser na maior parte do tempo, mas você ouviu o ancião, se você for afetado em um momento crítico isso pode levar vocês a morte.
- Porque o ancião não está aqui? Eu achei que ele ia me ensinar.
- Ele está tentando conseguir mais informações sobre a ligação de vocês.
- Não sei porque tanta confusão!
- Pat, vocês se ligaram antes de você marcar ele, até onde sabemos isso nunca aconteceu antes, você é afetado pelas suas emoções e tem a comunicação, eu levei quase quinze anos para aprender a me comunicar com muitas pessoas me ajudando. Você aprendeu em dias sozinho. Eu preciso me concentrar muito para mandar uma mensagem clara, você conversa com ele como se estivesse em um telefone e tem sei lá o que você sente quando ele bebe o seu sangue. Até para nós isso tudo é muito estranho, temos que entender com o que estamos lidando para poder ajudar vocês.
- E quando nós vamos buscar o Pran?
- Eu ainda não sei.
- Vocês vão, certo?
- Pat...
Ele faz uma cara de quem está pedindo desculpas e eu me levanto, olho em volta e começo a colocar as muitos poucas coisas na bolsa.
- Pat, o que você está fazendo?
- Cada minuto que eu estou perdendo o Pran está correndo perigo no castelo, se vocês não vão atrás dele eu não tenho mais nada pra fazer aqui.
Eu coloco uma camiseta na bolsa e ele segura o meu braço.
- E o que você vai fazer quando ele ficar com medo ou raiva e você nem conseguir pensar direito porque vocês estão conectados?
- Eu não me importo, se vou aprender sozinho aqui, eu aprendo enquanto vou até ele.
Eu coloco a bolsa nas costas e vou para a porta.
- Pat, espera!
- O que está acontecendo?
- All, conversa com ele.
Eu olho para trás e para o All que acabou de entrar no meu quarto.
- Não tem nada para conversar, se vocês não vão me ajudar a tirar o Pran de lá eu vou sozinho.
- Quem disse que nós não vamos?
Eu olho para o Paul mais uma vez.
- Vocês vão?
- Isso ainda está sendo discutido.
- Porque vocês tem medo de fazer um ataque ou porque tem medo da nossa conexão?
Ele não responde e sei que o que tem me incomodado desde que cheguei aqui não é só paranóia, as pessoas não falam comigo, eu tive que participar de várias reuniões com os anciãos repentindo várias vezes sobre como eu e o Pran nos conectamos, como eu sinto e falo com ele e várias perguntas íntimas que eu não teria respondido se soubesse que eles não iam me ajudar.
Eu olho para o All que faz parte do conselho dos anciãos.
- Ou você me conta o que está acontecendo ou eu vou embora!
Ele olha para o Paul por um longo momento.
- All, não!
- Ele tem direito de saber.
- Saber o que?
Ele suspira e aponta.
- Guarda essa bolsa  e vem comigo.
Eu jogo a bolsa no canto, ele sai, eu vou junto e depois de alguns metros o Paul se aproxima correndo.
Andamos até a montanha e eu acho que vamos sair do santuário, mas ao invés de ir para o túnel ele desvia e da a volta na montanha, vejo dois guardas e entre eles  uma pequena abertura, o All aponta e eu entro.
- Esse é o templo que a antiga xamã construiu quando veio para cá.
Eu olho em volta tem velas para todos os lados, mas nenhuma imagem, estátua ou coisa parecida, eu olho para o All sem entender, ele vai até a parede e assopra duas velas grandes que iluminam o local, quando tudo deveria ficar escuro a tinta na parede aparece, eu olho primeiro os desenhos, de um lado o lobo e do outro a vampira, assim como no túnel, entre eles parece ter um poema.

Nas sombras do passado, nasce uma história entrelaçada
Do amor proibido que uniu duas almas apaixonadas
Em novo amanhecer, renascidos irão se encontrar
A conexão ancestral, a maior que jamais se viu brotar

Na guerra que assolou, de laços desfeitos e ódio entrelaçado
Os amantes retornam, seus destinos reencontrados
Unidos pela força do amor, acabarão com a tempestade
Erguendo as mãos estendidas, unirão o que um dia se apartou na verdade.

A profecia se concretiza, na estrada do destino traçada
Dois amantes renascem, superando as forças da negrura passada
Juntos, com corações em chamas, põem fim à dor
Reconstruindo o que se partiu, no amor.

- Pran? Está me ouvindo?
Eu sinto alegria, alegria é para sim. Eu leio o que está na parede e ele fica curioso assim como eu.
- O que isso significa, All?
- Eu acho que você entendeu.
- Eu prefiro que você me explique.
Ele olha para a parede por um momento, então vira para mim.
- Nós achamos que vocês são as pessoas da profecia, passado e presente, vocês são o casal da história do túnel que reencarnou como profetizado e vão acabar com a guerra.
Eu dou um passo para trás e nego.
- All, até para um lobisomem profecias e reencarnações são impossíveis, você não pode acreditar nisso! E mesmo que essa loucura seja verdade, porque vocês acham que somos nós?
Ele aponta para a parede enquanto cita sem nem ao menos olhar como se tivesse decorado cada palavra.
- "A conexão ancestral, a maior que jamais se viu brotar."
Eu dou risada, mas até eu percebo que estou soando nervoso demais, dou mais um passo para trás querendo apenas fugir dessa loucura.
- Isso não significa nada, nós não temos nada a ver com isso.
- Pat, se acalma!
Sinto a curiosidade do Pran mais forte, ele deve querer saber o que está acontecendo.
- Eles acham que somos nós, Pran, que nós somos o casal da história do início da guerra que reencarnou.
Ele primeiro se diverte e depois fica preocupado, sei que ele está preocupado com a mesma coisa que eu, com essa história de acabar com a tempestade e por um fim a dor.
- Não somos nós, Pran isso é apenas loucura, não somos NÃO CHEGA PERTO DE MIM!
Eu me assusto quando os dois guardas se aproximam e o Pran fica ansioso porque eu estava me comunicando com ele quando gritei, eu fico ansioso, nós ficamos ansiosos. Eu tento dizer que está tudo bem, mas a ansiedade , preocupação e angústia dele já me consumiram, quando não aguento mais tudo a minha volta gira e eu apago.

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