42

73 16 5
                                    

Fico observando enquanto o Pran prepara o meu café da manhã, mesmo adorando esse momento ele não parece certo sem a nossa filha aqui. Batem na porta, faço um sinal para o Pran continuar o que está fazendo e vou atender.

— Hm... Bom dia... Senhor... Pat...

Isso é ridiculo, de uns dias para cá o chefe da guarda começou com isso, ele não sabe como se dirigir ao marido do rei, eu também não sei, porque não existe um protocolo real para isso, mas eu definitivamente não sou uma rainha, então pedi para ele simplesmente continuar me chamando de Pat, claro que ele não aceitou muito bem, então aqui estamos.

— Algum problema, Igor?

— Nós temos um prisioneiro.

Eu olho para trás, quando o Pran acena eu me afasto para ele poder entrar, o Pran coloca um prato com ovos e bacon na mesa e eu sento.

— O senhor... Majestade... Podemos providenciar alguém para preparar a sua refeição.

Isso é engraçado, porque todos nós sabemos que como o Pran é um vampiro eu sou a refeição.

— Não é necessário, gosto de cozinhar para o Pat.

Está na cara que o chefe da guarda acha isso muito errado, mas não discute.

— Me fale sobre o prisioneiro.

— Ele estava próximo da área onde acampamos na floresta, como o senhor imaginou o conselho ainda está nos procurando.

— E o interrogatório?

— Ele se recusa a colaborar, antes de tentar algo mais... Enérgico... Pensei que talvez a sua presença faça ele mudar de ideia.

Eu levanto na hora e olho para o Pran, ele me encara por um momento e sinto a sua determinação, nessas horas eu queria muito que o Pran fosse como qualquer outro membro da família real que apenas dá ordens e não se envolve.

— Pran...

— Eu vou ficar bem, Pat, você estará comigo o tempo todo.

Eu suspiro e ele vira para o chefe da guarda.

— Encontramos vocês em meia hora.

— Sim, senhor!

Ele se curva saindo e eu vou até o Pran.

— Você não precisa fazer isso, eu falo com ele, todo mundo sabe quem eu sou.

— Essas pessoas só vão me ver como líder se eu for um líder, Pat.

Eu suspiro e apenas o abraço, conheço ele bem o suficiente pra saber que essa conversa não vai chegar em lugar nenhum.

Nós saímos de casa e os guardas param o que estão fazendo para cumprimentar o Pran, a casa que conseguiram para nós tem um terreno grande, mas ele já não está sendo grande o bastante para acomodar todos, está na hora de atacar o santuário, é lá que vamos montar a nossa base de guerra. O que me faz lembrar que assim que o Pran estiver seguro no santuário eu tenho que me preparar para ir atrás do Wai, procurar a nossa filha será a desculpa perfeita, poderei sair e ficar dias longe até ele perceber que tem coisa errada, não posso arriscar que ele vá atrás de mim, a nossa sina depende do Pran se encontrando o Wai para acontecer, sem isso estaremos seguros, pelo menos ele estará.

Entramos em uma grande tenda que montaram, é tipo o quartel deles, nem preciso procurar, o cara está amarrado em uma cadeira no meio da tenda olhando para nós, ele parece assustado ao ver o Pran... Não, ele parece impressionado.

Eu ficaria mais confortável na forma de lobo, mas o Pran diz que as pessoas aqui só vão me ver como um familiar se eu continuar querendo proteger ele, não entendo porque eu não posso ser tudo, familiar, guardião, amigo, amante, marido... A mente das pessoas é complicada demais.

O Pran começa a caminhar na direção do prisioneiro e depois de alguns passos sinto tristeza, olho para o seu rosto por um momento, mas ele não parece triste, ainda sem me olhar sinto a sua tristeza aumentando, então eu entendo, ele está se comunicando comigo, triste para não, feliz para sim, mas ele não pode estar falando sério, não pode querer ir até lá sozinho. Penso por um momento então paro, todos ficam surpresos, mas o Pran fica alegre, eu estava certo ele está se comunicando atravéz dos sentimentos. Contra todos os meus instintos eu cruzo os braços e deixo ele se afastar, quando para na frente do prisioneiro a minha coluna treme com tanta força que tenho dificuldade para me controlar, o meu lobo está lutando para sair, ele gosta disso tanto quanto eu.

— Quem é você?

O rapaz, que não deve ter mais do que a idade do Isaac, não responde, mas abaixa a cabeça, acho que é a forma dele demonstrar respeito.

— Olhe para o rei quando ele se dirige a você!

Quase consigo sentir o peso das suas palavras e o espanto dos guardas a nossa volta, é a primeira vez que o Pran usa o título que lhe é de direito. O garoto levanta a cabeça e olha para o o Pran.

— Quem é você?

— Estevan, majestade.

— Quais eram as suas ordens?

O rapaz continua olhando para o Pran, mas dessa vez não responde. O Pran faz uma série de perguntas, mas como o rapaz não responde nenhuma delas ele começa a perder a paciência, quando está no limite ele abaixa ficando na altura do rosto do rapaz e fala com voz firme que parece penetrar em cada terminação nervosa do meu corpo.

— Responda!

Os guardas se assustam e se afastam, eu tento entender o que está acontecendo, mas o Pran está de costas para mim, quando decido ir até ele o rapaz começa a falar.

— Meu nome é Estevan, faço parte da guarda do santuário, estamos procurando pelo rei e pela loba, as ordens são capturar ambos vivos ou mortos.

Percebo que os guardas começam a cochichar, mas ainda não entendo o que está acontecendo, o Pran faz mais algumas perguntas sobre o que está acontecendo no santuário, mas o rapaz é só um soldado, apenas cumpre ordens. Quando o Pran se afasta o garoto desmaia.

— Saiam todos!

Eu olho para o chefe da guarda que deu a ordem, alguma coisa está acontecendo aqui, mas o que?

Os guardas vão saindo, cada um parece mais assustado que o outro, finalmente eu vou até o Pran e seguro a sua mão, viro ele pra mim, mas tem algo errado, o seu olhar está... Negro.

— Pran?

— Como o senhor fez aquilo?

Viro para o chefe da guarda que está perigosamente perto, entro na frente do Pran bloqueando o seu caminho.

— Como o senhor conseguiu fazer aquilo?

— Eu... Não sei.

— O senhor pode fazer com qualquer um?

— Eu não sei...

O Pran está ficando ansioso e com medo, quando as suas emoções começam a me dominar eu o bloqueio e tento focar na conversa.

— Fazer o que? O que aconteceu, Pran?

Ele não responde, mas os seus olhos continuam negros.

— Igor?

O chefe da guarda olha para o Pran e para mim.

— Ele acabou de usar a compulsão para obrigar o prisioneiro a falar.

— Isso é impossível, o controle mental só funciona em humanos.

— Então como ele fez isso aqui, agora, na frente de todos?

Eu não sei o que responder, porque de onde eu estava eu não pude ver o que estava acontecendo, mas os homens com certeza saíram daqui com medo e o Pran está com medo, não sei o que aconteceu, mas algo aconteceu. Olho para o rapaz desmaiado, será que o Pran fez ele ficar assim?

Tenho muitas dúvidas e uma única certeza, isso vai virar um problema, nunca em toda a história um vampiro foi capaz de controlar a mente de outro vampiro ou de um lobisomem.

Puro Sangue Onde histórias criam vida. Descubra agora